Procuro escrever um texto irônico e bem-humorado sobre a
aprovação da PEC 55, mas tem coisas das quais a gente não consegue rir nem de
nervosismo.
Queria dizer “bem feito, pobre de direita” para o meu primo
Bolsominion – que pensa que é rico só porque tem piscina – mas eu estaria
dizendo “bem feito” também para a minha sobrinha de quatro anos, que só viverá
– talvez, quem sabe – um país melhor aos vinte e quatro, e aos meus pais, que
talvez morram sem terem conseguido se aposentar. Estaria dizendo “bem feito”
para mim mesma e para todos os meus irmãos de pátria, absolutamente todos,
coxas, petralhas, anarcos e isentões.
A verdade é que o silêncio das panelas é ensurdecedor. É um
recado cruel, de tão claro:
“Nós, batedores de panelas, não damos a mínima para o
Brasil. Nós, assim como aqueles que nos representam, somos maus perdedores e,
portanto, não nos importa o que aconteça daqui pra frente, desde que sigamos
com esse sentimento de vitória, desde que deixem a salvo nossa ilusão de que
nós tiramos a presidenta desgraçada do lugar onde a democracia a colocou. Nós
preferimos nosso covarde silêncio ou essa insistência patética na ideia de que
a PEC 55 salvará o Brasil do estrago feito pelo partido que inventou a
corrupção – fora petê!!! – (sim, ainda há em insista, Silas Malafaia que o
diga) – à confissão impensável de que fomos massa de manobra para um golpe.
Assim como não suportamos perder, nós não suportamos a ideia
de que fomos enganados – e para fugir dessa ideia, somos capazes até mesmo de
proteger àqueles que nos enganaram.”
A segunda verdade é que não há nada que combine mais com a
direita antipetista do que esse silêncio covarde. Foi por covardia que eles
foram às ruas. Foi pelo medo que têm e sempre tiveram do dia em que o povo se
levantasse pelos seus direitos, do dia em que a favela descesse pra cobrar os
atrasados (chamam isso de ataque comunista), pelo medo – com o qual talvez
nunca consigam lidar – de perderem seus privilégios.
Nós, petralhas, comunas, maconheiros, abortistas,
boicotadores da pátria, desordeiros, vândalos – como bons defensores da
democracia, não queremos colocar palavras na boca da direita, como fui obrigada
a fazer neste texto.
Nós, queridos coxas, queremos ouvi-los.
Qual a sensação de ver o país se afundando no lodo do
ilegítimo que vocês (pensam que) puseram na presidência? Por que suas panelas
importadas estão em silêncio diante destes vinte anos de “gastos” congelados e
nem uma palavra sobre a taxação das grandes fortunas? O que, afinal, vocês têm
a dizer sobre a lista da Odebretch?
Nós queremos desesperadamente – talvez num ato de fraqueza –
acreditar que vocês fizeram o que fizeram por ignorância. Com todo esse
silêncio, fica parecendo que foi por puro ódio de classe.
*Autora do livro ‘As
Mulheres que Possuo’, poetisa
Via - Carcará
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