Posso garantir-lhe que ela não existiria não fosse a
existência do Pensador Coletivo.
O Pensador Coletivo é uma máquina regida pela lógica da
eficiência, não pela ética do intercâmbio de ideias.
Você sabe o que é MAV?
Significa Militância em Ambientes Virtuais. Que nada mais é
do que núcleos de militantes, tanto de partidos pró quanto de partidos
contrários ao governo, treinados para operar na internet, em publicações e
redes sociais, segundo orientações partidárias. A ordem é fabricar correntes
volumosas de opinião articuladas em torno dos assuntos do momento. Um centro
político define pautas, escolhe alvos e escreve uma coleção de frases básicas.
Os militantes as difundem, com variações pequenas, multiplicando suas vozes
pela produção em massa de pseudônimos. No fim do arco-íris, um Pensador
Coletivo fala a mesma coisa em todos os lugares, fazendo-se passar por
multidões de indivíduos anônimos. Você pode não saber o que é MAV, mas ele
conversa com você todos os dias.
O Pensador Coletivo se preocupa imensamente com a crítica ao
governo. Os sistemas políticos pluralistas estão sustentados pela prática da
dissonância: a crítica pode ser benéfica para o governo quando descortina
problemas reais que não seriam enxergados num regime monolítico, porém, poderá
vir a ser lesiva caso os problemas levantados tenham por propósitos a
desestabilização da governança. O Pensador Coletivo interfere nesse princípio
democrático, tendo por imperativo, ou rebater a crítica imediatamente, evitando
que o vírus da dúvida se espalhe pelo tecido social, ou, criando sustentação
para que aquela dúvida seja revertida para uma certeza. É que, por sua própria natureza, o Pensador
Coletivo não crê na hipótese de existência da opinião individual.
O Pensador Coletivo abomina argumentos específicos. Seu
centro político não tem tempo para refletir sobre textos críticos e formular
réplicas substanciais. Os militantes difusores não têm a sofisticação
intelectual indispensável para parafrasear sentenças complexas. Você está
diante do Pensador Coletivo quando se depara com fórmulas genéricas exibidas
como refutações de argumentos específicos. O uso dos termos como:
"elitista", “petralha”, "preconceituoso", “militonto” e
"privatizante", assim como suas variantes, é um forte indício de que
seu interlocutor não é um indivíduo, mas o Pensador Coletivo.
O Pensador Coletivo interpreta o debate público como uma
guerra. "A guerra de guerrilha na internet é a informação e a
contrainformação". Como, no mundo real, eles circulam por aí. Você
provavelmente conversa com o Pensador Coletivo quando, no lugar de uma resposta
argumentada, encontra qualificativos desairosos dirigidos contra o autor de uma
crítica cujo conteúdo é ignorado. "Direitista", “comunista”,
"reacionário", “bolivarianista” e "racista" são as ofensas
do manual, mas existem outras. Um expediente comum é adicionar ao impropério a
acusação de que o crítico "dissemina o ódio" ou “defende bandidos”.
O Pensador Coletivo é uma máquina política regida pela lógica
da eficiência, não pela ética do intercâmbio de ideias. Por isso, ele nunca se
deixa intimidar pela exigência de consistência argumentativa. Os procedimentos
do Pensador Coletivo estão disponíveis nas latas de lixo de nossa vida pública:
mimetizá-los é, apenas, uma questão de gosto.
Existem similares do MAV em todos partidos. O conceito do
Pensador Coletivo ajusta-se a todas as correntes políticas que se acreditam ser
possuidoras da chave da porta do futuro. Na era da internet, e na hora de uma
campanha eleitoral, o invento vai sendo copiado e adaptado.
Como administrador de um grupo com propostas
pluripartidária, como é o caso do ‘Consciência Política, Razão Social’,
identificar robôs de opinião é um joguinho que não tem graça nenhuma.
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