Que diabo é a Parceria Transpacífico (TPP) e por que você
deveria se preocupar com o fato de que o recém-empossado presidente Donald
Trump caiu fora dela?
TPP é o maior acordo comercial regional já negociado. Não
passaria pelo Congresso dos Estados Unidos, por isso a decisão de Trump é acima
de tudo simbólica.
A idéia por trás do acordo era “ancorar” a economia asiática
aos Estados Unidos, reduzindo a influência regional da China.
Os liberais brasileiros amavam a TPP, especialmente por
terem a oportunidade de contrapô-la ao Mercosul: “O mundo avança e o Brasil vai
se afundando com o PT amarrado ao pescoço”, escreveu a respeito dela em tom de
desespero um dos porta-vozes do agora ministro José Serra, quando Dilma
Rousseff ainda estava no Planalto.
A TPP servia, acima de tudo, às grandes corporações. Ela não
poderia ser emendada por parlamentares nem nos Estados Unidos! Acreditem:
assessores dos deputados e senadores norte-americanos não podiam fazer cópias
do texto, que foi escrito secretamente.
Isso mesmo. Só tinham acesso ao texto os integrantes de 28
comitês de assessoria definidos pelo governo, 16 dos quais ligados à indústria,
com representantes de pesos pesados como AT&T, General Electric, Apple, Dow
Chemical, Nike, Walmart e o American Petroleum Institute. Dos 566 integrantes
dos comitês, 85% representavam as corporações.
A TPP permitiria, entre outras coisas, que as corporações
abrissem ações judiciais contra Estados que tomassem decisões que contrariassem
o acordo comercial e, em tese, causassem prejuízos econômicos às empresas. Ou
seja, eliminaria a soberania popular local em assuntos relativos à TPP.
Trump caiu fora em parte para atender demandas à esquerda e
à direita no especto político dos Estados Unidos.
Sindicalistas denunciam o acordo comercial entre Estados
Unidos, México e Canadá - o Nafta - por exemplo, como tendo causado a perda de
700 mil empregos nos Estados Unidos. A direita reclama de um “governo mundial”
que solaparia os interesses norte-americanos, representado por acordos
comerciais e organismos multilaterais.
O fato é que sempre foi estratégia diplomática de um grande
número de chancelarias, especialmente depois da queda do muro de Berlim,
amarrar os Estados Unidos em acordos multilaterais que pudessem reduzir ou
atenuar o imenso poder de Washington.
Hoje, um assessor de Trump deu entrevista à rede CNN dizendo
que a era dos “estados nacionais” está de volta e que os Estados Unidos farão
apenas acordos bilaterais de comércio.
O cálculo político é óbvio: Washington vai extrair todo tipo
de concessão dos “parceiros” explorando o acesso ao imenso mercado de consumo
norte-americano. É também por isso que Trump aposta no desmantelamento da União
Europeia.
Em nosso caso, mais do que as trocas comerciais entre Brasil
e Estados Unidos estão em jogo os mercados da América Latina.
Um estudo da Conferência Nacional da Indústria publicado em
2016 diz que “as exportações de produtos industriais respondem, em geral, por
mais de 90% das exportações brasileiras para os países da América do Sul. Além
de veículos, produtos de borracha e material plástico e produtos químicos, os
países sul-americanos são grandes importadores de equipamentos de informática e
produtos eletrônicos (42,2% do total exportado pela indústria brasileira),
máquinas e materiais elétricos (41,2%), produtos de metal (38,3%), máquinas e
equipamentos (38,0%), produtos têxteis (25,4%), celulose e papel (15,2%) e
metalurgia (14,5%), entre outros”.
Em resumo, a minguante indústria brasileira vai enfrentar
concorrência crescente dos produtos made in USA, cuja produção Trump pretende
estimular com investimentos em infraestrutura, protecionismo e pressão
política.
Temer e Serra, cujos interesses combinam com os de Trump - a
defesa intransigente dos Estados Unidos - vão ficar a ver navios… e você
correrá risco ainda maior de perder o emprego.
Via - Blog do Miro
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