Legais ou ilegais, estudantes ou profissionais, imigrantes
recentes ou “veteranos”, os brasileiros residentes nos EUA não estão
tranquilos.
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A uma semana da posse do novo presidente americano, a
comunidade brasileira nos Estados Unidos segue com apreensão por conta das
declarações de Donald Trump. Afinal, uma das promessas de campanha do
republicano foi a deportação em massa de imigrantes ilegais. As informações são
da Rádio França Internacional.
Legais ou ilegais, estudantes ou profissionais, imigrantes
recentes ou “veteranos”, os brasileiros residentes nos EUA não estão
tranquilos. Afinal, as últimas nomeações de Trump para seu gabinete, sinalizam
com razões concretas para as apreensões dos “brazucas”. Além de ter feito da
“deportação em massa” de imigrantes ilegais um dos cavalos de batalha de sua
campanha, o magnata nomeou o senador republicano Jeff Sessions, conhecido por
seu discurso anti-imigração, como secretário de Justiça dos Estados Unidos.
Sessions ficou conhecido por defender a criação de limites
para a imigração legal, com o argumento de que a mesma reduziria o salário dos
cidadãos americanos. “O que Trump espera, na verdade, é que os estrangeiros se
autodeportem, ou seja, que graças ao medo e à tensão social as pessoas desistam
e voltem para os seus países, sem que os EUA tenham que desembolsar com prisões
ou deportações”, explicou Carlos Eduardo Siqueira, professor e pesquisador da
Universidade de Massachusetts, que atua desde 2003 no setor de Saúde Pública na
área de imigração brasileira.
“A crise econômica atual do Brasil vem expulsando muita
gente que perdeu o emprego, o negócio ou mesmo a esperança. Estamos vendo uma
onda de imigração brasileira semelhante à do período Collor. A imigração
brasileira hoje é nacional, não é mais local como há alguns anos, quando os EUA
recebiam muita gente de Minas Gerais. Hoje temos uma massa de pessoas que
chegam de todas as partes do Brasil”, afirmou Siqueira.
Medo persistente
“O Trump me lembra muito o [ex-primeiro ministro italiano
Sílvio] Berlusconi. Ele muda de opinião muito rapidamente e exagera o tempo
todo. Mas continua a insistir que a imigração será uma questão central do seu
governo”, contextualizou o professor.
“Acredito que Trump vá apertar o cerco, mesmo porque no
contexto mundial a imigração não é vista hoje com bons olhos. Existe apoio
dentro da sociedade atual para reprimir e para tratar a imigração como caso de
polícia. Eu não sou otimista. Penso que boa parte da comunidade brasileira
ainda não acordou, mas vai acordar em breve para a gravidade do que vem por aí.
Mas já existe um medo crônico, latente e presente na comunidade brasileira dos
Estados Unidos”, afirmou Siqueira.
Para o administrador brasileiro Rubens Vianna, 31 anos, que
mora há 11 anos na Flórida e faz MBA em Finanças no Rollins College, há
bastante ansiedade em relação ao futuro com Trump. “Acho que a situação já é
difícil para o imigrante que quer trabalhar e ficar aqui legalmente. E, como [o
novo presidente] é muito radical, a expectativa é que a situação vá ficar mais
difícil ainda”, afirmou,
“Quando você está há 11 anos em um país, você cria laços com
a cultura, com as pessoas, com o estilo de vida. E meu desejo é continuar aqui.
Então, dá uma insegurança sim”, disse Rubens. “Para se ter uma ideia, nos dois
dias seguintes à eleição de Trump, o site de imigração do Canadá ficou fora do
ar, tamanha a quantidade de pessoas que tentou acessá-lo para pesquisar a
possibilidade de se mudar para lá”, contou.
“Nossa comunidade está doente”
Ilma Paixão, que mora nos EUA há 32 anos e é delegada do
Partido Democrata, confirma a ansiedade com a chegada de Trump entre os
milhares de brasileiros da região de Boston. “Cheguei aqui com 19 anos de
idade. Eu me casei e tive meus filhos aqui. Sou uma mulher negra, do Brasil,
tive que driblar o estereótipo ‘mulata do Sargentelli’”, conta Paixão, que hoje
é dona de uma rede de rádios dirigidas às comunidades afroamericanas e
brasileiras nos Estados Unidos.
“A nossa comunidade está doente. Todas as minorias, mas
principalmente os imigrantes, os brasileiros, porque é muito difícil verificar
que uma pessoa possa ganhar a eleição com uma linguagem de rejeição. Todos
estamos no mesmo barco, falo isso tanto como delegada do governo como representante
da comunidade. Mas o mais inquietante é o sentimento do desconhecido. Você está
sentindo uma pressão, e não sabe exatamente quais serão suas consequências”,
disse ela.
“No entanto, não acredito que haverá muitas deportações de
imediato. Durante o governo Obama, que considero um superpresidente, houve
várias deportações, isso não é novidade. O que vai piorar é o aumento de
brasileiros que estão chegando, não necessariamente preparados para enfrentar
as dificuldades da crise americana, que eles com certeza encontrarão aqui”,
disse a comunicadora.
“Não acreditávamos que Trump fosse vencer”
A socióloga brasileira Natalícia Tracy mora nos EUA há 25
anos e é diretora-executiva do Centro do Trabalhador Brasileiro em Boston,
criado há mais de 20 anos. “Nosso trabalho principal é educar os brasileiros
sobre seus direitos aqui e advogar em seu favor. Para ser honesta, por mais que
estivéssemos preocupados com uma possível vitória de Trump, não acreditávamos
que ele fosse ganhar. Nos pegou de surpresa. No dia seguinte à eleição,
estávamos em prantos, passamos por uma fase de depressão, um luto pelas
conquistas sociais da América que conhecíamos”, admitiu ela.
“Sabemos que haverá mudanças muito grandes que vão afetar a
comunidade de imigrantes, que estão mais expostos, como os latinos, os
brasileiros, imigrantes sem documentação, os estudantes com vistos temporários,
a ansiedade é muito grande. Sentimos uma onda de racismo forte nos espaços
públicos, há pessoas nas ruas dizendo ‘vão embora’. Existem também casos de
crianças nas escolas que desejam ir para casa com medo de que suas mães ou pais
tenham sido deportados, porque algum colega sugeriu que isso poderia
acontecer”, relatou a socióloga.
Tracy afirma, “para descontrair”, que “ainda bem que os
candidatos não cumprem suas promessas”. “Infelizmente as pessoas que Trump está
nomeando para compor seu gabinete se posicionam bem à direita, estamos nos
preparando para o pior. No entanto, a verdade é que já convivemos com uma
política de deportação em massa, não é uma novidade. São 1,1 mil pessoas sendo
deportadas todos os dias”, finalizou a socióloga.
Fonte: Agênica Brasil
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