Quem já recebeu alguma mensagem via whatsapp informando que
o governo vai confiscar a caderneta de poupança ou que o Congresso vai votar um
projeto que acaba com o 13º salário? Outro conteúdo falso que “viralizou” no
Facebook nos últimos tempos se refere ao auxílio-reclusão, que seria pago
diretamente ao criminoso, ou ainda que o benefício se multiplicava conforme o
número de filhos do preso ou da presa.
A viralização do senso comum nas redes sociais |
Por Michel Carvalho da Silva*, no Observatório da Imprensa
Muitas mensagens circulam pela internet e nem sempre elas
são verdadeiras. Mas como pode o cidadão comum distinguir, num volume
pulverizado de informação, entre aquela confiável, verídica e relevante, e
aquela errônea, imprecisa e falsa? É evidente que essa questão está relacionada
ao nível de empoderamento do indivíduo, que varia de acordo com o grau de
instrução, a consciência política e os hábitos midiáticos de cada um.
Uma pesquisa divulgada recentemente pelo Pew Research Center
mostra que cresceu nos últimos dois anos a influência das redes sociais na
tarefa de manter os cidadãos informados. Os sites de notícias, antes
tradicionais fontes de informação, foram descritos no estudo como fontes
secundárias na hora de saber sobre um assunto ou acontecimento.
As redes sociais podem impulsionar o engajamento cívico
devido à sua flexibilidade ao permitir aos usuários acessar informações sob
demanda, receber notícias de maneira instantânea, aprender sobre diversos
temas, personalizar conteúdo de acordo com seus interesses e aprofundar a
discussão em torno de assuntos mais complexos.
Acesso à informação é um direito
No entanto, o potencial da internet para ampliar o grau de
informação do indivíduo ainda é limitado por fatores como o desinteresse da
coletividade ou a inabilidade das pessoas em assimilar grandes volumes de dados
e relacionar fatos. Daí a importância de uma educação que subsidie o cidadão a
entender a burocracia governamental e o funcionamento do sistema político
(conhecimento das regras gerais, familiaridades com as estatísticas e as
plataformas de governo). Só uma pessoa que reúna essas competências poderá
acompanhar e fiscalizar as políticas públicas implementadas pelos agentes
públicos.
A desinformação, fruto da imprecisão, da mentira ou do ruído
informacional, contribui para a ignorância das pessoas e inviabiliza o debate
democrático. Aliás, é preocupante quando observamos que uma informação é
manipulada simplesmente com o propósito de causar pânico ou revolta com vistas
a beneficiar um segmento político. Não podemos nos esquecer também do triste
episódio, ocorrido no ano passado no Guarujá, em que uma mulher foi espancada
até a morte após boato espalhado em rede social que a acusava de sequestro e
bruxaria.
Diante disso, é preciso verificar se a informação veiculada
é de uma fonte confiável, como sites institucionais, páginas de jornais
conhecidos e blogues de profissionais respeitados. Também é importante
pesquisar se mais de uma fonte publicou a notícia, isso denota maior
credibilidade à mensagem. Outro aspecto relevante é identificar se o conteúdo
divulgado não é oriundo de um site de notícias falsas ou de conteúdo
exclusivamente humorístico, como o Sensacionalista.
A informação tem relevância para o exercício pleno da
cidadania e a formação de opinião. Por isso, o acesso à informação é um direito
que antecede os demais, pois quem está bem informado tem maiores possibilidades
de reivindicar outros direitos. As redes sociais oferecem oportunidades
significativas para a politização da sociedade e um maior engajamento do
cidadão no processo de deliberação pública, mas é preciso, antes de tudo,
discernimento para não reproduzir o senso comum “viralizado” na internet.
*Michel Carvalho da Silva é jornalista, professor e mestre
em Ciências da Comunicação.
Via - Portal Vermelho
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