Ameaçado por processo de cassação, deputado ignora a pressão
e reafirma permanência no cargo mais de uma vez por mês, desde março de 2015
A permanência do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na
presidência da Câmara começou a ser questionada a partir de março de 2015.
Desde então, em pelo menos 13 oportunidades, ele disse que não renunciaria “em
qualquer circunstância”.
Cunha foi eleito presidente da Câmara em fevereiro de 2015,
com mandato previsto até fevereiro de 2017. Já no mês seguinte à posse, teve
seu nome listado entre os investigados pela Lava Jato.
Nesse período, ele foi denunciado por dois crimes e
tornou-se alvo de um processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara sob
acusação de mentir aos colegas a respeito de contas na Suíça ligadas ao seu
nome.
A pergunta sobre sua renúncia ao comando da Câmara voltou a
ser feita ao peemedebista na quarta-feira (3), depois de o ministro do Supremo
Tribunal Federal Teori Zavascki afirmar que pretende analisar a denúncia contra
ele por suposto recebimento de propina fruto do esquema de desvios na
Petrobras.
Depois de avaliar se abre ou não ação penal contra o
deputado, os ministros do STF vão então analisar o pedido de afastamento feito
pela Procuradoria-Geral da República.
Cunha nega ter recebido dinheiro e se diz alvo de
“perseguição” por parte do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que,
segundo ele, escolhe a quem investigar. Há inquéritos contra outros 37 parlamentares
suspeitos de ligação com a Lava Jato.
Enquanto não há uma determinação judicial que o obrigue a
deixar a presidência da Câmara, ele diz que fica:
“Meus argumentos são muito fortes. Mas eu não vou entrar
nesse mérito. Eu vou continuar em qualquer circunstância [na presidência da
Câmara]”
Eduardo Cunha
3 de fevereiro 2016
Veja os outros momentos em que Eduardo Cunha negou ter
intenção de renunciar ou de se afastar
PF NA CASA DE CUNHA
Policiais federais fizeram buscas em residências e
escritório do deputado em 15 de dezembro, como parte das investigações da Lava
Jato.
“Não tem a menor hipótese de eu renunciar. Sou absolutamente
inocente. Fui escolhido para ser investigado. Eu sou um desafeto do governo”
Eduardo Cunha
15 de dezembro de 2015
CONTAS SECRETAS NA SUÍÇA
As manifestações de Cunha foram mais recorrentes em outubro
de 2015, mês em que foram tornados públicos documentos sobre a existência de
contas bancárias atribuídas ao deputado e não declaradas no Brasil. Os
documentos, encaminhados às autoridades brasileiras pelo Ministério Público da
Suíça, motivaram reações de parlamentares, que levaram o caso ao Conselho de
Ética.
“Eu acho graça de alguns que vêm aqui falar da minha renúncia,
mas não pedem da presidente Dilma. Se for pelo mesmo parâmetro, você teria
muitas e iguais motivações”
Eduardo Cunha
23 de outubro, em entrevista ao “Estado de S. Paulo”
“Esqueçam, não vou renunciar. Aqueles que desejam a minha
saída têm de esperar o fim do mandato para escolher outro”
Eduardo Cunha
19 de outubro, quando foram revelados novos documentos sobre
contas atribuídas a ele na Suíça, pelo Ministério Público do país europeu
“Em relação a qualquer pedido de afastamento ou de renúncia
por parte do presidente da Câmara, ele informa que foi eleito pela maioria
absoluta dos deputados, em primeiro turno, para cumprir um mandato de dois anos
e irá cumpri-lo, respeitando a posição de qualquer um que pense diferente, mas
afirmando categoricamente que não tem intenção de se afastar nem de renunciar”
Eduardo Cunha
10 de outubro, em nota divulgada após lideranças de partidos
da oposição terem pedido a saída de Cunha do cargo
“Esquece, não vou renunciar. Eu já fui réu. Um ano depois,
fui inocentado por unanimidade”
Eduardo Cunha
9 de outubro, em entrevista à “Folha de S.Paulo”
“Não há a menor possibilidade de renunciar, (de pedir)
licença ou qualquer coisa do gênero”
Eduardo Cunha
7 de outubro, após informações enviadas pelo Ministério
Público da Suíça virem à tona
PROCURADORIA APRESENTA DENÚNCIA
A Procuradoria-Geral da República apresentou denúncia contra
Cunha em agosto do ano passado, sob acusação dos crimes de corrupção e lavagem
de dinheiro. O deputado nega.
“Ninguém vai me constranger. Não há renúncia. Renúncia não
faz parte do meu vocabulário. E não o fará. Covardia também não faz parte.
Estou absolutamente tranquilo e sereno”
21 de agosto
dia seguinte à PGR apresentar denúncia contra Cunha pelos
crimes de lavagem de dinheiro e corrupção, na Lava Jato
DEPOIMENTO DE LOBISTA
Em julho de 2015, o consultor da Toyo Setal Júlio Camargo,
delator na Lava Jato, afirmou à Justiça que Eduardo Cunha pediu a ele US$ 5
milhões em propinas em um contrato de compras de navios-sonda. O conteúdo da
delação poderia reforçar as denúncias contra ele, em análise pela PGR.
“A eventual denúncia, se ocorrer, terá de ser apreciada pelo
plenário do STF. Não cogito qualquer afastamento”
Eduardo Cunha
25 de julho
CUNHA NA LISTA DE JANOT
Em 6 de março de 2015, o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, apresentou a primeira relação de políticos investigados por
suspeitas de envolvimento com os esquemas de corrupção na Petrobras. Cunha é um
deles.
“É óbvio que eu não me afastarei. Não tem nada ali [na
denúncia] que eu não conseguisse explicar. (...) Eu não vejo razão para isso
[para renunciar]”
Eduardo Cunha
17 de março, em entrevista ao programa Roda Viva, na TV
Cultura
“Não cogito nada disso [renunciar] e não o farei”
Eduardo Cunha
10 de março, em entrevista ao “El País”
“Óbvio que não farei isso [me afastar da presidência da
Câmara]. Fui líder do PMDB com uma denúncia, fui julgado e absolvido, fui
presidente da Comissão de Constituição e Justiça quando tive um inquérito.
Todos são iguais no exercício do mandato. Todos são qualificados enquanto
estiverem lá. E, finalmente, fui eleito com 267 votos [para a presidência da
Câmara]”
Eduardo Cunha
8 de março, em entrevista coletiva
“A chance de pedir afastamento da presidência da Câmara é
zero. Já sofri inquérito e denúncia e sempre fui inocentado”
Eduardo Cunha
Via Jornal GGN
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