Por que as grandes empresas jornalistas fazem tanta força
para derrubar governos populares?
O público em geral não tem muita clareza sobre as razões.
Muita gente acha que se trata de uma questão de antipatia, simplesmente.
Eles não são da minha turma, então fora com eles.
Isto é apenas parte da resposta, e a parte menos. O
verdadeiro motivo é que um governo amigo escancara as portas do dinheiro
público para as empresas jornalísticas.
Como elas são visceralmente dependentes disso, pode ser a
diferença entre a vida e a morte, a bancarrota e a prosperidade.
Não é apenas o dinheiro copioso que deriva da publicidade
federal. (Só a Globo arrecada cerca de 500 milhões de reais ao ano com a
propaganda de estatais como Petrobras, Banco do Brasil e Caixa.)
São também os financiamentos a juros maternais de bancos
públicos, como o BNDES.
A Globo construiu uma supergráfica, na Era FHC, com recursos
do BNH. Uma foto registra este empréstimo espúrio. Nela, FHC e Roberto Marinho
seguram um exemplar do Globo tirado na nova gráfica.
Num mundo menos imperfeito, a Globo bancaria o
empreendimento. É assim que funciona no capitalismo real. Mas no Brasil o
interesse privado de grandes corporações, como as de mídia, se confunde
maliciosamente com o interesse público.
Ainda em seus anos de ouro, a Editora Abril captou um
investimento no BNDES para aprimorar a tecnologia de seu Sistema de
Assinaturas. Poucos dias atrás, soube-se que a família Civita colocou 450
milhões de reais de seu patrimônio pessoal para manter de pé a Abril.
Dinheiro há e havia. Por que então recursos públicos? Não há
nenhuma justificativa racional. É somente parte de uma aliança incestuosa entre
o poder público e megacompanhias.
Já foi pior, é bom ressalvar. Nos tempos dos bancos
estaduais, também estes eram assaltados. O Projac, da Globo, foi erguido com
dinheiro do Banerj, o extinto banco do Rio de Janeiro.
O pagamento incluiu, e eis aí outro clássico deste tipo de
mamata, anúncios. Eu recebo dinheiro e pago com publicidade: não há negócio
melhor, e nem mais indecente, do que este. (Na época, o Pasquim escreveu que
Roberto Marinho era o maior ladrão de bancos do Brasil, por causa do caso
Projac-Banerj.)
Estamos todos assistindo à agonia da Abril. O mercado a está
matando: a internet tornou obsoleto seu grande produto, as revistas.
Testemunhamos os extremos a que chegou a Abril para eleger
Aécio. Por trás disso não estava só a raiva ancestral de Lula e do PT. Estava a
própria sobrevivência.
Aécio no poder significaria uma descarga formidável de
recursos públicos na empresa dos Civitas. As revistas seriam tomadas por
publicidade das estatais. Encomendas de produtos da empresa jorrariam —
assinaturas de revistas, compras de livros didáticos e o que mais fosse. E
financiamentos de extrema generosidade seriam abertos de bancos estatais.
Em menor escala, é o que acontece nos governos estaduais. O
governo Alckmin, por exemplo, é pródigo na entrega de recursos do contribuinte
paulista para as empresas jornalísticas.
Aécio, quando governador de Minas, fez o mesmo para a mídia
amiga— incluídas aí rádios de sua própria família, uma coisa abjeta.
Mas o dinheiro de um governo estadual é quase nada comparado
ao dinheiro do governo federal.
As facilidades não se esgotam nas moedas em si. Numa
presidência de gente da turma, você sabe que jamais prosperarão medidas que
ponham em risco os privilégios. Regulamentação da mídia? Nem pensar.
Você pode dizer: mas também nos governos petistas as mamatas
não foram suprimidas, e o dinheiro da publicidade financiou as empresas
jornalísticas que tentaram e tentam derrubá-los.
É certo isso. Mas é certo também que a qualquer momento pode
mudar a atitude complacente de um governo que você não controla.
É daí que nasce o medo. E do medo de perder regalias deriva
o que estamos observando hoje: um esforço desesperado para derrubar, mais uma
vez, um governo eleito.
Só um choque de capitalismo verdadeiro na imprensa — com o
qual se extirpasse a dependência do dinheiro público — porá fim a este quadro
infame.
Paulo Nogueira
No DCM
Via – Aposentado Invocado
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