Imerso em uma piscina de bílis e ódio, o candidato tucano Aécio Neves chamou a sua
adversária Dilma Rousseff, no debate do SBT, de “mentirosa” e “leviana”. Foi
agressivo e desrespeitoso como não se tinha visto até ali.
Ele não precisava disso. O ex-governador de Minas já fora
repreendido abertamente por Luciana Genro (PSOL) quando lhe levantou o dedo,
durante um debate.
"Por que Aécio nunca fez isso contra adversários
homens?", perguntou o PT.
Aécio tem contra si uma denúncia séria de agressão contra mulher,
reportada pelo jornalista Juca Kfouri em 2009. Ele “deu um empurrão e um tapa
em sua acompanhante no domingo passado, numa festa da Calvin Klein, no HOTEL
Fasano, no Rio”, escreveu Kfouri na época.
O candidato até ameaçou processar por injúria, calúnia e
difamação. Mas o jornalista sustentou a informação e Aécio deixou por isso
mesmo.
Por que será?
Logo, um notório espancador de mulheres, o ator Dado
Dolabella, animou-se a externar seu apoio a Aécio. Chato! Dolabella, de parcos
dotes artísticos, é mais famoso por ter distribuído bofetadas públicas em Luana
Piovani e em uma camareira, agressões pelas quais foi condenado, enquadrado na
Lei Maria da Penha.
Os marqueteiros de Aécio já deviam saber que o ódio é um
aliado mortal em eleições democráticas. Assusta. É repulsivo. Na história, só
ganhou eleições em países à beira do precipício da ruptura institucional.
Todos se lembram da abertura da Copa do Mundo, estádio
novinho em folha, quando o Brasil deu ao planeta a prova cabal da qualidade da
elite que tem. Do setor ultra-vip do estádio, especificamente do camarote do
Itaú (e eu nem insinuo que seja mais do que uma infeliz coincidência que se
tenha tratado do mesmo banco da dona Neca Setúbal, a coordenadora do programa
de governo de Marina Silva), elevou-se o grito “Ei, Dilma! Vai tomar no cu!”
Foram milhares de vozes cujos donos ou tinham sido
convidados por megacorporações para estar lá, ou eram felizes pagantes dos
cobiçados ingressos Fifa (na porta, cambistas ofereciam os últimos tickets por
até R$ 2.000).
A violência e vulgaridade do insulto, transmitido para
bilhões de aficionados do futebol espalhados pelas centenas de países que
receberam o sinal direto da Arena Corinthians, em Itaquera, zona leste de São
Paulo, durou poucos minutos — mas infinitos minutos para Dilma, que, estóica,
suportou com o semblante fechado a humilhação diante do mundo.
O resultado? Ela saiu transformada do episódio. Voltou a ser
a vítima com aura heroica. Os seus agressores, ao contrário, depois do grito,
vestiram-se com a máscara repulsiva e covarde dos linchadores.
Linchadores de uma mulher, é bom salientar. Isso nunca pega
bem.
José Serra, em 2010, todos se lembram, além de forjar uma
agressão por bolinha de papel, pôs-se a denunciar o suposto abortismo de Dilma,
ele, cuja própria mulher havia se submetido a uma interrupção voluntária da
gestação. Tanta encenação, percebeu-se logo, foi só para agradar ao raivoso e
descontrolado pastor Silas Malafaia. De novo, assustou.
Aécio vai na mesma toada.
Soltar cachorros hidrófobos gera vítimas e a sensação de que
todos estão ameaçados. Ninguém — a não ser os loucos — quer isso para o país.
Eis porque geram repugnância as manifestações de intolerância explicitas como
as que atingiram o ator e escritor Gregório Duvivier, quando foi atacado aos
berros em um restaurante de comida natural só porque cometeu o “erro” de
escrever em sua coluna de jornal que votará em Dilma.
É atirar no próprio pé o PSDB se associar ao ideário do
Clube Militar, a pretexto de derrubar o PT. Até a grife de óculos escuros
Rayban sofreu durante anos o impacto negativo nas vendas, por associação como
essa… Porque os Rayban eram os preferidos dos torturadores. A turma do porão da
Ditadura aparecia pouco, mas quando o fazia, vinha sempre escondida detrás
daquelas lentes que em outros países representam o glamour da aventura. A minha
geração baniu o Rayban escuro.
A impressão que dá é que o PSDB, por falta de algo melhor
para dizer (além de que manterá o Bolsa-Família), precisa insuflar o ódio para
criar factóides de imprensa. É a única coisa que explica que Fernando Henrique
Cardoso afie os dentes dos advogados da supremacia do Sul e Sudeste, ao
atribuir à desinformação do povo nordestino a votação acachapante no PT,
durante o primeiro turno das eleições presidenciais.
“O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser
os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos
informados”, disse FHC, desdenhoso. O resultado foi uma horda de doidos ter-se
considerado autorizada pelo mestre a externar os mais odiosos preconceitos. A
rede social está coalhada de manifestações dos baixos apetites incitados.
Como resultado óbvio de tal convergência insultuosa Aécio
viu crescer e se multiplicar a sua taxa de rejeição. Afastou novos eleitores e
conseguiu assim estancar o crescimento eleitoral que poderia levá-lo a vencer o
PT. Agora, de novo, é Dilma quem detém a iniciativa.
A semana promete!
Via Blog do Saraiva
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