O governo do interino é natimorto e o culpado é ele mesmo, o
mordomo. Muito se ouviu falar das virtudes de Temer como articulador político.
Ao contrário da titular, ele sabia compor, conversar, negociar etc — enfim,
tudo aquilo que ela não sabia.
No DCM
Delfim Netto, para ficar num exemplo eloquente, cravou que o
interino “é um dos últimos políticos do país capazes de fazer tricô com quatro
agulhas”.
Para ele, “Temer é treinado e sabe que só o político pode
salvar o economista. Assim, poderá fazer alguns ajustes durante dois anos para
convencer a sociedade de que o equilíbrio voltará em 3 ou 4 anos. Se aproveitar
essa chance e conseguir fazer isso, poderá se transformar em um estadista.”
Delfim, como de hábito, estava redondamente enganado. O
ex-vice não consegue se proteger de sua própria incompetência.
Em menos de uma semana no poder, o ministério — com sete
investigados na Lava Jato, sendo que Romero Jucá é réu — bate cabeça
enlouquecidamente.
Alexandre de Moraes, que levou seu currículo de espancador
de estudantes de São Paulo para Brasilia, muito à vontade questionou a lista
tríplice para a escolha do cargo de procurador geral da república e jurou que
“direitos não são absolutos”.
Temer o desautorizou em algumas horas, dizendo em nota que
quem escolhe o procurador é ele. Dois dias depois foi o ministro da Saúde,
Ricardo Barros, que teve de voltar atrás em suas declarações sobre o desmonte
do SUS.
Cada derrapada dos ministros vem acompanhada, nas redes,
pela folha corrida de cada um: as cacetadas de Moraes nos alunos, as doações de
um dono de plano de saúde para Barros. Enquanto isso, Serra, o “gigante bobo”
segundo o bom achado de uma deputada venezuelana, tem achaques com os
“bolivarianos”.
É natural que a mídia estrangeira não considere normal esse
horror cotidiano. A quadrilha toda é indefensável e a responsabilidade óbvia é
do chefe. O tal “tricô com quatro agulhas” a que Delfim se referiu pode,
eventualmente, se aplicar a Marcela Temer, bela, recatada e do lar.
Mas nem aí o interino acerta. Em sua entrevista ao
Fantástico, ele prometeu que, “se vier a ocupar a presidência, ela virá para
desenvolver toda a área social. Vai trabalhar intensamente”.
A repórter Sonia Bridi, obsequiosa, pergunta se ela tem
formação. “Tem. Ela é advogada, né, e tem muita preocupação com as questões sociais”,
garante o velhote.
É mentira. Marcela é bacharel, mas nunca advogou na vida.
Formou-se em Direito por uma faculdade particular de segunda linha e, segundo
ela mesma, não prestou o exame da OAB porque foi cuidar do filho Michelzinho.
Na pressa, Temer está dando a ela a função clássica da
primeira dama dos anos 50. Rosane Collor, lembre-se, brilhou na LBA.
A única área social que preocupa Marcela é, provavelmente, a
da entrada de serviço dos empregados de sua casa — um delas, em São Paulo,
aliás, não tem tido o IPTU pago.
É necessária muita cara de pau para tentar entubar goela
abaixo dos brasileiros mais essa cascata. Todo o wishful thinking dos cúmplices
e aliados de Temer não será capaz de transformá-lo em algo que ele não é, nunca
foi e nunca será. Temer diminui a cada dia e a cada dia em que ele e seus
capangas aparecem praticando suas barbaridades cresce a necessidade de novas
eleições.
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