Este texto faz parte da série Heróis da América, que aborda
jogadores, treinadores e dirigentes que fizeram história nos países
latino-americanos, mas que nem sempre são bem conhecidos por aqui.
Ao longo da história, a seleção peruana foi comandada por
técnicos conhecidos do torcedor brasileiro. Desde nomes como Didi (1968 a 1970)
e Tim (1980 a 1982), até nomes mais recentes como Francisco Maturana (1999 a
2000), Paulo Autuori (2002 a 2005), Sergio Markarian (2010 a 2013) e Ricardo
Gareca (2015). No entanto, o técnico mais estimado da história do futebol
peruano ficou conhecido por suas conquistas em casa – e por protagonizar uma
das mais tristes páginas da história do futebol mundial.
Nascido em 11 de julho de 1928, Marcos Calderón teve uma
trajetória discreta como jogador. Estreou no fim da década 40 pelo modesto Club
Carlos Concha, antes de se transferir para o Sport Boys. Em 1951, foi campeão
peruano, o único título em seu currículo como jogador. Em 1956, aos 28 anos,
aposentou-se dos gramados, tornando-se auxiliar do Alfonso Huapaya – justamente
seu treinador no título de 1951.
Em 1958, Calderón assumiu o comando do Sport Boys, e só
deixou o cargo em 1962. Logo em seu primeiro ano, conquistou o título do
Campeonato Peruano; no entanto, em 1962, deixou a equipe com o pior desempenho
de sua carreira (três vitórias e cinco empates em 18 partidas). De lá, passou
por Defensor Lima (1963) e Universitário (1964 a 1968).
Marcos Calderón (à esquerda), no título do Sport Boys em 1958 |
Em alta no futebol nacional, Calderón foi chamado para
comandar a seleção peruana na Copa América de 1975 – função já desempenhada por
ele entre 1965 e 1967, quando comandava o Universitário. Em sua equipe, o
treinador contava com uma geração de nomes como Teófilo Cubillas, Hugo Sotil,
Juan Carlos Oblitas e Héctor Chumpitaz. Nos gramados chilenos, não decepcionou
e conquistou o título: passou por Chile e Bolívia na fase de grupos, Brasil nas
semis e Colômbia nas finais.
Foi o segundo título do Peru na Copa América, e,
curiosamente, o único de Marcos Calderón como técnico da seleção peruana. O
time ainda conseguiu a vaga na Copa do Mundo de 1978, na qual liderou a
primeira fase com o primeiro lugar do Grupo D (à frente da vice-campeã
Holanda), mas se despediu com três derrotas na segunda fase, inclusive o
polêmico 6 a 0 frente à anfitriã Argentina na última rodada.
Calderón deixou então a seleção peruana (à qual se dedicava exclusivamente desde 1976) no ano seguinte. Entre 1979 e 1981, comandou novamente o Sporting Cristal, faturando mais dois títulos nacionais (1979 e 1980). Nos anos seguintes, passou por Tigres-MEX (1981), Deportivo Municipal (1982), Deportivo Táchira-VEN (1983) e Barcelona-EQU (1983), mas sem conquistar títulos. Em 1984, voltou ao Sport Boys, e foi campeão peruano novamente.
Marcos Calderón, erguido pelo elenco do Sporting Cristal (1980) |
Em 8 de dezembro de 1987, o Alianza Lima foi a Pucallpa para
enfrentar o modesto Deportivo Pucallpa, pela última das 18 rodadas do Torneo
Descentralizado – a fase nacional do Campeonato Peruano, após uma primeira fase
de grupos regionais que atuavam como classificatório. Na partida em questão, o
Alianza venceu por 1 a 0, com gol de Carlos Bustamante. Graças ao resultado,
garantiu o segundo lugar no Descentralizado e avançou para a Liguilla (fase
final do campeonato) com um ponto de bonificação.
No dia 9 de dezembro de 1987, quando voltava de Pucallpa, o
Fokker F-27 da delegação do Alianza acabou caindo no mar, a poucos quilômetros
do destino final. O único sobrevivente da tragédia foi o piloto Edilberto
Molina. Ao todo, 43 integrantes da delegação aliancista morreram – incluindo
Marcos Calderón, então com 59 anos.
A queda do avião do Alianza Lima causou grande comoção no
futebol sul-americano. Antes da final do Mundial Interclubes entre Porto e
Peñarol, foi respeitado um minuto de silêncio. O Colo-Colo emprestou jogadores
para a equipe peruana, ainda diante do impacto da morte dos jogadores do Green
Cross no Chile, em 1961. Com eles, e mais alguns jogadores juvenis, o Alianza
faturou a Liguilla, perdendo a final do Campeonato Peruano para o Universitario
em março de 1988.
Acabava assim, no mar, em 9 de dezembro de 1987, a carreira
do mais vitorioso treinador da história do futebol peruano. Em 29 anos, foram
11 títulos (dez por clubes e um por seleções). Na América do Sul, Marcos
Calderón foi o terceiro treinador que mais comandou equipes em jogos pela Copa
Libertadores – foram 94, atrás apenas do colombiano Gabriel Uribe (112) e do
uruguaio Luis Cubilla (94). No futebol peruano, ninguém jamais conquistou o
mesmo respeito.
Fotos e informações: Wikipedia, De Chalaca e RSSSF.
* Emanuel Colombari - Ex-Gazeta Esportiva.Net, Agora São
Paulo e Terra, escreve atualmente para o UOL. Já trabalhou com estatística
esportiva e torce para cerca de 15 times.
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