A entrevista coletiva da 22 edição do grito dos excluídos
aconteceu nesta quinta-feira (1) em São Paulo com parte das atenções voltadas
para o cenário de repressão policial que se intensifica após a concretização do
golpe de Estado que afastou em definitivo a presidenta eleita Dilma Rousseff da
presidência da república. Na opinião dos entrevistados, o governo endurecer as
ações contra os movimentos de rua que combatem a retirada de direitos.
Durante a coletiva, Soniamara Maranhão, do Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB), se solidarizou com a militante do Levante
Popular da Juventude Deborah Fabri. A estudante foi atingida por um estilhaço
de bomba durante repressão da Polícia Militar de São Paulo e perdeu a visão.
Deborah participava de ato contra o governo Temer nesta quarta-feira (31).
“Estamos diante de um sistema fascista que não tem dó, não
perdoa, não está brincando”, lembrou Soniamara. Ela foi uma das participantes
da coletiva ao lado de Dom Milton Kenan Junior (CNBB), Plinio de Arruda Sampaio
(Unicamp), Antonia Carrara (Pastoral Operária) e Ari Alberti, da coordenação do
Grito dos Excluídos.
O lema de 2016 das ações é “Este sistema é insuportável:
Exclui, degrada, Mata!” e foi inspirado em trecho do discurso do Papa Francisco
quando participou em 2015 de encontro com representantes do movimento social na
Bolívia.
O grito se realiza há 22 anos, sempre na semana da Pátria,
culminando com intensas manifestações no dia 7 de setembro.
Repressão acirrada
Ari contou que desde maio a coordenação vem alertando para o
agravamento da repressão policial. Desde o primeiro grito realizado em 1995 o
movimento tem militantes presos. O coordenador nacional afirmou que Temer
deixou bem claro no discurso de posse que não vai tolerar protesto.
“Não dá pra fugir. Defender a garantia dos nossos direitos
exige luta e exige sacrifícios”, ressaltou. Segundo ele, o objetivo do Grito é
repercutir a voz dos excluídos, manifestar indignação diante de um sistema que
exclui a população. O movimento também é espaço de organização e mobilização
das lutas populares.
Na opinião de Plínio de Arruda Sampaio Junior, professor do
Instituto de Economia da Unicamp, a realização desta edição do Grito é especial
devido a grave conjuntura pós-golpe. “É para dizer que não vão passar por cima
do povo. A burguesia fechou os meios de se fazer a crítica. A critica precisa
brotar das ruas!”, enfatizou.
Segundo ele, vai acontecer uma mudança no padrão de
repressão na luta pela preservação dos direitos. Ele completou que para
consolidar as mudanças de Temer será preciso um aparato que garanta isso.
“O povo não pode reclamar. A burguesia brasileira resgatou o
pelourinho. Institucionalizaram o pelourinho”, comparou Plínio.
Dom Milton, que é Bispo de Barretos (SP), se mostrou
surpreso diante da preocupação dos bispos do centro oeste com a criminalização de
integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Goiás.
Valdir Misnerovivz e o agricultor Luiz estão presos há meses denunciados por
realizarem ocupações.
Também mencionou o discurso de Temer que “de forma agressiva
deixou claro que não é permitido discordar”.
“O grande desafio é recuperar as lutas de 30 anos e a igreja
precisa ficar ao lado da sua história de luta e ajudar o povo a tomar
consciência dos riscos que corre”, disse Dom Milton. Ele lamentou que seja
menor a compreensão do povo acerca da realidade de desigualdade em que vive e
das ameaças iminentes.
Povo na rua
Sem entrar no mérito dos golpes, Plinio de Arruda afirmou
que o que impediu os golpes na Turquia e na Venezuela contra Chavez foi o povo
na rua. “Se eles radicalizarem nos ataques a gente radicaliza na defesa dos
nossos direitos”, completou.
A jornalista da Pastoral Operária, Antonia, lembrou frase do
escritor Frei Beto que diz que “que governo e patrão é igual feijão, só amolece
com pressão”.
Segundo ela, o povo que move a história não é aquele que
fica esperando. Como instrumento de mobilização ela convocou para a 29ª romaria
dos Trabalhadores que acontece dia 7 de setembro em Aparecida do Norte
(SP).
A atividade faz parte do Grito dos Excluídos e atua
combinando atividades religiosas e ações de conscientização do trabalhador.
“Temos fé mas também temos o pé no chão”, disse Antonia.
O calendário com as atividades do Grito ainda não foi
concluído. Ari informou que, apesar da criminalização aos movimentos sociais e
das adversidades, o Grito “vai chegando em novas paragens.
Pela primeira vez a ação será realizada nas cidades de Biguaçu (SC) e Petrópolis (RJ) e vai ser
retomada em Passo Fundo (RS), Santos SP) e Manaus (AM).
“É um sinal interessante para as experiências do Grito”,
disse Ari. Ele lembrou o caso de duas cidades no interior da Bahia que vão
realizar neste ano o Grito pelo 13º ano. “ E eram lugares em que havia um medo
do carlismo (influência da politica exercida pelo política Antonio Carlos
Magalhães). Isso mostra que as pessoas estão perdendo este medo”, recordou.
Via - Portal Vermelho
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