Dia Nacional de Paralisação no Paraná é marcado por repúdio à repressão contra professores e servidores em abril, pela qual Richa gastou quase R$ 1 milhão em armamentos e pagamentos a soldados
Curitiba – Milhares de professores e servidores públicos paranaenses
em greve marcaram na sexta-feira o aniversário de um mês do Massacre do Centro
Cívico. Eles denunciaram a truculência do governo e a falta de diálogo com o
governador Beto Richa (PSDB) e rebatizaram simbolicamente a Praça Nossa Senhora
de Salete, em frente à Assembleia, como "Praça 29 de Abril: Menos Bala,
Mais Giz". O ato coincidiu com a apresentação de documentos da PM ao
Ministério Público de Contas do Paraná de acordo com os quais o Estado gastou
quase R$ 1 milhão somente em munições e diárias pagas a policiais que
participaram da repressão de um mês atrás.
Em 29 de abril, a polícia militar partiu com violência e
força desproporcional para cima de milhares de manifestantes contrários ao
trâmite pela Assembleia Legislativa do projeto de lei por meio do qual o
governador tucano conseguiu retirar do Tesouro e transferir para o fundo de
previdência bancado por servidores da ativa o ônus pelo desembolso de mais de
R$ 120 milhões por mês para o pagamento de aposentadorias e pensões.
Durante quase duas horas ininterruptas de ataque, mais de
200 pessoas foram feridas por balas de borracha e/ou intoxicadas por gás
lacrimogêneo e spray de pimenta – grande parte das vítimas foi atingida na
região da face, o que para muitos indica que a PM teria assumido o risco de
provocar lesões irreversíveis, como a cegueira, em caso de impacto diretamente
sobre os olhos.
Para marcar o primeiro mês do evento, os professores
concentraram-se pela manhã na Praça 19 de Dezembro, popularmente conhecida como
Praça do Homem Nu, e seguiram em caminhada até o Centro Cívico de Curitiba.
Durante o percurso, do alto de um caminhão de som, o
secretário de comunicação da APP Sindicato, Luiz Fernando Rodrigues, avisou que
os professores e demais servidores paranaenses não permitirão que a data caia
no esquecimento e que voltarão ao Centro Cívico todos os anos no 29 de abril
para atos de preservação da memória de lutas pelo respeito aos direitos,
trabalhistas e humanos.
Enquanto isso, documentos apresentados pela PM paranaense ao
Ministério Público de Contas revelaram que o governo gastou quase R$ 1 milhão
somente na repressão aos servidores. O ofício detalha que a ação repressiva
contou com a participação de 1.661 policiais, sendo que a metade foi deslocada
do interior para a capital. Isto significa que 15% de todo o contingente da PM
paranaense estavam concentrados em volta da Assembleia Legislativa naquele dia.
O ato de sexta-feira reuniu 10 mil pessoas, segundo a APP
Sindicato (3 mil segundo a prefeitura e a polícia). O trauma provocado pela
repressão era evidente. Muitos dos feridos em 29 de abril estiveram presentes e
a passeata seguiu em tom grave pelo percurso de pouco mais de um quilômetro
entre a Praça do Homem Nu e o Centro Cívico.
"Foi tudo muito injusto", desabafou à RBA o
funcionário de escola Alderico José Dana Júnior, ao lembrar da truculência de
um mês atrás. Ele foi ferido na perna durante o massacre.
Greve continua
Os manifestantes chegaram ao Centro Cívico, onde situam-se
as sedes dos três poderes do estado do Paraná, pouco depois do meio-dia. Ali
realizaram um ato no qual denunciaram o autoritarismo do governador tucano Beto
Richa e prometeram voltar a protestar na segunda-feira (3) na tentativa de
dissuadir os deputados estaduais de aprovarem uma confusa proposta de reajuste
apresentada esta semana pelo executivo.
Pela proposta, o governo compromete-se a pagar este ano
3,45% de reajuste em três parcelas de 1,15% cada e, "se houver
condições", antecipar de maio para janeiro de 2016 a data-base dos
servidores e reajustar os salários em 8,5%. Os servidores exigiam 8,17% de
reajuste em parcela única ainda este mês.
As categorias em greve rejeitaram a proposta, qualificada
por Richa como "irrecusável", e mantiveram as paralisações. Os
professores das escolas públicas do Estado protagonizam no momento a segunda
greve no ano. Somadas, as duas paralisações já superam os 60 dias.
Ao longo de quase duas horas de repressão, os policiais
dispararam contra professores, alunos, servidores e outros manifestantes um
total de 2.323 balas de aço revestidas por borracha, 1.094 granadas de
"efeito moral" e 300 bombas de gás lacrimogêneo de longo alcance.
Segundo o ofício, as despesas com a operação totalizaram R$
948 mil, somadas as munições empregadas na ação e as diárias extras pagas aos
policiais deslocados do interior para a capital - muitos dos quais foram
obrigados a devolver ao governo o dinheiro destinado a sua alimentação. É
possível, porém, que os gastos tenham sido ainda maiores. Ainda não há
informações, por exemplo, sobre outros gastos decorrentes ao massacre, entre eles
o atendimento às vítimas da violência policial.
Via – Rede Brasil Atual
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