Imagine uma família composta por um homem, uma mulher e três
crianças. Nesta família o marido acorda cedo e sua esposa já está de pé
preparando o café da manhã, ele se alimenta para mais um cansativo dia de
trabalho. A mulher prepara as crianças para a escola e cuida dos afazeres
domésticos enquanto espera a volta do “chefe” da família. Esta cena poderia
fazer parte de uma narrativa do século passado, mas é visão contemporânea do
presidenciável Aécio Neves.
Por Mariana Serafini, do Vermelho
As donas de casa e os trabalhadores, assim é a sociedade
onde Aécio Neves vive. Ele não poupou machismo ao se referir às mulheres
durante os dois debates que aconteceram recentemente em função do segundo turno
das eleições, um na TV Bandeirantes outro na SBT.
Para o candidato à presidência, as mulheres que cuidam da
casa não são também trabalhadoras. E ele ignora o fato de que hoje muitas
mulheres não apenas cuidam da casa, como também conquistaram seu espaço no
mercado de trabalho e junto com seu companheiro, ou companheira, contribuem
diretamente para o sustento da família.
O papel da mulher na sociedade de Aécio Neves é anacrônico,
já não contempla a realidade brasileira. De acordo com a secretária nacional da
Mulher do PCdoB, Liège Rocha, hoje as mulheres chefiam um terço das famílias
brasileiras. “nós somos protagonistas da nossa história, atuamos em várias
áreas, temos dupla jornada, mas adentramos os espaços públicos, tratar a mulher
brasileira desta forma é uma atitude machista”, afirmou.
O mais alto cargo eletivo do país é ocupado por uma mulher,
apesar de ainda termos pouca representatividade feminina na politica e em
outros espaços públicos, os estereótipos já foram superados. Mas nem a maior
autoridade do país é respeitada pelo candidato que não hesita em chamar
constantemente a presidenta da República de “mentirosa”, “leviana” e
“ignorante” durante os debates. Ainda no primeiro turno, Luciana Genro também
foi alvo, quando Aécio levantou o dedo em riste ao insultá-la durante uma
participação em um debate. “Você não levante o dedo pra mim”, reagiu Luciana.
Liège classifica a agressividade de Aécio nos debates como
uma atitude claramente machista que mostra um candidato despreparado, incapaz
de apresentar e defender suas propostas sem tentar intimidar a adversária. A
secretária reforça ainda que toda forma de agressão, seja o desrespeito dele ao
se dirigir à presidenta Dilma Rousseff, é uma violência contra a mulher e deve
ser combatida.
Questionado por Dilma sobre que políticas pretende implantar
para combater a violência contra a Mulher e sobre a Lei Maria da Penha, Aécio
desconversou. Não soube responder se, entre os órgãos federais que pretende
extinguir, a Secretaria de Política para Mulheres estará na lista de cortes.
Para a ex-ministra dos Direitos Humanos e atual deputada,
Maria do Rosário, a falta de posicionamento de Aécio sobre as políticas para as
mulheres é “gravíssima”, além disso, ele não apresenta nenhuma proposta
concreta para a luta das mulheres brasileiras. “Foi o maior atestado de que ele
não tem nenhum compromisso com os direitos de mais de 52% da população
brasileira, as mulheres”, afirma.
O ex-presidente Lula, durante um ato de campanha em Manaus
criticou a postura de Aécio Neves nos debates e afirmou que ele está “sendo
ignorante com Dilma”.
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