A chilena Violeta Parra (1917-1967) viveu múltiplas vidas ao
longo de seus 49 anos. Foi cantora e compositora, ofício pelo qual foi mais
reconhecida, mas também compiladora de música folclórica e artista plástica.
No
centenário de seu nascimento – celebrado neste ano no Chile com publicação de
livros sobre sua obra, festivais, concertos, exposições e congressos
internacionais –, o país a homenageia como uma criadora diversa e promove o
reconhecimento de seu legado sob uma perspectiva integral.
“Por que Violeta Parra transcende?”, pergunta-se a
pesquisadora Paula Miranda, uma das maiores especialistas em sua figura.
“Porque tem um trabalho com a palavra muito sofisticado. A dimensão poética
está presente em toda sua obra”.
Miranda fala de Violeta Parra como uma das melhores poetas
da música e ressalta que a discussão sobre a entrega do Nobel de Literatura a
Bob Dylan no ano passado também poderia valer para a cantora e compositora
chilena: “Existe muita poesia fora dos livros e a poesia, além do mais, era
cantada em sua origem”.
Miranda, doutora em Literatura e autora do estudo La Poesía
de Violeta Parra, publicado em 2013, cita como exemplo um dos hinos mais
conhecidos da criadora: “A poesia em sua máxima expressão é aquela que consegue
transformar o mundo, e isso é o que Parra faz em Gracias a la Vida. Por um lado
agradece e, por outro, tenta retribuir algo que recebeu da vida. Sua arte não é
de adorno, nem de entretenimento, mas de reflexão e emoção. Acompanha as dores
e os amores humanos”, diz a pesquisadora.
A força da palavra que marca toda a obra de Violeta Parra
está registrada no livro Poesía, editado em 2016 pela Universidade de Valparaíso.
Com organização, estudo e notas a cargo de Miranda, Parra é concebida como
poeta, como foi reconhecida por contemporâneos seus como Pablo Neruda, Pablo De
Rokha e o próprio Nicanor Parra, seu irmão mais velho. É uma das obras que
começaram a ser publicadas no Chile por ocasião do seu centenário de
nascimento. Nas próximas semanas, a jornalista especializada em música popular
chilena Marisol García lançará a pesquisa Violeta en Sus Palabras (Ed. Diego
Portales), que reúne 14 entrevistas desconhecidas que a artista concedeu no
Chile, na Argentina e na Suíça.
“Violeta Parra nunca foi uma artista oficial”, observa
García, também autora do livro Canción Valiente, sobre a história da música
política chilena. “No Chile, ela teve um reconhecimento intermitente porque, em
alguns momentos, o país foi injusto e tendencioso com relação à arte popular”.
Está em preparação uma ambiciosa biografia sobre Parra,
ainda sem data para publicação, e em fevereiro será lançado um livro sobre a
influência da cultura mapuche na obra da artista, elemento essencial para
entender melhor seu legado.
Escrita por Paula Miranda e pelas acadêmicas Allison Ramay e
Elisa Loncon, a pesquisa, que será publicada pela Pehuén Editores, se baseia
nas gravações de 40 canções tradicionais mapuches compiladas por Violeta Parra
no sul do Chile entre 1957 e 1958. Desconhecidos até agora, os arquivos
sonoros, que incluem suas conversas com cantores indígenas, se tornaram uma
espécie de elo perdido.
Para comemorar o centenário de Parra, nascida em 4 de
outubro de 1917, o Chile preparou uma extensa programação. “Homenagear Violeta
Parra é um dever de nosso país para que as novas gerações tenham a oportunidade
de conhecer sua visão de mundo, seu contundente aporte às artes e a força
criadora de uma figura que foi capaz de transpor fronteiras”, explica o
ministro da Cultura, Ernesto Ottone Ramírez. “Como Conselho da Cultura,
trabalharemos em 2017 para que o Chile se vista de Violeta, seja inundado por
suas canções e seu nome saia pelo mundo levando parte de nossa identidade a
diferentes rincões, divulgando um legado cuja influência permanece viva entre
artistas e cidadãos”.
À margem da agenda oficial, a população chilena também
começa a se organizar espontaneamente em diferentes localidades para homenagear
sua cantora mais internacional e mais querida.
Museu
Com um ano e três meses de funcionamento, o Museu Violeta
Parra já recebeu 110.000 visitantes. Localizado no centro de Santiago, é o
primeiro no país dedicado exclusivamente ao legado da artista.
Para comemorar os 100 anos de seu nascimento, o museu
apresentará, em 2017, mais de 80 recitais, oferecerá cerca de 250 visitas
guiadas e um programa de cinema, entre outras atividades.
“Encerramos esse bem-sucedido 2016 com muita energia,
prontos para o próximo ano, em que renovaremos a oferta museológica e
ampliaremos as atividades educativas e de extensão”, diz Cecilia García-Huidobro,
diretora da instituição.
Fonte: El País
Via- Portal Vermelho
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