Por Conceição Lemes, no blog Viomundo:
Depois de Recife e várias outras cidades brasileiras, a
atenção de fundamentalistas, redes de direitos humanos, grupos ligados ao
direito à diversidade religiosa, diversidade sexual, movimento negro e de
mulheres, está voltada hoje para a capital paulista. Mais precisamente para a
Câmara dos Vereadores, onde deverá ser votado o Plano Municipal de Educação.
Grupos religiosos cristãos e fundamentalistas querem que
seja tirado do Plano Municipal de Educação o tema Gênero & Sexualidade e a
discussão, nas atividades das escolas, do respeito à diversidade, como
recomenda o Ministério da Educação (MEC) desde os anos 1990 e acontece em todos
os países democráticos.
Professoras e pesquisadoras da Universidade de São Paulo
(USP) e do movimento Quem cala (com a violência sexual) consente (com a
impunidade), que reúne mais de 200 mulheres, condenam a ingerência dos
fundamentalistas nos programas municipais de Educação e de Saúde.
Em moção divulgada nessa segunda-feira, 10 de agosto, elas
afirmam:
A Rede de Professoras e Pesquisadoras da Universidade de São
Paulo, formada para oferecer acolhimento às vítimas e combater a violência
sexual e de gênero, considera que a formação para o convívio na diversidade de
gênero é medida necessária à construção de uma sociedade democrática, motivo
pelo qual apoia que o Plano Municipal de Educação inclua o debate sobre
relações de gênero na formação docente e discente. São Paulo, 10 de agosto de
2015.
Vera Paiva põe o dedo na ferida. Ela é professora do
Instituto de Psicologia da USP, coordenadora do Núcleo de Estudos para a
Prevenção da Aids da instituição (Nepaids), presidente da Comissão de Direitos
Humanos do Conselho Federal de Psicologia e da Rede de Professoras da USP que
produziu a moção:
“A educação para o respeito à diversidade e para a no
violência começa em casa e é apoiada desde a infância pela escola. O que vemos
nas Universidades hoje, nunca antes dessa maneira, indica negligência do trato
desses temas junto a essa geração. Debates e cenas que tratam da diversidade de
gênero e das sexualidades são veiculados tranquilamente na TV, nas novelas da
tarde ao final da noite, sem qualquer obstáculo. Os jovens acessam o tema, via internet
e what´s up… Enfim, dissemina-se o sexo de todos os tipos em todo lugar. Por
que na mídia pode e na escola, não?”
A epidemia de aids e a violência sexual preocupam os
estudiosos do assunto.
E, independentemente da religião na qual os jovens são socializados,
todas as pesquisas indicam que a vida sexual se inicia, em média entre 14 e 15
anos.
“A vida sexual é cada vez mais pautada pela pornografia
disseminada pelas redes, e com menos camisinha e mais violência”, alerta Vera
Paiva. “Se a pregação moral de pais, pastores ou padres funcionasse, a epidemia
de aids nem tinha começado e não seria o maior problema de saúde entre
adolescentes de todo o mundo, inclusive no Brasil.”
“Eliminar esse debate na escola é impedir que educadores e
professores capacitados para tratar deste tema promovam a reflexão crítica
sobre o inicio da sexualidade, que todos concordam deve ser protegida - da
violência, de gravidez indesejada e de doenças sexualmente transmissíveis”,
argumenta a pesquisadora da USP.
“Se aceitarmos essa interdição, estaremos prejudicando o
interesse da grande maioria dos pais que quer ser ajudado pela escola, que acha
importante que seus filhos acessem esse tema na escola”, avisa a especialista.
Por tudo isso, Vera Paiva apela aos vereadores paulistas:
“Não cedam. Digam não às pressões dos fundamentalistas!”
Via Blog do Miro
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