O descaso do novo ministro da saúde, Ricardo Barros (PP-PR),
com os milhões de brasileiros atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
inflamou movimentos em defesa da saúde pública reunidos nesta quarta-feira (18)
na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Haverá mobilização nacional
para denunciar o golpe contra o sistema, o que significa acabar com a
assistência à saúde gratuita oferecida a todos os brasileiros, especialmente
aos mais pobres.
“Rever o tamanho do SUS”, “Repactuar as obrigações do
Estado”, “não podemos garantir esses direitos através do Estado”. As
declarações dadas nesta terça-feira (17) pelo ministro de Temer revelam a
intenção de aniquilar conquistas de 30 anos. Considerando que o maior problema
do SUS é o subfinanciamento, cortar os poucos recursos é decretar o fim do
sistema.
As palavras de Ricardo Barros fizeram dele inimigo número 1
dos defensores do direito à saúde universal, gratuita, integral, com igualdade,
pública e com controle social. Pressionado, ele tentou corrigir as declarações,
sem eco nos movimentos, que crescem em focos instantâneos de revolta, em amplos
setores, a cada ação dizimadora do governo golpista.
Nesta quinta-feira (19) os movimentos devem se manifestar
durante encontro no centro de exposições Center Norte, em São Paulo, em que
está prevista a presença do ministro. O Senado Federal convocou Barros para dar
esclarecimentos naquela casa sobre as declarações relacionadas ao SUS. Nesta
quarta-feira (18), o ministro cancelou participação em audiência na Câmara dos
Deputados. Na ocasião, movimentos sociais protestavam contra os planos da pasta
para o SUS.
Ataque à constituição de 88
“Não me surpreendeu (declarações de Barros). Assustou. Assim
tão rápido. É a ruptura de várias questões contratadas em 88. Não é só o
mandato rompido de um presidente da república. É também o esfacelamento da
constituição de 88”, declarou Ronaldo Ferreira dos Santos, presidente do
Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Ele participou do ato na Alesp que foi uma iniciativa
conjunta do CNS, Fórum Suprapartidário em Defesa do SUS e da Seguridade Social,
Plenárias Municipal e Estadual de Saúde (SP) e Conselhos Municipal e Estadual
de Saúde (SP).
Diálogo com o povo
Na opinião de Ronald, a mobilização e a capacidade política
do movimento social dialogar com o povo é que fortalecerá a defesa do SUS.
“Precisamos falar com o povo nos diferentes espaços. Vai ser uma oportunidade
ímpar de dialogar com o povo a partir da realidade concreta dele que é a
assistência social, a saúde e previdência”, defendeu o dirigente.
Estender a luta para o povo é fundamental para o conselheiro
de saúde da cidade de São Paulo, Francisco Freitas. Recém-eleito coordenador da
comissão política de saúde do conselho da capital paulista, ele lembrou que o
movimento para desmoralizar o SUS e depois desmantelar vai crescer.
“Há um movimento que já vinha e que busca a privatização da
saúde. É preciso estender a luta para o povo nos bairros, sindicatos, feiras. É
preciso também fazer com que os movimentos sociais se unifiquem para combater
essa política nefasta”, defendeu Freitas.
Ministro dos planos de saúde
Ricardo Barros é velho conhecido dos planos de saúde, que
financiaram as campanhas dele para deputado. Não é de se estranhar, portanto,
as declarações do ministro. “Quanto mais gente puder ter planos, melhor, porque
vai ter atendimento patrocinado por eles mesmos, o que alivia o custo do
governo em sustentar essa questão”, disse o ministro.
Para a conselheira de saúde e dirigente estadual da Central
Única dos Trabalhadores (CUT), Ana Rosa, as declarações do ministro são uma
resposta à perda dos contratos pelas operadoras de planos de saúde em 2016,
quando 600 mil pessoas deixaram os planos de saúde.
“O SUS é o plano de saúde de todo brasileiro e estrangeiro
que esteja no Brasil. Temos que ir às ruas protestar e trazer a força do povo e
dos trabalhadores para evitar retrocessos”, enfatizou.
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