Executivos, advogados, médicos etc., pessoas que se
consideram "bem informadas" pela mídia tradicional estão, pasmem, com
medo da "invasão bolivariana": comunistas escondidos nos telhados, prontos
para atacar a noite e articulados pelo Foro de São Paulo
Luis Nassif, GGN
Converso com um advogado, de um grande escritório, liberal e de cabeça aberta. E me surpreendo com seus receios: o de que a vitória de Dilma Rousseff possa ser o início de uma república bolivariana no país.
Por e-mail, um ex-executivo de banco me escreve manifestando
o mesmo receio.
São pessoas supostamente bem informadas pelos meios convencionais
de informação: os velhos jornais e revistas do eixo Rio-São Paulo.
Esclareço que os problemas do PT são os mesmos dos partidos
convencionais: acomodamento trazido pelo poder, apego aos cargos públicos,
burocratização, fechamento às manifestações da opinião pública.
Nada que o PSDB e mais partidos também não pratiquem em
estados onde são poder.
Digo a ambos que o papel dos partidos é o de civilizar a
disputa política, abrigando os diversos segmentos sociais dentro do esquadro
partidário. Onde não acontece esse trabalho, a disputa política torna-se
selvagem. Hoje em dia, a maioria dos movimentos sociais ganhou uma
institucionalização, porque representados na esfera partidária. E o PT teve
papel relevante nessa ação civilizatória.
Seu defeito de hoje foi ter fechado as portas aos novos
movimentos e burocratizado sua estrutura. Mas esses movimentos buscaram o Rede,
de Marina – infelizmente servindo de escada para as ambições menores de Marina,
que abriu mão de criar um partido pelo canto de sereia de um cargo em um futuro
governo Aécio.
Do lado do governo Dilma, houve o mesmo fenômeno do PT, do
abandono dos conselhos de participação e outras formas de interação com a
sociedade civil – incluindo os conselhos empresariais, que se manifestavam no
Conselhão (o Conselho de Desenvolvimento Social) e nos conselhos reunidos em
torno da ABDI (Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial).
Então o que assusta meus interlocutores? O advogado explica
que foi a reação de Dilma às ofensas do Itaquerão, quando generalizou e
atribuiu as grosserias à elite branca. E também as manifestações populares,
durante sua campanha.
Seria o mesmo que considerar que a adesão a Aécio do
submundo dos preconceitos e da intolerância transformaria sua vitória em uma
Noite de São Bartolomeu,
Na verdade, já era hora de ambos os partidos se
desvencilharem desse radicalismo que só se manifesta na retórica dos palanques.
Por trás desses medos recíprocos, há um enorme déficit
informacional, devido ao proselitismo cada vez maior do jornalismo atual e à
incompetência cada vez maior dos partidos. A insistência em se falar de
venezuelização do país mostra que o único ponto de convergência com a Venezuela
é o nível de ambas as mídias.
Os tropeços da política econômica de Dilma não podem ser
comparados ao populismo desbragado do chavismo. A busca de relações comerciais
com a América do Sul, ou com os BRICs, se prende a uma estratégia geopolítica –
que pode e deve ser criticada enquanto estratégia, não como uma tendência
bolivariana.
O país cheio de comunistas escondidos no telhado das casas,
prontos a atacar de noite, articulados pelo Foro São Paulo é uma criação
midiática, pirações da sociedade do espetáculo, roteiros novelizados, assim
como foi o fantasma da guerra fria que gerou o macartismo nos anos 50 nos
Estados Unidos ou a Guerra dos Mundos, de Orson Wells.
O Teror do Nordeste
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