Existem certos discos que são consenso entre público e
crítica na história da música brasileira. Alucinação, quarto disco de Antônio
Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, ou simplesmente Belchior, é um
desses. Belchior fez de Alucinação sua obra-prima, um dos pilares para se
compreender nossa cultura a partir da música, e em fevereiro de 2016 o disco
completa 40 anos.
Cearense de Sobral, Belchior foi predestinado a ser um
artista. Filho de músicos (seu pai era flautista e sua mãe cantora de coral),
sobrinho de poetas, foi em grandes cantores da era do rádio que buscou
influências. Largar a faculdade de Medicina para apostar na carreira musical
foi um risco que, hoje, precisamos agradecer que ele tenha corrido.
Eterno defensor da liberdade de expressão, Belchior é um
ícone do cancioneiro nacional, seja por sua voz grave, seja por abordar temas
de relevância social ou por abordar como poucos seus conflitos internos e sua
busca por se encaixar na sociedade múltipla.
E a síntese de toda sua genialidade artística pode ser
conferida nas 10 faixas de Alucinação. Para o disco, Belchior chamou um time de
grandes músicos, entre eles o baixista Paulo César Barros, um dos fundadores da
Renato e Seus Blue Caps. Belchior soube como poucos definir toda a complexidade
de sua geração, retratando com lirismo o “absurdo” em ser um “rapaz
latino-americano”, como diz a faixa Apenas um Rapaz Latino-Americano, canção
que abre o disco.
Outras canções, como Velha Roupa Colorida e Como Nossos
Pais, entraram para nossa memória auditiva muito por conta das estonteantes
interpretações de Elis Regina. Mas, quando ouvidas na voz de seu compositor, é
possível notar que em cada sílaba, em cada estrofe, há uma dor latente, uma
busca pela autocompreensão. “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”,
canta o músico em Sujeito de Sorte. O lado A do LP encerrava com Como o Diabo
Gosta, que escondia em suas linhas irônicas a veia pulsante da rebeldia de
Belchior.
O lado B inicia com a homônima Alucinação e seu manifesto
pelas coisas reais. Não Leve Flores e A Palo Seco abrem o peito do cearense de
Sobral, como se ele entregasse a dualidade da própria vida em nossas mãos, num
exercício de expurgar demônios para renascer. Fotografia 3×4 e Antes do Fim
encerram o trabalho que, 40 anos depois, ainda é um dos registros mais ímpares
da música brasileira.
Sesc Pinheiros promove homenagem a Belchior
Os 40 anos de Alucinação não passarão em branco. O Sesc
Pinheiros será palco para o projeto Velha Roupa Colorida – Homenagem a
Belchior, no próximo dia 25 deste mês. No palco, Dani Black, Pélico, Hélio
Flanders (Vanguart) e Teago Oliveira (Maglore), nomes da nova cena musical
brasileira, interpretarão sucessos da carreira de Belchior. Fazem parte do
repertório Medo de Avião, Divina Comédia Humana e Como Nossos Pais.
O objetivo da iniciativa é revisitar os clássicos produzidos
pelo músico cearense. “Na maioria das músicas que serão tocadas no evento, os
arranjos são bem semelhantes aos originais, mas alguns foram alterados, para da
uma linguagem mais atual ao projeto”, afirmou Xuxa Levy, maestro responsável
pela direção artística e musical do evento.
Ouça o disco Alucinação:
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