A líder indígena Milagro Sala completa, nesta segunda-feira
(16), exatamente 365 atrás das grades. Ela foi presa há um ano em sua casa, na
província de Jujuy, Argentina, acusada de “obstruir vias” e “perturbar a ordem
pública”. Mulher, parlamentar do Parlasul e presidenta da organização de bairro
Tupac Amaru, Milagro é a primeira presa política do governo de Maurício Macri,
que se elegeu com a promessa de “Argentina para todos”.
À época, Milagro liderava uma manifestação em frente ao
palácio do governo de Jujuy para exigir uma audiência com o governador Gerardo
Morales, aliado de Macri. A organização Tupac Amaru dedica-se à luta pela
construção de moradias populares. Enquanto estava em casa, para tomar banho,
trocar de roupa e voltar à praça, mais de 40 oficias invadiram a residência e a
levaram detida. Antes de sair, ela publicou uma última mensagem em sua conta
oficinal no Twitter onde afirmava que o regime democrático estava sendo
violado.
Desde então, milhares de ativistas dos direitos humanos
promoveram manifestações na Argentina e em diversos países do mundo para exigir
a liberdade de Milagro. Além disso, o papa Francisco intercedeu em defesa da
dirigente junto ao presidente Maurício Macri e a ONU exigiu a “imediata
libertação” da parlamentar do Parlasul.
Na Argentina, diferente do Brasil, os parlamentares do
Parlamento do Mercosul são eleitos através do voto direto, este é o caso de
Milagro. Seus colegas deputados, e o presidente da Casa, o brasileiro
Florisvaldo Fier (Dr. Rosinha), também emitiram documentos oficiais em defensa
da libertação da dirigente e não foram atendidos.
Durante a última década os governos de Néstor e Cristina
Kirchner optaram pelo diálogo com os movimentos sociais. Este, porém, não é o
método escolhido pelo neoliberal Maurício Macri que em menos de 30 dias de
governo já tinha sua primeira presa política. Depois de Milagro outros
militantes da organização Tupac Amaru foram detidos e dezenas de manifestações
reprimidas com extrema truculência policial.
Macri se elegeu com promessas de aumento dos postos de
trabalho e “Argentina para todos”. Mas o balanço deste primeiro ano mostra
exatamente o contrário: inflação descontrolada (considerada a mais alta em mais
de duas décadas), maior quadro de desemprego dos últimos anos (no início do
governo chegaram a ser demitidas mais de mil pessoas por dia) e reajustes
constantes nas tarifas de serviços básicos (gás, por exemplo, já teve aumentos
de mais de 300%).
Diante do cenário catastrófico, é natural que a população
saia às ruas para exigir um posicionamento do governo, o que recebe em
resposta, no entanto, é bala de borracha e cassetete da polícia. A repressão
policial usa de uma violência que não havia sido registrada durante a última
década.
Em meio a isso, Milagro Sala permanece presa, sem
perspectiva de recorrer em liberdade. No cárcere, a dirigente já fez uma greve
de fome, que precisou ser interrompida devido à complicações de saúde, escreveu
cartas e apelos a autoridades locais e recebeu o apoio de ativistas do mundo
inteiro.
Depois de detida, Milagro foi acusada de estar envolvida em
“mau uso” dos recursos destinados à construção de moradias populares através da
gestão da organização Tupac Amaru, porém nada foi provado contra ela. A ONU
considera a prisão abusiva e o papa falou sobre o caso mais de uma vez ao longo
destes 12 meses. Macri segue irredutível, sem dar ouvidos aos pedidos de
justiça.
Via - Portal Vermelho
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