No Brasil 247
Numa semana que prometia ser dominada pela cassação de
Eduardo Cunha, a denúncia formulada pelo Ministério Público contra o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva roubou as atenções. Foi saudada pela
metade do Brasil que foi induzida a desejar a sua prisão e criticada pela outra
metade que ou enxerga abusos na operação Lava Jato ou deseja vê-lo de volta à
presidência da República, nessa destrutiva guerra de torcidas em que se
transformou a política brasileira.
Embora a forma de divulgação da denúncia, exagerada na visão
de juristas e da própria OAB, tenha sido o aspecto mais discutido ao longo da
semana, o ponto mais importante foi o fato de o MP não ter pedido a prisão de
Lula, nem de seus familiares. É uma escolha que demonstra certa prudência.
Afinal, qual seria o sentido de prender, em primeira instância, um senhor de 70
anos, que está no "topo da cadeia alimentar”, não tendo ninguém a delatar,
e que, como todo cidadão, tem direito à presunção de inocência?
Mais do que isso, a eventual prisão de Lula não interessaria
a ninguém do sistemão brasileiro, uma vez que 99,99% dos políticos têm telhado
de vidro. O risco seria ainda maior em
se tratando de Lula, que, mesmo com todos os revezes, continua a ser o líder
político mais popular e com maior capacidade de mobilização popular do País,
sendo ainda o mais articulado internacionalmente. Uma vez aberto o precedente
com Lula, mesmo seus adversários com aspirações presidenciais, todos eles
citados em delações de empreiteiros, estariam ameaçados.
A caçada judicial, portanto, parece ter outro objetivo.
Trata-se de conseguir rapidamente uma condenação em primeira instância, no
Paraná, que possa ser confirmada pelo Tribunal Regional Federal de Porto
Alegre. Nesse cenário, Lula se tornaria ficha-suja, ficando impedido de
concorrer a cargos públicos. Assim, o jogo da sucessão presidencial em 2018
seria controlado pelas mesmas forças que conduziram o afastamento da presidente
Dilma Rousseff, com uma espécie de domínio oligárquico do processo político.
Em seu pronunciamento, um dia após a denúncia, Lula percebeu
a natureza do processo e disse que não adianta prendê-lo nem retirá-lo do jogo.
“Virão outros Lulas”, afirmou, indicando, que, em qualquer condição, terá poder
para influir diretamente no processo político. Exageros contra Lula, tanto na
forma como no conteúdo, só contribuem para vitimizá-lo e torná-lo ainda mais
forte – especialmente se o governo Temer, que ainda tem sua legitimidade
contestada, se mostrar incapaz de retirar o Brasil de sua mais aguda crise
econômica.
*Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo
247, além de colunista das revistas Istoé e Nordeste
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