Ao pensar em Cumbia e Reggaeton dificilmente associamos
estes ritos a letras engajadas em questões sociais. Mas algumas mulheres latino-americanas
romperam com este padrão e mostram que música “callejera” (das ruas) e
revolução estão mais próximas do que se imagina. “É uma revolução que você pode
dançar”, diz a apresentação da cantora argentina La Yegros.
Aparentemente 2016 foi o ano delas, Ana Tijoux, Rebeca Lane,
La Yegros e Miss Bolívia lançaram discos cujo tema principal é a defesa de
direitos iguais para as mulheres e as questões sociais de seus países. Outra
característica comum é o carimbo das raízes e do folclore em meio aos ritmos
populares.
A franco-chilena Ana Tijoux começou no rap, ainda na França,
onde nasceu durante o exílio de seus pais, na ditadura de Augusto Pinochet, e
consolidou sua carreira no Chile. Depois de uma profunda pesquisa sobre as
raízes da música chilena, ela traz em seu novo disco, Caraveritas (2016),
instrumentos folclóricos que deixam as canções mais suaves, diferente das
batidas de rap e reggaeton de antes.
Autora de hits como Antipatriarca e Somos el Sur e vencedora
de quatro edições do Gramy Latino, Ana Tijoux surge repaginada, mais voltada à
cultura latino-americana, mas sem deixar de lado a luta social.
No outro extremo do continente, a Guatemala, está a
socióloga Rebeca Lane. Conhecida como Miss Pane Lane, ela se dedica à empoderar
mulheres através da música de protesto no país considerado um dos mais
perigosos para ser mulher no continente. Integrante do Coletivo Última Dose e
fundadora do Somos Guerreiras, propõe dar visibilidade ao trabalho de mulheres
da América Central através do Hip Hop.
Depois de uma parceria com a argentina Miss Bolivia na canção Libre, Atrevida y Loca que ganhou as pistas de todo o continente, Rebeca Lane lançou seu disco de maior repercussão internacional, Alma Mestiza, em agosto do ano passado. Além da música, ela publica sua poesia em revistas literárias da Guatemala, Porto Rico e México. Como socióloga, investiga a cultura juvenil e tribos urbanas de seu país.
Mariana Yegros, a La Yegros, vive entre Buenos Aires e
França porque seu segundo disco, Magnetismo (2016), já conquistou a Europa.
Denominada a “Rainha da Nu Cumbia”, ela “corta” a “cumbia masculina” com uma
atitude leve e vibrante, forjada nos climas tropicais do nordeste da Argentina,
na fronteira com o Brasil.
Assim como as demais cantoras, mescla instrumentos folclóricos e temas sociais ao ritmo mais “callejero” de seu país. Afinal, a cumbia está para a Argentina como funk está para o Brasil.
A também argentina Miss Bolívia começou o ano com um disco
diferente de tudo que já havia lançado. Com um pé no pop e outro na cumbia, ela
traz uma obra completamente nova, mais madura e engajada.
No disco Pantera, Miss Bolívia apresenta canções dedicadas a denunciar a violência contra a mulher, a ditadura Argentina e outras questões sociais latentes em seu país. Tem até uma aproximação mais enfática com o Brasil, a segunda faixa é uma versão dançante da nossa Maria Maria, de Milton Nascimento, regravada também por Mercedes Sosa.
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