Se tivesse que escolher um único adjetivo para o
comportamento que o presidente de facto, Michel Temer, adotou em recente
entrevista ao jornalista Roberto D’Ávila em uma tevê a cabo (Globo News) –
revelando, assim, desinteresse pela opinião pública, já que ele não pode ter
medo de panelaço pois os paneleiros são seus comparsas –, esse adjetivo seria
“dissimulado”.
Temer revelou a característica de todos os políticos
malandros que todos sabem que são ladrões, mas que não se indignam com
acusações e críticas pesadas de entrevistadores porque sabem que são todas
verdadeiras.
De fato, D’Ávila não se pejou em perguntar a Temer sobre o
ministério branco, rico, velho e corrupto. Afinal, seria impossível. Não se
fala de outra coisa. Contudo, os ataques aos cacoetes conservadores contra
gênero, etnia e orientação sexual escondem o pior de Temer, que NENHUM desses
“entrevistadores” da grande mídia jamais irá perguntar.
Antes de prosseguir, vale a pena dar uma olhada em uma
“pílula” da Globo News sobre a entrevista de Temer [aqui]. O trecho foi
divulgado e destacado para tentar mostrar que a Globo não aliviou para o
“presidente”, pois são perguntas duras que você irá ver. Porém, são
propositadamente duras de forma a ajudar o entrevistado.
Como se vê, Temer dá uma escorregada sobre questões éticas
que, inclusive, o envolvem, garante que não vai extinguir programas sociais ou
direitos, mas esquivou-se de responder sobre reforma da Previdência ou sobre
direitos trabalhistas. E para as classes média e alta que, em vez de ser
empregadas, são patroas, que não pensem que vão ficar bem na foto porque para
elas Temer disse que não cogita aumento de impostos “ainda”.
Na verdade, o que está por vir é muito grave e foi objeto da
reestreia do programa Contraponto, da TV dos Bancários, que foi ao ar na última
segunda-feira, 20 de junho, e cujo conteúdo você poderá conferir, na íntegra,
no vídeo ao fim do texto – eu, Laura Capriglione (Jornalistas Livres) e
Altamiro Borges (Barão de Itararé) debatemos justamente o que deve nos
preocupar a todos.
Até aqui, as medidas mais importantes se resumiram a micro
vendetas dos golpistas contra “os petistas”, o que inclui perseguição a
jornalistas nas empresas públicas federais e rupturas unilaterais de contratos
legais pelo governo de facto e, claro, pequenas agressões aos direitos de Dilma
Rousseff como presidente constitucional da República.
Nada do que Temer fez até aqui é importante. O que importa aos
golpistas é o day after, a confirmação do impeachment. Nesse caso, terão dois
anos e meio (quase) para praticar maldades econômicas e institucionais que
incluem piora acentuada das condições de trabalho no Brasil por conta de uma
premissa que vigeu antes de o PT chegar ao poder, a premissa da
“empregabilidade”.
Essa premissa temerária vai mudar a sua vida, se Dilma for
mesmo derrubada e Temer assumir de vez o cargo usurpado ao arrepio da lei e da
democracia brasileiras, já que ela não poderia perder seu mandato sem ter
cometido crime de responsabilidade.
Guarde bem a palavra ou, na pior das hipóteses, o conceito:
“EM-PRE-GA-BI-LI-DA-DE”. É isso que o “presidente interino” da República vai
jogar na sua vida se Dilma Rousseff cair definitivamente. Os golpistas
temerários dizem hoje sobre emprego o que FHC dizia quando governou, que para
conseguir emprego os trabalhadores precisam abrir mão de direitos trabalhistas
por, atualmente, serem “muito caros”.
Não chega a ser animador que muitos entre os que vão ter que
ganhar menos para conseguir emprego, se Temer ficar, são os que vestiram
camisetas da Seleção e foram berrar na avenida Paulista ou em Copacabana.
Vê-los pagar pela própria burrice não ajudará nenhum dos que não foram tão
burros quanto eles.
Pagaremos todos.
No programa de web TV gravado na última segunda-feira, eu e
os demais debatedores traçamos um perfil bastante preocupante do que vem por aí
se o golpe passar no Senado. E o diagnóstico foi um só: aconteça o que
acontecer, os trabalhadores terão que se mobilizar e se dispor a uma grande
luta para evitar retrocessos terríveis nos direitos de todos.
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