Em entrevista ao jornal O Globo, Michel Temer disse que,
quando despacha em sua mesa e ela tem todos os assentos ocupados, sente-se como
o imperador Carlos Magno.
''Eu me sinto aqui como Carlos Magno. Quando eu tinha 11
anos de idade, eu ganhei um livro chamado “Carlos Magno e os 12 cavaleiros da
Távola Redonda” e eu li aquele livro e era assim: os 12 cavaleiros.”
Para um desavisado, Michel teria apenas misturado as
histórias do imperador europeu, que viveu entre os anos 742 e 814, e a Távola
Redonda – lendária mesa redonda em torno da qual sentaram-se valorosos
cavaleiros da corte do não menos lendário (ou fictício) rei Artur.
Rá! Michel não erra, Michel não falha, Michel é nosso.
Michel, em verdade, queria passar uma mensagem, em código, para a organização
da revolução comunista, que deve tomar o poder em breve em todo o mundo.
Sei que não deveria estar revelando isso abertamente. Ainda
mais porque me considero alguém à esquerda. Mas meu amor à liberdade de
informação é maior que qualquer simpatia à revolução. Acredito que vocês tenham
o direito de saber.
Távola Redonda é o codinome do Salão Oval, onde o camarada
Obama reúne os companheiros do Foro de São Paulo. Os 12, como todos sabem, são
Obama, Lula, Mujica, Fidel e Raul Castro, Evo Morales, Nicolás Maduro, Cristina
Kirchner, Kim Jong-un, Xi Jinping, Papa Francisco e, é claro, Keith Richards.
Tentaram transferir definitivamente a Távola para Havana,
mas os colegas revolucionários reclamaram, com razão, que Obama, Francisco e
Keith Richards terem ido à capital cubana encontrarem os Castro no mesmo
momento, deu na cara demais.
A ideia foi de Keith, o único que jogou cartas com Marx
pessoalmente e também o único que estará por aqui quando todos se forem. Então,
não havia como questionar sua escolha e melodias.
O plano tem sido perfeito. Ninguém percebeu que enquanto
Michel Temer (codinome: Mesóclise) está aplicando golpes na recuada CLT a fim
de ganhar a confiança do mercado, o companheiro Henrique Meirelles está
lastreando a economia brasileira com rublos, pesos cubanos, wons
norte-coreanos, bolívares venezuelanos e, claro, a grande pa'anga, da ilha de
Tonga.
Quando Michel referiu-se aos seus ''11 anos de idade'',
queria dizer que a partir do dia 11, vulgo este domingo, os companheiros da
Brigada Mikhail Bakunin, que foram eleitos sob o disfarce de ''Bancada
Evangélica'', estão prontos para votarem a proposta de emenda constitucional
que acaba com a propriedade privada no Brasil.
Fico feliz por eles, que devem estar cansados do disfarce
que inclui xingar gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis. Dizem
que não aguentam mais defender Deus, que chamam carinhosamente de Ópio das
Massas.
O companheiro Geraldo Alckmin (codinome: Chuchu) cumpriu o
combinado e, através da identidade reativa à violência estatal, conseguiu
organizar e mobilizar a população no Estado de São Paulo. Os comitês
revolucionários dos outros estados devem ser orientados a copiar o modelo
desenvolvido pelo companheiro Alckmin e aplicar a mesma fórmula com o intuito
de acordar o povo.
O Foro de São Paulo está especialmente preocupado com o
camarada Lula. Desde que comprou pedalinhos para o sítio em Atibaia, abraçando
o pacote simbólico da burguesia brasileira, tem sistematicamente sabotado os
planos revolucionários. Dizem que até assinou Netflix.
Portanto, tivemos que acelerar. Em 2014, Dilma foi sedada
por um grupo avançado que invadiu o Palácio do Alvorada e levada para um local
secreto, onde está sob custódia. Em seu lugar foi colocada a ''Moça'', que após
cirurgias plásticas em Pequim e intenso treinamento, tornou-se uma cópia
perfeita, mas ''de luta''. A “Moça'' foi instruída a manter a política entreguista
de Dilma até a economia ruir e a aceitar o impeachment. Enquanto isso, o
companheiro Eduardo Cunha (codinome: Toblerone) avançou com um impeachment nas
coxas a fim de tornar o país uma bomba-relógio.
O companheiro Michel pediu para avisar o companheiro Jair
Bolsonaro (codinome 1: Carlos Marighela, codinome 2: Carlos Magno) que ele terá
prazo mais do que suficiente a fim de receber o carregamento de armas
norte-coreanas do companheiro Kim Jong-un no porto de Santos – graças às boas
relações do camarada Michel Temer no porto, elas virão escoltadas por mariners
do camarada Obama e ninguém notará.
A encenação do impeachment manteve a mídia entretida, a
elite ensandecida e a população entorpercida. Mal sabem eles.
Com as tripas do último Mickey, enforcaremos o último
Muppet. Vai ser duro, porque gosto de Muppets. Mas sacrifícios são necessários.
E vocês ainda acham que foi um erro de Michel? Tolos.
*Leonardo Sakamoto - É jornalista e doutor em Ciência
Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos
países e o desrespeito aos direitos humanos no Brasil. Professor de Jornalismo
na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School,
em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É
diretor da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas para
Formas Contemporâneas de Escravidão.
Via – UOL Notícias Cotidiano
Nenhum comentário:
Postar um comentário