Balanço parcial do dia nacional de luta contra a
terceirização, realizado nesta quarta-feira (15), indica que esta mobilização
só tende a crescer no país. Ocorreram paralisações parciais, passeatas e atos
públicos em 23 Estados e no Distrito Federal. Várias categorias aderiram aos
protestos, convocados pela CUT, CTB, NCST, Conlutas e Intersindical e com o
apoio de inúmeros movimentos sociais – como o MST, o MTST e a UNE. A jornada de
luta acabou repercutindo na Câmara Federal, que adiou a votação das emendas ao
projeto de lei (PL-4330) que amplia a barbárie do trabalho terceirizado. A TV
Globo, que investiu pesado na divulgação das marchas golpistas do domingo
passado (12), não deu maior destaque à mobilização dos trabalhadores. O “Jornal
Nacional” concedeu apenas quatro minutos e 26 segundos para o protesto e ainda
manipulou a cobertura.
Segundo a Agência Brasil, em matéria postada no final da
noite, houve paralisações no transporte público em pelo menos cinco capitais:
Porto Alegre, Florianópolis, Brasília, Salvador e Recife. Outras categorias
também cruzaram os braços parcialmente e houve dezenas de marchas e atos
públicos no país. Em São Paulo, “manifestantes fizeram um ato político em
frente à sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), onde
queimaram bonecos representando o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o deputado
federal Paulinho da Força (SD-SP) e o presidente da Câmara, deputado Eduardo
Cunha (PMDB-RJ)”. Incidentes com a polícia foram registrados apenas em Vitória
(ES). “Durante o tumulto [que linguagem num veículo de comunicação pública], a
PM utilizou bombas de efeito moral para tentar dispersar os participantes do
protesto”.
Já a Rede Brasil Atual, veículo ligado ao sindicalismo,
registra o êxito do dia nacional de luta e destaca a massiva passeata realizada
em São Paulo. “Milhares de manifestantes deixam o Largo da Batata, na zona
oeste da capital, neste início de noite, em direção à Avenida Paulista, em
frente à sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), dando
continuidade ao ato de protesto contra o Projeto de Lei 4.330, que amplia a
terceirização do trabalho no país. No local, vão encontrar outros movimentos e
trabalhadores que protestam desde o início da tarde e também com os professores
estaduais, cuja greve que completou um mês na segunda-feira e tem sido ignorada
pelo governo do estado e pela mídia. Segundo os organizadores, a marcha reúne
aproximadamente 40 mil pessoas, e não há policiamento ostensivo”.
Um dos oradores da marcha foi o coordenador nacional do
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos. Além de criticar
a “elite preconceituosa” que trama golpes, ele também cobrou uma posição mais
firme da presidenta da República. “Se o PL for aprovado, a Dilma tem o dever de
vetá-lo”. Já o presidente da CUT, Vagner Freitas, destacou a urgência da
unidade das esquerdas para derrotar a ofensiva da direita e mandou um recado
para o lobista Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados: “Você não
manda no Brasil. Vamos fazer uma greve nacional se for preciso”. O mesmo tom,
propondo a radicalização contra a ofensiva de retirada de direitos dos
trabalhadores, foi dado por lideranças da CTB, Intersindical, Conlutas, MST e
UNE, entre outras entidades sindicais e movimentos populares.
A mobilização acabou “assustando” os deputados e pode até
brecar a tramitação do projeto de lei, segundo artigo de André Barrocal no site
da revista CartaCapital. “Ondas surgidas na internet e nas ruas podem provocar
uma reviravolta no futuro da Lei da Terceirização (PL 4330/04). Com receio da
reação contrária à tentativa de relativizar os direitos trabalhistas, o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspendeu a sessão de
terça-feira, 14, na qual estavam sendo votados pontos específicos do projeto.
Pelo clima em Brasília, nada garante que será concluída nem se pode antecipar
qual seria o texto final resultante de eventual votação. Cunha decidiu adiar a
sessão após apelos de líderes partidários. Da tribuna, alguns deles admitiram
preocupação com a repercussão negativa da lei”. Eles temem o carimbo de
“traidores” do trabalhador!
Ainda segundo a matéria, “dos 28 partidos representados na
Câmara, só três ficaram oficialmente contra o projeto na semana passada. O PT
foi um deles, ao lado de PCdoB e PSOL. Um dos únicos seis, entre 61
peemedebistas, a votar contra o projeto, João Arruda (PR), disse a CartaCapital
que a onda antiterceirização começou a se formar no fim da semana passada.
Segundo ele, em redes sociais e em conversas no Paraná, sua terra natal, foi
possível perceber um crescente sentimento contra o projeto. Suspensa a sessão,
Arruda apontou à reportagem um panfleto revelador do clima entre os deputados.
Intitula-se ‘Ladrões de Direitos’ e exibe a foto de seis ‘Procurados’ pelo
‘crime’ de ‘roubo de direitos’. ‘Essa lei rasga a carteira assinada. É muito
ruim para o trabalhador’, afirmou Arruda”.
“Entusiasta do projeto e dono do gabinete onde muitos
dispositivos do texto foram redigidos, Paulo Pereira da Silva, do
Solidariedade, também apelou a Cunha: ‘A prudência nos recomenda suspender a
sessão’. Uma posição sintomática. Paulinho é correligionário do relator do
projeto, Arthur Maia (BA), e ex-presidente da Força Sindical, uma das duas
centrais apoiadoras da lei. Até a semana passada, das seis centrais sindicais
reconhecidas pelo Ministério do Trabalho, havia três de cada lado. CUT, CTB e
NCST, que juntas representam 50% dos empregados sindicalizados, eram contra.
Força, UGT e CSB, a representar 28%, a favor. Nesta terça-feira 14, porém, a
UGT debandou. Em nota oficial, o presidente da entidade, Ricardo Patah, disse
que ‘da forma como o texto está, ele precariza o trabalho’”.
Todas estas mobilizações e reviravoltas, porém, não
mereceram uma cobertura mais imparcial da mídia privada. Na prática, os
jornalões, revistonas e as emissoras de rádio e televisão são favoráveis à
terceirização – até como forma de precarizar ainda mais o trabalho dos
jornalistas. Em editoriais, Folha, Estadão e O Globo defenderam de forma
explícita a imediata aprovação do projeto de lei 4330. Este rabo preso com os
patrões explica o pouco destaque dado pela imprensa ao dia nacional de
mobilização. Além de dar poucos minutos para o protesto, o “Jornal Nacional” da
TV Globo ainda teve o descaramento de ouvir três pessoas favoráveis à
terceirização – inclusive o famigerado José Pastore, um arqui-inimigo da CLT e
famoso consultor dos programas eleitorais do PSDB.
Via Blog do Miro
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