Há gente que deseja mesmo que o Brasil se torne uma
república dos bananas. Por exemplo, reelegeram maciçamente o Alkmin em São
Paulo.
Por Flávio Aguiar*, na Carta Capital
O Brasil é diversificado demais para poder ser enquadrado na
expressão “banana republic”. Tecnicamente, a expressão descreve "um país
politicamente instável, cuja economia depende largamente de um produto de
exportação de fonte limitada, com classes sociais estratificadas, incluindo uma
grande classe trabalhadora empobrecida, e uma plutocracia governante de elites
empresariais, políticas e militares". Estou citando a Wikipédia a
respeito.
Mas trocando em miúdos, já fomos uma “república do café”.
Apesar do tamanho, caberíamos na definição acima dada. Aliás, república do
“café com leite”, a República Velha, oligarca, antidemocrática, antipovo, onde
“a questão social era uma questão de polícia”. Um modelo a ser seguido, se
acreditarmos no repúdio pessedebista à "era Vargas", que vai para
trás, não para diante.
Mas o PSDB e sua atual candidatura quer nos transformar numa
“república de bananas”, isto é, gente crendeira, supersticiosa, que acredita em
miragens e por isto fica sem iniciativa, segundo o Houaiss (o dicionário).
Por exemplo, vamos tomar a questão da reeleição. Assunto
polêmico! FHC negociou – quer dizer, comprou – a reeleição, como projeto para
se reeleger. Agora Marina exige o fim da reeleição, e Aécio promete no programa
– sim, mas para 2022, quer dizer, para depois de dois possíveis mandatos
seus... É um convite para bananas, ou não é?
Vamos a outro espinhoso problema: Marina, que afia os dentes
para apoiar Aécio, propalava a “independência” do Banco Central. Esta tese –
furada – vai ao encontro da propalada “tecnicidade” das decisões do BC. Quem
acredita nisto? O PSDB sempre apostou numa taxa elevada de juros para
beneficiar o capital rentista, em detrimento do crédito para a população. Quem
quiser que conte outra. Só banana acredita nisto.
Segurança? Li um comentário de um comerciante no Rio que
iria apostar no Aécio porque era preciso dar duro na criminalidade. É um destes
comentários que não leva em conta que o Brasil tem 27 polícias estaduais,
inclusive as militares, mais a do DF, e que é preciso uma política de ampla,
geral e irrestrita melhoria social, com pleno emprego, escola para os mais
jovens, etc., para enfrentar o problema da segurança. E precisa melhorar a
formação dos policiais. O PSDB vai fazer isto? Ora, pergunte ao Armínio Fraga,
para quem um aumento do desemprego faria bem para o Brasil, pressionando os
salários para baixo e tornando o país mais competitivo. Veja a polícia do
Alckmin... Uma proposta digna de quem se considere banana para acreditar.
Bom, aí vem a propalada “ideologização da política externa”
de que o PT foi campeão. Ora, a diversificação de nossas relações externas só
nos podem fazer bem, ampliando mercados, alianças, vetores para o futuro como o
novo banco internacional projetado com os demais BRICS. Ah não, dizem os
arautos do PSDB: vamos considerar que a “política externa brasileira foi
superdimensionada” ( o que será que isto quer dizer?), vamos voltar ao que era
antes não no quartel do Abrantes, mas no quartel das nações responsáveis pela
quebradeira mundial, Estados Unidos e Zona do Euro, e de cabeça baixa e
contrita. Melhor “ideologização da política externa” impossível, boa para
bananas.
E aí chegam os temas da reforma política e do combate à
corrupção. Alguém acredita que o PSDB vai promover uma reforma política? Só se
for banana. A passada aliança e ainda presente do PSDB com o DEM que o diga.
Combate à corrupção? Compare os números das ações da Polícia
Federal durante os governos do FHC e os de Lula e Dilma. Sem ser membro efetivo
da OCDE (Organização para a Cooperação pelo Desenvolvimento Econômico), mas
convidado, o Brasil preside a sua comissão de combate à corrupção. O programa
federal do Brasil de combate à corrupção mereceu elogios e é citado como
exemplo pela ONU. Engolir a pecha de que o PT é o ovo da serpente da corrupção
no Brasil e que o PSDB vai dar um jeito nisto é coisa de banana. Quem quiser
que engula.
Alguém aí acredita que o PSDB vai melhorar o tratamento do
meio ambiente, da questão indígena, dos quilombolas. Só banana...
Enfim, por aí se vai. Mas há gente que deseja mesmo que o
Brasil se torne uma república dos bananas. Por exemplo, reelegeram maciçamente
o Alkmin em São Paulo, o governador que está sequestrando o sistema hídrico do
estado, e ainda elegeram o Serra senador, o cara que prometeu ficar na
Prefeitura até o fim do mandato e saiu de fininho pela porta dos fundos para
disputar outro cargo.
Haja banana!
*Pesquisador e professor de Literatura Brasileira da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
Via Portal Vermelho
Nenhum comentário:
Postar um comentário