Depois de 30 anos, a jornalista Miriam Dutra, que foi uma
das principais profissionais da televisão brasileira, resolveu quebrar o
silêncio em relação a seu caso extraconjugal com o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso.
A entrevista é reveladora. Ao mesmo tempo em que qualifica
FHC como uma pessoa sorrateira e manipuladora, Miriam também aponta os
bastidores da blindagem midiática em torno do caso. Enquanto a Globo decidiu
exilá-la em Portugal, Veja publicou uma entrevista em que ela própria contava
uma mentira para proteger FHC: a de que seu filho era fruto do relacionamento
com um biólogo.
Antes da disputa presidencial de 1994, quando FHC se elegeu
presidente pela primeira vez, vários veículos de comunicação investigaram a
história do filho extraconjugal do então candidato tucano. Mas nada foi
publicado.
Miriam só decidiu falar após ter saído oficialmente da Rede
Globo, onde já não aparecia nem por meio de buscas no site, numa entrevista a
uma revista internacional, focada no Brasil.
No depoimento, ela conta à repórter Fernanda Sampaio, da
revista BrazilcomZ, os bastidores de seu relacionamento com o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso e as consequências da gravidez de Tomas Dutra
Schimidt, que seria filho presumido de FHC – uma história sempre abafada pela
imprensa brasileira.
Miriam conheceu Fernando Henrique quando o tucano era
suplente de Franco Montoro, que assumiu o governo de São Paulo (83-87). Ela
comenta o fatídico episódio em que FHC se sentou na cadeira de prefeito de São
Paulo antes do resultado das eleições: "Ele se acha o máximo". Depois
de anos, tentou romper o relacionamento. "Ele não deixava romper... ele me
perseguia... quando eu ia sozinha nos lugares, ele ia atrás".
Miriam também disse que ficou 'assustada' quando o político
começou a fazer de tudo para assumir o poder. "Ele mudou muito, me
assustou". Disse que "era apaixonada por ele" e que o
ex-presidente dizia que ela era para ele um pé na realidade. "Ele era
muito... como é que eu vou falar... da aristocracia de São Paulo... sabe?
Irreal".
Sobre a gravidez de Tomas, em janeiro de 1990, afirma que
quis ter o filho. "Eu tive uma relação de seis anos, fiquei grávida,
decidi manter a gravidez, então é meu. Eu sou uma mulher, eu que decido isso!
Se eles não querem, eles que se cuidem". Ela nega uma história relatada
pelo jornalista Palmério Dória, autor do livro Privataria Tucana, de que teria
sido chamada de 'rameira' pelo então senador, quando teria ido ao seu gabinete
comunicar a gravidez.
"Eu nunca fui ao gabinete dele! Ele dormia na minha
casa, eu não precisava disso", rebateu. "Como ele tinha histórias com
secretárias, assistentes, com milhões de jornalistas, ele [Palmério] deve ter
me confundido com outra pessoa", provocou a jornalista. "Até agora,
tudo o que foi publicado sobre mim foi mentira", ressaltou Miriam.
Ao falar do famoso exame de DNA, que teria dado resultado
negativo, ela diz que foi o próprio FHC quem divulgou: "Ele divulgou! E
isso me prejudicou muito. É o estilo dele: fazer tudo sorrateiramente e posar
de bom moço". Ela desmente a história de que Fernando Henrique teria
decidido assumir o garoto mesmo não sendo seu filho. "O Tomas nunca teve
pai, nunca foi reconhecido", afirma. "Se falarem... provem! Porque eu
nunca vi nenhum documento. Essa história de que veio aqui em Madri é tudo
mentira!".
Questionada sobre o episódio em que FHC teria ido até aos
Estados Unidos se encontrar com Tomas para um segundo teste, ela responde:
"Eu acho que é mentira, porque eu só vi um documento, mas todo mundo pode
enganar com um DNA". Miriam diz ainda que nunca proibiu que se fizesse o
exame de DNA. "Ao contrário, eu sempre incentivei que fizesse, que tivesse
contato, essa coisa toda". Outra importante revelação feita pela jornalista
é a de que FHC, segundo ela, a forçou dar uma entrevista à revista Veja:
"Me obrigou a dar uma entrevista pra Veja dizendo que o pai do meu filho
era um biólogo. Foi Fernando Henrique com Mário Sérgio Conde (Mário Sérgio
Conti, ex-diretor da revista, hoje na Globonews)".
"Exílio" da Globo
Ao contrário do que já foi divulgado, a jornalista assegura
que foi ela quem decidiu sair do Brasil. "Eu decidi sair sozinha do
Brasil, ninguém me mandou pra fora, isso é muito importante ficar bem claro,
ninguém me mandou embora!". Ela descreve o cenário na Globo à época:
"me colocaram abaixo de qualquer coisa". "Aquele 'Globo memória'
eles não me colocaram. Eu fui a primeira mulher que fiz o Bom Dia Brasil, eles
não me colocaram, não colocaram sequer o meu nome. Tentaram apagar a minha
imagem, porque não interessava pra eles".
"Esse exílio foi muito pesado e todo mundo achando que
era um exílio dourado, que eu estava super bem. Eu passei muita dificuldade,
muita solidão, focada nos meus filhos, e tentando muito sempre trabalhar e
pedindo pra Globo, pelo amor de Deus pra fazer alguma coisa, e eu era sempre
cortada, sempre cortada", conta.
O prejuízo na carreira é a coisa que mais lhe dói nessa
história, admite à repórter. "Agora meu trabalho sempre foi tão importante
pra mim, isso me dói. Ter lutado tanto e de repente, por um homem completamente
manipulador e por ter trabalhado em um grupo de comunicação tão... eu queria
usar um verbo, mas não me permito usar esse verbo... eu fui prejudicada".
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