Por Letícia Lanz
Não gostar de uma pessoa não autoriza ninguém a
discriminá-la, violentá-la e, por fim, matá-la. Pois é exatamente isso que os
chamados “discursos de ódio e intolerância” fazem ao estimularem abertamente a
repressão, a segregação, a exclusão e o extermínio de grupos humanos inteiros,
baseados em crenças absolutamente idiotas e estapafúrdias de superioridade
racial, política, religiosa, de gênero e de tantas outras besteiras
semelhantes. Discursos de ódio e intolerância não admitem nenhuma forma de
diversidade humana fora dos modelos e padrões defendidos pelos que se sentem no
direito de ter mais direitos do que os outros, pelo simples motivo de serem
brancos, homens, heterossexuais, cristãos, proprietários, etc. etc. etc.
Os discursos de ódio e intolerância vêm invariavelmente
revestidos de uma defesa intransigente de valores e estruturas da sociedade
organizada, como a família, a ordem social, a justiça, a proteção à criança, a
decência moral. Mas isso não passa de uma cortina de fumaça para encobrir os
verdadeiros objetivos hegemônicos de dominação de grupos que se consideram
“esquizofrenicamente escolhidos” para reinarem acima de tudo e de todos. O que
está verdadeiramente em jogo é o ódio aberto e declarado a grupos sociais que
eles lutam para excluir, segregar e exterminar. Embora possam aparecer debaixo
dos mais variados disfarces, os pontos centrais dos discursos de ódio e
intolerância estão concentrados nas seguintes áreas:
1 – Defesa da supremacia branca: os “brancos” são superiores
a todas as outras “raças” (negros, índios, orientais, etc. etc.);
2 – Defesa da superioridade do homem sobre a mulher;
3 – Defesa da masculinidade heterossexual e cisgênera (ódio
declarado à homossexualidade e a todas as identidades transgêneras);
4 – Defesa da identidade “cristã”: o cristianismo como
religião superior a todas as outras;
5 – Defesa da criminalização do aborto (que, no fundo, é
apenas uma reafirmação da propriedade masculina do corpo da mulher);
6 – Defesa da posse individual e generalizada de armas (sob
o pretexto de se promover a defesa da “família” e da “propriedade”)
7 – Veemente repúdio a políticas públicas voltadas para a
promoção da igualdade e da justiça social.
Os “discurseiros do ódio e da intolerância” se valem de
obscuras citações bíblicas para “naturalizar” suas crenças estapafúrdias a
respeito de sexo, gênero e orientação sexual, fazendo com que coisas que não
passam de preconceito insano sejam vistas como “vontade expressa do senhor”. Da
mesma forma, encontram na bíblia - tanto farta quanto falsa justificativa -
para a sua “cruzada” tresloucada de extermínio étnico (apenas brancos), sexual
(apenas héteros), social (apenas ricos) e de gênero (apenas machos e mulheres
obedientes e subalternas).
O nazismo é o exemplo mais terrível de discurso de ódio e
intolerância no século XX, que hoje ressurge com força enlouquecedora na fala
demente e desatinada de líderes políticos e religiosos fundamentalistas. Eu sei
que você acredita na liberdade, na igualdade e na fraternidade das pessoas e
dos povos. Por isso, fique atenta: não apoie, não dê ouvidos, não divulgue e
denuncie, de todas as formas e por todos os meios possíveis, os discursos de
ódio e intolerância que pretendem transformar a humanidade em um imenso campo
de concentração. Eles destroem, atrasam e invalidam o progresso da humanidade.
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