Caro midiota, notei que você não compareceu à festa
promovida pela Fiesp na Avenida Paulista, em São Paulo, na longa noite de 11 de
abril. Poucos dos seus amigos foram.
No Brasileiros
Caro midiota.
Notei que você não compareceu à festa promovida pela Fiesp
na Avenida Paulista, em São Paulo, na longa noite de 11 de abril. Poucos dos
seus amigos foram.
Sei também que você apenas acompanhou pela televisão a
votação da admissibilidade do impeachment da presidente da República no Senado.
Mas acredito que você está feliz, aliviado, com a certeza de
que nesta sexta-feira, 13, o Brasil renasceu. E que a partir de segunda-feira
estará em campo o governo Tabajara de Michel Temer: todos seus pobrema se
acabaram-se.
Só que não.
Como bom midiota que é, você foi ludibriado.
Não, não fique ofendido. Há pessoas que você admira muito e
que também acham isso.
Veja, por exemplo, o que diz seu velho herói, o ex-ministro
do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa: “o processo do impeachment de
Dilma Rousseff não tem legitimidade”.
Ele entende que você e os demais que embarcaram nessa canoa
do golpe foram manipulados, como “um bando de boçais”.
Você certamente preferia que, por uma mágica, junto com
Dilma Rousseff fossem mandados para fora do poder não apenas Eduardo Cunha, mas
também Michel Temer e outros políticos nos quais não confia.
Mas isso é uma ilusão. É uma troca impossível, como diria o
filósofo francês Jean Baudrillard.
Veja bem: você embarcou nessa porque acreditou naquela
enxurrada de manchetes que ocupa a imprensa tradicional desde o final de 2014,
e enfiou nessa cabecinha que o Brasil tinha afundado.
Mesmo assim, bombardeada pelo noticiário negativo, a
presidente foi reeleita por 54 milhões de brasileiros. Então, o projeto do
impeachment foi acelerado, e você saiu por aí de verde e amarelo.
Já neste domingo, você vai notar uma mudança profunda no
espírito do tempo. É como alguns chamam a agenda pública proposta pela mídia
hegemônica: ela diz se você deve ficar esperançoso ou deprimido, se deve
comprar um carro novo ou enfiar o dinheiro embaixo do colchão.
Pois bem: a pauta do fim de semana pode ser retratada como
um amanhecer luminoso que deixa para trás uma noite sombria.
A linguagem jornalística é assim primária, explícita, porque
seu objetivo é convencer os midiotas, pela manipulação e espetacularização de
certos fatos, sempre em favor de determinada ideologia.
Já dizia Baudrillard: “Assim como a economia política é um
gigantesco maquinário para fabricação de valor, para fabricação de signos da
riqueza mas não da própria riqueza, assim todo o sistema da informação e da
mídia é uma gigantesca máquina produtora do acontecimento como signo, como
valor permutável no mercado universal da ideologia, do star-system, da
catástrofe, etc., em suma, produtora do não-acontecimento” (A troca impossível,
Nova Fronteira, 2002, p. 136).
Você é mero espectador, e só se torna protagonista quando
interessa a esse maquinário.
Nas próximas semanas, a mídia tradicional vai dizer que as
perspectivas da economia estão melhorando, e os indicadores serão manipulados
ao contrário do que têm sido nos anos recentes.
Tudo para fazer você engolir o governo Tabajara, enquanto se
tenta apressar a votação do pedido de impeachment e, ao mesmo tempo, criar uma
jurisprudência para tirar da disputa eleitoral de 2018 aquele ex-presidente que
você odeia com todo o seu fígado.
Eles não querem mais você nas ruas. Você já foi usado.
* Luciano Martins Costa - Jornalista, mestre em Comunicação, com
formação em gestão de qualidade e liderança e especialização em
sustentabilidade, além de autor de vários livros
Nenhum comentário:
Postar um comentário