Por Marcelo Auler
As fotos oficias da presidente Dilma Rousseff foram
retiradas dos
gabinetes como se ela já não fosse mais presidente.
Diante da
reclamação de servidores, elas retornaram às paredes.
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No primeiro dia do governo interino de Michel Temer, os
novos administradores do Palácio do Planalto agiram de forma semelhante aos
antigos feitores dos escravos, libertados pela princesa Isabel, em um mesmo 13
de maio, há 128 anos: retaliaram em cima de servidores que nada têm com as
disputas políticas, alguns deles lotados ali desde o governo de Fernando
Henrique Cardoso. As vagas foram abertas para acomodar os apadrinhados da nova
administração.
Os funcionários do Planalto foram dispensados, de maneira
indireta, muitos deles sem saber como voltam para seus estados de origem. No
terceiro andar, onde fica o gabinete da Presidência da República, só entre
secretárias e assessores foram mais de 30 atingidos. A eles somam-se ainda
contínuos. Como o gabinete de Dilma Rousseff se espalhava por outros andares, o
número dos dispensados é ainda maior.
Para complementar o clima de “limpeza” eles também foram
rápidos em retirar das salas as fotos da presidente Dilma, esquecendo que ela
não foi deposta, apenas afastada e continua presidente. Diante da reação de
funcionários que colocaram a boca no trombone e vazaram a informação para
alguns jornalistas, os quadros acabaram recolocados.
A “limpeza” nos gabinetes do Planalto foi vista pelos
atingidos como retaliação e falta de confiança. “ficaram com medo de espiões”, comentou
uma servidora que saiu com Dilma. “Querem transformar o Planalto em um cabide
de emprego”, resumiu outro assessor direto da presidente. “Nem o Lula, quando
chegou, demitiu servidores que estavam lá há muitos anos, que serviram no
governo de Fernando Henrique Cardoso”, explicou um ex-assessor que acompanhou o
início do governo Lula, em 2003.
O clima de pavor foi criado por um dos assessores da Casa
Civil, agora comandado por Eliseu Padilha, braço direito do presidente
interino. Como todas as chefias ligadas ao gabinete da presidente Dilma
exoneraram-se na quarta-feira e deixaram o Planalto com ela, quinta-feira de
manhã, não havia quem demitisse os servidores. O assessor da Casa Civil
comunicou a um deles e o encarregou de espalhar a decisão. A ordem foi clara:
Todos os servidores estavam dispensados e não precisavam
mais aparecer. Os funcionários de outros órgãos público, devem se apresentar
nos seus locais de origem. Os contratados estavam demitidos.
Na ausência das chefias imediatas surgiu o problema dos
servidores que vieram de outros estados. Pela legislação, eles terão direito às
passagens e ao pagamento da mudança. Mas, sem as chefias imediatas, não havia
quem assinasse as autorizações. Isto só aumentou o pavor. Foi um belo começo de
gestão, de um governo que precisa ganhar legitimidade. Justo no dia das
comemorações pela libertação dos escravos.
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