O Secretário Nacional de Juventude do Governo Temer defendeu
"uma chacina por semana". Disse, sobre a chacina em Manaus, onde
morreram 56 pessoas, que "tinha era que matar mais". O Governo Temer
disse que essas opiniões "não são as do Governo". Essas opiniões,
definitivamente, não são é da juventude de parte alguma do mundo, muito menos
da juventude brasileira, que é das mais avançadas do planeta.
Um governo que nomeia para Secretário Nacional de Juventude
uma pessoa que pensa assim agride toda a juventude do país, revela ser um
governo contra os jovens, além de ser golpista e portanto ilegítimo, como de
fato é esse governo de velhos, machos,brancos, ricos, corruptos e
incompetentes.
Michel Temer chamou para representar a juventude brasileira
em seu governo, como Secretário Nacional da Juventude, um tipo que poderia ser
o Secretário Nacional das Chacinas, se esse cargo fosse criado. Anunciou que o
homem que queria mais morte nas chacinas "pediu demissão", ante o
escândalo provocado por suas declarações, que o governo concordou, e que vai
procurar outro secretário.
É impossível esse governo arranjar uma pessoa que represente
legitimamente a juventude no meio dos seus quadros, por ser um governo que nem
conhece, nem sabe onde fica, nem respeita os grandes órgãos juvenis
brasileiros, como a União Nacional dos Estudantes e a União Brasileira dos
Estudantes Secundaristas. Não tem a menor ideia das justas razões que levaram
os estudantes secundaristas brasileiros a ocupar cerca de 1.100 escolas em 22
estados da Federação. Acha que isto é baderna e para resolver esse gravíssimo
problema só lhe ocorre uma coisa - usar a polícia.
O secretário que se demitiu, embora ainda não oficialmente,
falou em seu ideal de "uma chacina por semana". O governo esclareceu
que essa não é sua opinião. Ainda bem.
Mas, nem bem o ano de 2018 começou, e já tivemos três
chacinas, mais de uma por semana: a chacina de Manaus, com 56 mortos; a de
Campinas, com 12 mortos, 9 mulheres; e a de Roraima, com 33 mortos, a maioria
decapitada. É o ódio disseminado em todas, a misoginia divulgada em carta bem
escrita do assassino da segunda chacina, a crueldade das decapitações da
terceira chacina.
O ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro José Mariano
Beltrame, especialista em segurança pública, chamou a atenção de outros riscos
sérios dessas ocorrências. Como há organizações criminosas funcionando nas
cadeias superlotadas, diz Beltrame, existe o perigo dessas barbaridades se
estenderem para as ruas. A chacina de Roraima seria resposta do chamado
Primeiro Comando da Capital , o PCC, ao que ocorreu em Manaus. E há indicações
de que isto estaria se ramificando por países vizinhos.
Por onde se vê que o problema é sério, e é a manifestação
dramática, em um ponto determinado - o sistema carcerário brasileiro - da
doença que vai corroendo a sociedade como conjunto, com a proliferação de
idéias de extrema direita, como o antifeminismo, ( que chama a Lei Maria da
Penha de Lei Vadia da Penha), a intolerância religiosa e de orientação sexual,
a escola sem partido, a corrupção, o uso de pretenso combate à corrupção para
acobertar corruptos-amigos e acabar com políticas de integração social, a perda
da auto-estima da Nação brasileira com a entrega de nossas riquezas, com a
liquidação de nossa engenharia de grandes obras e sua substituição por
engenharia estrangeira.
Precisamos estar atentos á gravidade da crise que nos
assola. Não se deixar iludir, nem perder o rumo. Na Alemanha, numa fase de
grande crise, no final da década de 1930, essas idéias de extrema-direita
ganharam a cabeça de multidões, que começaram a enxergar, no seu amigo seu
inimigo, e no inimigo encapuchado, seu amigo, seu líder. O homem que se
apresentou como puro, incorruptível , defensor da ordem e da tolerância zero
para os que não eram da raça "pura", ou eram comunistas, ou judeus,
ou tinham diversidade de orientação sexual, cresceu, sob palmas torrenciais.
Foi Hitler.
* Haroldo Lima é membro da Comissão Política Nacional do
Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.
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