Tal como aconteceu na ditadura, quando os maiores jornais do
país em tiragem assumiram o papel de porta-vozes do DOI-Codi, publicando, sem
questionar, notícias de "atropelamento" e "fuga" de
militantes da esquerda que na verdade tinham sido mortos em tortura,
colaborando, assim, para ocultar os crimes e desinformar seus leitores, os
mesmos jornais estão assumindo, neste momento, o papel de porta-vozes da
"Lava Jato" publicando, sem questionar, ordens de prisão dessa nova
"República do Galeão" baseadas em "talvez", "é
provável", "há uma probabilidade", como se fossem acusações
provadas, colaborando, assim, com o clima de inquisição que pretende arrancar
do poder uma presidente eleita pelo voto direto e de conduta ilibada e lançar o
país de volta ao passado.
O "talvez" indica 50% de possibilidade de culpa e
50% de inocência. No entanto, na manchete do jornal vira 100% de culpa.
Embora jornalistas não sejam médicos, e não façam o
juramento de Hipócrates que implica em se sacrificar para salvar vidas, eles
assumem, desde a primeira vez em que pisam numa redação o compromisso implícito
de se sacrificar para salvar a verdade e jamais abrir mão do direito e da
obrigação de questionar.
O que estamos assistindo hoje são episódios escabrosos que
dão vergonha a jornalistas. Uma ordem de prisão expedida contra o jornalista e
publicitário João Santana, justificada pela "probabilidade" de ele
haver cometido crime, em vez de ser contestada e questionada, porque
"probabilidade" não é "certeza" e ninguém era preso nesse
país por "probabilidade", a não ser na ditadura, é aplaudida, é
comemorada, e já é meio caminho andado para de novo acender o rastilho de
pólvora que o jornal espera explodir o Palácio do Planalto.
Não há dúvida que aqueles mesmos grandes jornais – grandes
em tiragem, não em posição editorial – que colaboraram com a ditadura estão
agora colaborando com a "Lava Jato" e renunciando ao seu papel de
tudo fiscalizar, inclusive a "Lava Jato", desinformando seus
leitores, os mesmos que "tentam proteger" das mentiras do governo.
Tal como em relação à ditadura, talvez somente daqui a
muitos anos vamos saber quantos "atropelamentos" eram mortes na
tortura. E será tarde demais.
* Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como
Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze
livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do
Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos"
e "Dragonfly" (lançamento setembro 2016).
Via - Brasil 247
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