Eu vi a formulação na conta dos Fatos Nacionais no Twitter.
A foto de João Doria e Regina Duarte fingindo que varriam ruas em São Paulo
tinha a seguinte legenda: o “ano do pós ridículo”.
É uma definição feliz.
Doria, Regina e Janaína Paschoal são luminares da era do pós
ridículo. Seguidos de perto por Crivella, Alexandre de Moraes, Michel Temer e a
mulher Marcela.
O pós ridículo é uma ampliação do conceito que foi eleito
palavra do ano em 2016 pela Universidade de Oxford. “Pós verdade”
(“post-truth”) foi devidamente dicionarizada.
É um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas
quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que
apelos à emoção e a crenças pessoais”.
Dois acontecimentos políticos foram citados como exemplares
no emprego dessa prática: a campanha de Trump e o Brexit. As mentiras tiveram
papel crucial em ambos os casos. Ainda que desmascaradas, isso não mudou o voto
da maioria.
Nada seria possível sem as redes sociais. O Facebook,
atualmente, tenta se livrar das notícias falsas fazendo com que sites que as
compartilhem não usem sua rede de anúncios e não ganhem dinheiro com isso.
O pós ridículo também deve muito de sua ascensão a essas
mídias.
Nelson Rodrigues, gênio absoluto, já tinha avisado que os
cretinos perderam a modéstia. O que ocorre é que, hoje, eles publicam suas
cretinices e são seguidos por outros cretinos, formando um bolo que adquire um
tamanho impressionante.
O superego foi eliminado. A tibieza intelectual de Janaína
Paschoal não era novidade e ficou conhecida com o processo do impeachment. Seu
vexame nos arcos do Largo de São Francisco, quando encarnou uma pomba gira
gritando sobre uma tal república da cobra, deveria ser suficiente para sua
aposentadoria precoce ou seu retorno ao anonimato.
Não. No pós ridículo, ela ganha empuxo.
Sua conta no Twitter é uma calamidade intelectual e, de
quebra, uma mancha na reputação da faculdade em que leciona. A vírgula, usada
ao bel prazer, enfeita estupidezes como a invasão do Brasil.
“Com uma base militar na Venezuela, Putin estará a um passo
de atacar o Brasil. Estão rindo? Pois eu estou falando sério”, escreveu na
primeira sentença de uma série.
Recentemente, prontificou-se a atuar como “inspetora de
banheiros” do Ibirapuera. Virou piada, novamente.
Menos para os demais surfistas do pós ridículo, como João
Doria, que lhe telefonou porque viu nela uma igual. Janaína contou que o
prefeito “falou brincando sobre fazer uma nomeação, eu agradeci, mas eu não
gosto dessas formalidades e o meu trabalho será de cidadã para mostrar que os
cargos não são tão essenciais assim”.
As aparições de Doria como gari são triunfos do pós
ridículo. Na primeira, mandou atirar moradores de rua para debaixo de um
viaduto, cobriu com tela, e fingiu que limpava o chão que já tinha sido
limpado. Tudo diante das câmeras.
Na segunda incursão, Doria contou com a mão de outra musa do
pós ridículo, Regina Duarte. A atriz inventou que integrava uma “associação que
batalha por uma cidade mais digna, mais humana” e por isso estava no local.
Totalmente por acaso.
“É nois! O importante é lutar por uma São Paulo mais limpa,
por dentro, na alma”, afirmou. “Não quero ser política, mas acho que todos os
moradores de São Paulo devem se engajar”. (Os estão os filhos ou familiares
responsáveis por esse pessoal??)
Napoleão um dia observou, após uma derrota no Egito, que do
sublime ao ridículo é apenas um passo. Nós demos esse passo coletivamente e
estamos enterrados até o pescoço numa indigência mental que parece ser a regra.
Via - Blog do Miro
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