O que leva um governo estadual com alto índice de votos e
popularidade, vencedor das eleições de outubro no primeiro turno, contra
candidatos de renome, sacrificar a própria imagem para aprovar medidas de
arrocho a qualquer preço?
O que leva um político jovem, quadro promissor de um PSDB
inflado de velhos caciques – um partido sem juventude e sem braço organizativo
na sociedade civil – a orientar que policiais tomassem a iniciativa de avançar
sobre os professores, sem qualquer sentido, em um estado já marcado pela
repressão brutal dos governos de Álvaro Dias e Jaime Lerner?
O que explica esse suicídio político do governador Beto
Richa, que antes tentou matar também a democracia do estado em todas as suas
esferas? Nas entrevistas que concedeu antes do massacre dos professores, Richa
aventava que a greve dos professores e do funcionalismo estadual era uma greve
política, que contava com elementos dos Black Blocks.
O mais curioso é o fato de a greve, organizada pelo
sindicato de professores, ter conquistado inclusive a simpatia de setores
médios, intelectuais, artistas, entre outros segmentos, justamente pelo alto
grau de organização, disciplina e postura pacífica.
Mesmo com tantos confrontos desde fevereiro, os professores
nunca atiraram uma pedra, em que pese toda a provocação que sofreram nas
madrugadas nos dois dias de acampamento nesta semana.
As redes sociais agora dão conta de narrar em detalhes, nos
seus vários fragmentos, cada bala de borracha sem sentido dirigida no rosto dos
manifestantes; mordidas de cães no deputado Rasca Rodrigues e no repórter
cinematográfico da Band, Luiz Carlos de Jesus. Há pelo menos 213 feridos.
O que explica tamanha falta de lógica? O que explica um
governador conseguir ser farsa e tragédia ao mesmo tempo?
A primeira resposta certamente é o imperativo do ajuste
econômico, mas usado como argumento pelo governo para encobrir problemas de
gestão e um estado quebrado.
No entanto, a História ensina que democracia e modelo
econômico não precisam caminhar juntos. Richa resolveu aprovar alterações na
Previdência dos servidores sem o diálogo suficiente com a sociedade e com as
categorias. A conclusão imediata é que não precisava ter detonado os
manifestantes.
O problema é que, na política, o governo Richa não tem
comando e vive crises em diversas frentes. Na onda conservadora que se
apresenta hoje, sua gestão parece mais com o deputado federal da bancada da
bala, Francisco Francischini, secretário de Segurança do Paraná, como lembra o
jornalista Jose Maschio.
A crise política se expressa, por exemplo, pelas
investigações do Gaeco de Londrina que chegam ao primo de Richa, Luiz Abe
Antoun, compadre e “mentor político” do governador, com acusações de corrupção
na Receita Estadual.
Além disso, no contexto estadual, surgiram pelo menos três
casos sérios e recentes de ameaças e intimidações contra repórteres
investigativos. O mais recente envolve a ameaça de assassinato contra o
produtor que investigava o caso de Londrina. O governo Richa e o secretário de
Segurança não deram ainda resposta satisfatória para impedir a perseguição.
Arrocho salarial, limitações à democracia em diferentes
frentes, inclusive comprovadas com denúncias. Agora, uma brutal violência
contra os professores. Está na hora de unificação dos setores populares e
progressistas, com apoio nacional, para medidas firmes e unitárias em
retaliação ao governo tucano.
Via Altamiro Borges
Nenhum comentário:
Postar um comentário