Metalúrgicos protestaram contra o impeachment da presidenta
Dilma, na rodovia Anchieta, na manhã de ontem
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Vitor Nuzzi, da RBA
São Bernardo do Campo (SP) – "Hoje é um dia triste para
os movimentos sociais", dizia, do carro de som, a secretária de Formação
da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM) da CUT, Michele Marques,
enquanto uma passeata com algumas centenas de trabalhadores saía da sede do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, no ABC paulista, em direção
à rodovia Anchieta, na manhã de hoje (11). Era um ato da Frente ABC contra o
impeachment, já quase uma manifestação de protesto e alerta em relação ao
governo prestes a se instalar, talvez amanhã, com o afastamento da presidenta
Dilma Rousseff. "Muitos vão começar a entender amanhã", prosseguiu
Michele. "Vão sentir saudade dos tempos em que o governo ouvia os
trabalhadores."
A expectativa era quanto à votação, no Senado, do processo
de impeachment, tido como praticamente consumado. Os discursos alertavam para
as dificuldades que virão, mas já apontavam para a resistência. "Se fosse
pela rua, esse golpe hoje no Senado não aconteceria", afirmou o presidente
do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques. "É na rua que os
movimentos progressistas têm virado o jogo."
Quem possivelmente assumirá o poder a partir de amanhã (12)
não resolverá os problemas sociais, da economia, do combate à corrupção. Pelo
contrário, lembra Rafael. "Dali só vai sair um projeto perverso contra a
sociedade, os trabalhadores, a juventude, para comemoração da Fiesp, da
Febraban, das famílias que comandam a comunicação brasileira." Um projeto,
acrescenta, "que não passaria na eleição".
"Qual o interesse da Fiesp, da CNI, no impeachment da
presidenta Dilma?", emendou o deputado estadual Teonilio Barba (PT),
dizendo que entidades empresariais da indústria e do comércio gastaram mais de
R$ 500 milhões durante esse processo de derrubada do governo. "No governo
Lula e no primeiro mandato de Dilma tentaram fazer reforma da Previdência e
trabalhista, não conseguiram", afirmou, ao lembrar que agora a Câmara já
aprovou um projeto que libera a terceirização – o texto está agora no mesmo
Senado que vota hoje o impeachment. Ao se referir ao programa do PMDB, Barba
disse tratar-se "de uma ponte para o futuro da elite política brasileira,
para os empresários". Para os trabalhadores, "é um abismo".
"Eles não representam a juventude, os
trabalhadores", disse Morena Selerges, do Levante Popular da Juventude.
"Queremos mais universidades federais, mais ProUni."
A concentração começou às 6h, diante da sede do Sindicato
dos Metalúrgicos. De lá saiu a passeata, uma hora depois, rumo à Anchieta, sem
interromper o trânsito na rodovia que liga a capital ao litoral sul. Às 7h50,
os manifestantes ocuparam uma lateral, para um ato que duraria mais uma hora.
"Talvez hoje percamos uma pequena batalha de uma guerra instalada no país",
disse o presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM-CUT), Luiz
Carlos da Silva Dias, o Luizão. "Não podemos permitir que essa onda de
retrocesso cresça e nos afogue", reforçou o presidente do Sindicato dos
Bancários do ABC, Belmiro Moreira.
"Ontem, mostramos o tamanho da resistência que eles vão
enfrentar", afirmou o presidente da CNM-CUT, Paulo Cayres, chamando o
governador Geraldo Alckmin de "merendão", referência ao escândalo de
desvio de recursos da merenda escolar no estado, e Michel Temer de
"trairão". A entidade organiza uma semana de mobilizações pelo país,
contra a ameaça de retirada de direitos. "Tem trabalhador que ainda não
acordou. Querem vender o país, desregulamentar a CLT. Não reconhecemos
golpistas. O espaço de troca de poder é nas eleições, é na democracia."
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