O Homem que filmou e fotografou Lampião e seus cabras!
Por: *Rostand Medeiros
Rostand Medeiros
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Lampião recebe uniformes, armas novas, se encontra com Padre
Cícero, concede entrevistas e se deixa fotografar. Segundo o pesquisador
Frederico Pernambucano de Mello (op. cit.), a figura que coordena o assédio ao
“Rei do Cangaço” não é outro se não o próprio Benjamim Abrahão. Afirma o
pesquisador que a partir deste encontro surgiu uma amizade entre o libanês e o
cangaceiro, bem como o germe da ideia de ser realizada uma película mostrando a
vida de Lampião.
Apesar do autor de “Guerreiros do sol” haver entrevistado
Lauro Cabral de Oliveira, uma das pessoas que esteve com Lampião naquela
ocasião para realizar entrevistas e fotografá-lo, que teve seu acesso ao
cangaceiro garantido por Abrahão, acreditamos que a ideia surgiu na cabeça do
libanês algum tempo antes.
Em 1925 foi produzido “Joaseiro do Padre Cícero”, um filme
que buscava contar a vida e o trabalho do Padre Cícero Romão Batista. Rodado em
película de 35 milímetros, a um custo de 40 contos de réis, esta obra tinha o
objetivo de criar uma propaganda positiva em relação à ação política e social
do padre, além de mostrar o desenvolvimento da cidade de Juazeiro. Nesta época
o Padre Cícero sofria na imprensa dos grandes centros do Brasil uma feroz
enxurrada de críticas e comentários negativos sobre a sua figura, a sua
trajetória política e a mistificação que se criava em torno de sua pessoa.
Fachada do Cine Moderno em Fortaleza
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A direção do filme coube ao cearense Adhemar Bezerra de
Albuquerque e sua primeira exibição ocorreu no mesmo ano de sua produção. O
local escolhido foi o Cinema Moderno, em Fortaleza, um empreendimento que foi
inaugurado em 1921 e ficava na Praça do Ferreira. Depois de seu lançamento, a
película foi apresentada em várias capitais brasileiras, chamando a atenção da
crítica e do público. Certamente um dos que se impressionou com o sucesso da
obra foi Benjamim Abrahão. Provavelmente
o diretor Adhemar Bezerra de Albuquerque, seguramente um dos principais
pioneiros e expoentes do cinema cearense, que produziu muitos documentários em
35 milímetros, deve ter criado laços de amizade com o libanês durante a
produção deste filme e certamente o imigrante participou de alguma maneira da
concretização desta produção.
Ao longo dos anos o libanês continuou com o seu trabalho ao
lado do Padre Cícero, mas em julho de 1934, aos 90 anos o seu patrão e protetor
faleceu. É provável que sem maiores perspectivas ressurja na cabeça do libanês
a ideia de mostrar ao mundo o cangaceiro Lampião, entrevistá-lo e conseguir
assim se tornar o primeiro homem a filmar o “Grande Rei do Sertão”.
Ademar Albuquerque
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Percebemos que não é de hoje que a figura de Lampião
alavanca negócios. O proprietário da Aba-Film lhe cedeu uma câmera, que segundo
Frederico Pernambucano de Mello (op. cit.), seria de 35 milímetros, da marca
Ica. Rolos de filmagem da empresa Gevaert-Belgium, um tripé e uma câmera
fotográfica desenvolvida pela empresa alemã de produtos óticos Carl Zeiss, até
hoje uma conceituada marca no meio fotográfico.
Benjamim estava munido com máquinas de conhecida qualidade e
portabilidade, que certamente lhe trariam um ótimo resultado visual.
Evidentemente que o imigrante libanês não seria tão louco a ponto de comentar
quem o ajudou nesta empreitada. Mas seria praticamente impossível ele chegar
próximo a Lampião sem a ajuda dos grandes coronéis do interior de Pernambuco.
Ele teria buscado o apoio de Audálio Tenório de Albuquerque, então o todo
poderoso comandante da cidade de Águas Belas e de outros coronéis da região
próxima ao rio São Francisco. Esta hipótese se baseia na informação transmitida
por Frederico Pernambucano de Mello, que nos seus últimos anos da vida de Lampião,
teria sido o coronel Audálio Tenório uma pessoa com forte aproximação com este
chefe cangaceiro. (Mello, op. cit., pág. 325).
De toda maneira Benjamim Abrahão conseguiu seu intento. No
jornal Diário de Pernambuco, nas edições de 27 de dezembro de 1936 e 12 de
janeiro de 1937, Abrahão relatou detalhes dos seus encontros com Lampião e seu
bando.
Juriti, à esquerda e Mergulhão à direita
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Em narrativa franca e aberta, o libanês demonstra ao seu
entrevistador, com certo orgulho, que a sua empreitada havia durado mais de um
ano, precisamente 18 meses. Informava que havia passado pelos estados da
Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Bahia. Ele entrou no sertão com uma
roupa de “brim azulão” e suas máquinas a tiracolo. Afirmou que passou “fome e
sede”, mas trouxe “um punhado de notas suficiente para seu livro de
impressões”. Aparentemente estas impressões estariam contidas em seus diários.
O contato inicial de Abrahão com o bando de Lampião, segundo
suas afirmações para o Diário de Pernambuco, foi num dia bastante quente e os
primeiros com quem ele esteve foram os cangaceiros Mergulhão e Juriti.
Continua...
*Rostand Medeiros - Pesquisador e Escritor.
Via – Seminário Cariri Cangaço
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