O presidente reeleito da ALCOPAR (Associação dos Produtores
de Bioenergia do Estado do Paraná) e vice-presidente da FIEP (Federação das
Indústrias do Estado do Paraná) Miguel
Rubens Tranin, em entrevista ao Diário do Noroeste falou sobre a crise
no setor sucroalcooleiro e as expectativas para os próximos meses. Falou também
de mercado internacional para o produto brasileiro e de alternativas para que o
etanol volte a ser competitivo no mercado interno, o que deve beneficiar os
consumidores. Segue a entrevista do Sr. Miguel Tranin que também atua em
diversos conselhos governamentais envolvidos no desenvolvimento do setor no
Paraná e em todo o país.
Tranin: Nos últimos seis anos mais de 80 indústrias fecharam no país, e outras 60 estão em recuperação judicial |
DN: O Sr. foi reeleito presidente dos Sindicatos que compõem
o setor sucroalcooleiro e bioeletricidade no Paraná, qual a expectativa para os
próximos anos no setor?
Tranin: O cenário para os próximos anos é muito bom, os
estoques mundiais de açúcar estão baixos e os efeitos climáticos estão
dificultando as safras tanto no Brasil quanto nos países concorrentes, portanto
deveremos ter uma recuperação nos preços internacionais do açúcar. Com relação
ao etanol, o consumo no Brasil, tem aumentado a cada ano. O Brasil também
assumiu na
COP-21, compromisso com uma matriz energética cada vez mais
limpa e o etanol já ajuda e pode ajudar muito mais nisso.
DN: Quais os efeitos que os baixos preços do barril de
petróleo causam na produção e comercialização do etanol brasileiro?
Tranin: O preço do petróleo interfere sim em nosso produto,
embora o governo brasileiro anterior, não acompanhava a flutuação do preço
internacional do petróleo, onde um grande período acabou subsidiando a
gasolina. Os preços de petróleo estão recuperando, isso ajuda. Porém a
tendência mundial por combustíveis renováveis é cada vez maior, beneficiando o
etanol.
DN: Sabemos que o Sr. é conselheiro em várias entidades
governamentais para o setor sucroalcooleiro, como o governo tem agido para
auxiliar o setor que vem passando por dificuldades financeiras?
Tranin: O governo ajudou no aumento da mistura e
disponibilidade de crédito. Por outro lado o congelamento do preço da gasolina,
dificultou muito, pois nesse período tivemos um grande aumento em nosso custo
de produção e o alto endividamento praticamente impossibilitou o acesso a
crédito. Houve também baixos investimentos em infraestrutura logística que
eleva também os custos. No Paraná tivemos ainda adversidades climáticas que
prejudicaram ainda mais.
DN: Grandes grupos, que há poucos anos eram tidos com
referência no setor, têm fechado unidades e promovido demissões de
trabalhadores. Qual expectativa para os próximos meses?
Tranin: No cenário
atual, praticamente todos os setores estão passando por uma reestruturação,
buscando redução de custo e maior eficiência, isso ocasiona demissões. Nosso
Setor tem uma flutuação anual em função da entressafra, porém estamos em início
de safra, nesse período já não ocorrem demissões.
DN: A previsão para a safra 2016/2017 na região Centro/Sul
deve ser igual ou menor que a safra 2015/2016, quais os fatores que levaram a
essa estagnação no setor nessa safra?
Tranin: A estimativa da safra Centro/Sul é de 610 a 630
milhões de toneladas, aumento de 6% em relação à anterior. O que está
complicando esse ano é o clima, em especial a ocorrência do fenômeno "El
Niño", no ano passado em nossa região tivemos em outubro o maior volume de
chuva dos últimos 40 anos. Estamos em um ano chuvoso, isso dificulta muito as
estimativas. O maior peso na estagnação do setor é sem dúvida a dificuldade
financeira que o setor chegou, somado a variação cambial, imobilizou
investimentos e renovação nos canaviais.
DN: A geração de bioeletricidade a partir do bagaço e
resíduos das usinas já é uma realidade em algumas unidades do estado, e tem se
mostrado uma saída economicamente viável nesse momento, por que só agora
algumas usinas estão investindo na geração de energia?
Tranin: A cogeração de energia por matrizes limpas é uma
realidade mundial. Mas para isso são necessários investimentos, limitando alguns.
Será necessário também que tenhamos previsibilidade, com realização de leilões
específicos por matriz, o governo tem que estar nesse plano. No Paraná fizemos
um levantamento do potencial de cogeração a partir da biomassa em nossas
indústrias. Podemos chegar a 3GW (três gigawatts) de energia. Isso seria
suficiente para atender a demanda de Maringá e Curitiba juntas. Ou seja, há um
grande potencial, adormecido nas indústrias.
DN: A que ponto chegou o endividamento das usinas e quais as
alternativas para reverter essa situação?
Tranin: Nos últimos seis anos mais de 80 indústrias fecharam
no país, e outras 60 estão em recuperação judicial, nas indústrias de base (que
fabricam e recuperam os equipamentos), mais de cem mil postos de trabalho
perdidos, levando pequenos municípios, onde estão localizadas as dificuldades
socioeconômicas. Buscamos junto ao governo, um trabalho que pudesse envolver
agentes financeiros estatais e privados, na intenção de uma carência e rolagem
das dívidas, nos faltou apoio.
DN: Nesses anos a frente das entidades que representam o
setor o Sr. poderia citar algumas conquistas importantes?
Tranin: Foram desenvolvidas parcerias, com: UFPR
(Universidade Federal do Paraná ) no melhoramento genético da cana de açúcar,
melhoria em produtividade, resistência à seca, resistência a doenças e
adaptação da colheita mecanizada, como também novas técnicas de plantio. Nessa
linha de melhoramento, parceria com empresas multinacionais. Nessa área muitas
palestras e cursos. Também com a Embrapa. Com o Estado, em projetos logísticos
e tributários. No Porto de Paranaguá nos terminais de açúcar e etanol. Na área
de meio ambiente excelente trabalho com IAP, na conquista do decreto
agroambiental que disciplina a redução gradativa da despalha (queima) da cana
de açúcar. Com a COPEL, conquista de protocolo de 18 projetos de Cogeração no
Operador Nacional do Sistema e criação da Copel Comercializadora, permitindo
contratação e ou leilões de energia, bem como participação societária. Ótima
parceria com a FAEP, em cursos, treinamentos e projetos de situação e futuros
do Setor. Parceria com FIEP em treinamentos e projetos. Grande aproximação da
entidade com autoridades Estaduais e Federais
DN: O governo do Paraná há alguns anos em parceria com setor
vem desenvolvendo o programa "Caminhos do Desenvolvimento", o
programa tem cumprido seu propósito de auxiliar o setor?
Tranin: Projeto pioneiro no país, foi uma grande conquista
que permitiu um grande projeto logístico para a cana, particularmente do campo
à indústria, envolvendo IAP, DER e SEIL. Foram realizadas várias obras de
melhoria. Devido à situação econômica do Setor e do Estado não avançou o
projeto. Não temos dúvida que será modelo futuro para a atividade, diante da
caótica situação logística atual.
DN: O preço do etanol na bomba dos postos está deixando de
ser competitivo em relação aos valores da gasolina. Como reverter essa situação
e voltar a deixar o etanol novamente vantajoso para o consumidor?
Tranin: O preço da gasolina deve acompanhar,
como em todo mundo, os preços internacionais. O etanol, traz não só benefícios
ambientais bem como para a saúde, pois emite 80% menos poluentes que a
gasolina. A exemplo de outros países, uma tributação sobre a gasolina, no
modelo CIDE, permitiria um diferencial de preço aos que optarem pelo uso do
etanol, tributo que gera recurso aos estados e união, extremamente necessário
no momento. Ajuste dos motores flex ao etanol, aumentando sua eficiência. Definição da Matriz Energética no País (o
quanto num plano de médio e longo prazo o governo quer de participação do
etanol combustível) para que se dê previsibilidade aos investimentos e seja
possível atender aos compromissos do Brasil na COP-21 (Protocolo de Paris).
Essas seriam iniciativas indutoras ao investimento e retomada ao crescimento
Via - Diário do Noroeste
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