Este texto faz parte da série Heróis da América, que aborda
jogadores, treinadores e dirigentes que fizeram história nos países
latino-americanos, mas que nem sempre são bem conhecidos por aqui.
Quem foi o maior jogador da história do futebol paraguaio?
Romerito? Pense outra vez. Gamarra? Não. Chilavert? Arce? Não, nenhum deles.
Talvez você nunca tenha ouvido falar em Arsenio Erico, mas
deveria. Trata-se do mais respeitado jogador da história do Paraguai. Mesmo na
Argentina, o nome de Erico é bastante respeitado até hoje, mesmo quase 40 anos
após sua morte.
1934 (Crédito: Wikipedia)
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Nascido em Asunción, em 30 de março de 1915, Arsenio Pastor
Erico Martínez mostrou talento desde muito jovem. Aos 11 anos, passou a
integrar as fileiras inferiores do Nacional, estreando no time principal quatro
anos mais tarde, em 1930.
No entanto, em 1932, o Paraguai entrou em guerra com a
Bolívia, paralisando as atividades esportivas no país. Então, para arrecadar
fundos, a Cruz Vermelha paraguaia decidiu reunir alguns dos melhores atletas do
país para excursionar por outros países. Arsenio Erico, aos 17 anos, já estava
entre eles.
Durante a passagem do time da Cruz Vermelha pela Argentina,
Erico impressionou os dirigentes de Independiente e River Plate. Assinou então
pelo primeiro, estreando sem gols em uma partida contra o Boca Juniors no dia 6
de maio de 1934.
Não demorou, porém, para que Erico fizesse história no clube
de Avellaneda. Entre 1933 e 1946, conquistou três vezes o título da primeira
divisão argentina (1938, 1939 e 1942), além de ter sido o artilheiro da
competição por três anos seguidos (1937, 1938 e 1939). Pelo Independiente,
foram 295 gols, o que o colocam até hoje como o maior artilheiro da história da
Primera División – à frente de nomes históricos como Angel Labruna (293),
Martín Palermo (227) e José Sanfilippo (226).
Ao longo de seus 13 anos no Independiente, Erico ficou
conhecido como El Saltarín Rojo, ou “Saltador Vermelho”, graças a sua
habilidade de “permanecer” no ar para cabecear cruzamentos. Na Argentina,
causou furor ainda com sua habilidade, demonstrada com frequência com lambretas
e chutes de longa distância.
Arsenio Erico ficou famoso por sua cabeçadas (Crédito:
Wikipedia)
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Curiosamente, Arsenio Erico jamais disputou uma partida
oficial pela seleção do Paraguai – apenas extra-oficiais. Em 1937, o jogador
era nome certo na Albiroja que disputou o Campeonato Sul-Americano de Seleções
(antigo nome da Copa América) na própria Argentina. No entanto, não foi
liberado pelo Independiente e acabou virando desfalque. Fora da seleção, marcou
47 gols naquele ano pelo clube e levou o CAI ao vice-campeonato.
Arsenio Erico em1938
(Crédito: Reprodução/El Gráfico)
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O troco viria no ano seguinte. Com o Paraguai fora da Copa
do Mundo de 1938, a Argentina tentou convencer Arsenio Erico a defender o país
nos gramados da França. Erico recusou, e afirmou que jogaria apenas pelo
Paraguai. A resposta, surpreendentemente, valeu-lhe respeito entre os
argentinos, graças a sua lealdade.
Em 1941, Arsenio Erico se desentendeu com a diretoria do
Independiente por questões salariais. Irritado, voltou para o Paraguai, onde
jogou um torneio amistoso pela seleção local. Clubes como San Lorenzo e River
Plate demonstraram interesse pelo atacante, o que fez o Independiente ceder e
aumentar os vencimentos de seu astro.
O aumento, porém, não melhorou as relações entre o Saltador
Vermelho e a diretoria. No ano seguinte, Erico deixou o clube e voltou para o
Paraguai, disputando jogos pelo Nacional na reta final do Campeonato Paraguaio
– que o Nacional conquistou, depois de 16 anos de hiato.
Em 1946, já sem a mesma boa forma física, Arsenio Erico
deixou o Independiente e reforçou o Huracán. Sem o mesmo brilho, com sete jogos
e nenhum gol, foi embora do Globo no ano seguinte, retornando ao Nacional. Ali,
dividindo-se nas funções de jogador e treinador, aposentou-se em 1949 com o
vice-campeonato nacional.
Após o fim de sua carreira nos gramados, Arsenio Erico
continuou a viver na Argentina, embora passando longos períodos no Paraguai.
Nestes intervalos, teve raras experiências como treinador em clubes como o
próprio Nacional e o Sol de América – neste, conquistou o vice-campeonato
paraguaio em 1957.
Em 1977, sofrendo com problemas de saúde, Erico teve sua
perna amputada. No dia 23 de julho daquele mesmo ano, em Bueno Aires, morreu em
decorrência de uma parada cardíaca. Tinha 62 anos. Foi enterrado na própria
capital argentina, com parte dos custos da cerimônia paga pelo próprio
Independiente.
A decisão, no entanto, descontentou os paraguaios, que
esperavam que Arsenio Erico fosse enterrado em Asunción. Em 2009, as
autoridades paraguaias conquistaram o direito de enterrar os restos mortais do
ex-jogador em seu país-natal. Em 2010, o corpo de Erico foi transferido para o
Paraguai, sendo enterrado em um mausoléu no Estádio Defensores del Chaco.
O mausoléu de Arsenio Erico em Asunción (Crédito: APF)
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Como homenagem, o estádio do Nacional ganhou o nome de
Estádio Arsenio Erico. A modesta arena se localiza no Barrio Obrero, próximo
aos estádio de Cerro Porteño e Sol de América.
Fotos e informações: World Football Legends, El Gráfico, APF
e Wikipedia.
*Emanuel Colombari - Ex-Gazeta Esportiva.Net, Agora São
Paulo e Terra, escreve atualmente para o UOL. Já trabalhou com estatística
esportiva e torce para cerca de 15 times.
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