A recuperação da economia comemorada pelo governo se
explica, na verdade, por uma mudança metodológica nas pesquisas do IBGE a
partir de fevereiro de 2017, a qual afetou o nível das séries que compõem o
IBC-Br, indicador usado para medir a atividade econômica.
Por *Esther Dweck
O governo comemorou ontem (15/5) o que seria o primeiro
sinal de recuperação da atividade econômica após oito trimestres de quedas
sucessivas do Indicador de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Mas o
que explica o aumento em tal índice, quando todos os demais indicadores,
especialmente o emprego, apontam para um movimento contrário?
Esse resultado foi muito influenciado por uma mudança importante
em duas das séries que compõem esse indicador e que têm um peso muito elevado.
Quando olhamos a série mensal do IBC-Br, observa-se que o
aumento no último trimestre foi decorrente de um aumento apenas no mês de
fevereiro, sendo que já em março é possível verificar uma queda no mesmo
indicador.
A principal explicação para esse resultado do mês de
fevereiro foi a mudança metodológica nas Pesquisas Mensais de Comércio e
Serviços do IBGE, cuja alteração afetou o nível dessas séries de forma
significativa, conforme pode ser visto no gráfico abaixo.
A série antiga, que foi divulgada até jan/2017, apresentava
uma clara trajetória de queda. Em abril de 2017, a série foi revisada e um novo
valor para janeiro foi divulgado, em um nível consideravelmente acima do que
havia sido divulgado anteriormente. Como pode ser visto no gráfico, houve um
evidente deslocamento para cima da série, que nos meses seguintes voltou a
apresentar sucessivas quedas, tanto em fevereiro quanto em março, em relação ao
mês imediatamente anterior.
Por parte do IBGE, não houve qualquer mudança nos dados de
dez/2016 para trás e, dessa forma, o crescimento do mês de janeiro, em relação
a dezembro, foi consideravelmente elevado e acima de qualquer outro crescimento
apresentado ao longo de toda a série histórica.
O grande problema é que, em fevereiro, o IBC-Br foi
calculado já utilizando a nova série, o que claramente deslocou o nível da
série do IBC-Br sem que efetivamente se verificasse uma mudança na sua
trajetória. Com isso, o resultado do índice de fevereiro foi muito alto e a
soma dos três primeiros meses mostrou-se acima do trimestre anterior.
Portanto, esse aumento do índice em fevereiro não decorre de
qualquer mudança efetiva da economia, mas de um deslocamento das séries que
compõem o IBC-Br, sem representar qualquer alteração na trajetória das séries.
Como nos meses seguintes essas mesmas séries voltaram a cair, o indicador de
março já refletiu tal movimento.
Em relação ao PIB, que será divulgado em 1/06/2017, o efeito
dessa mudança das séries da PMC e PMS deve ser menor, pois há no cálculo do PIB
mais controles, o que evita que tais variáveis determinem sozinhas a trajetória
do mesmo. Ainda assim, haverá algum efeito que não deve ser visto como uma
efetiva saída da recessão, sob o risco de ficarmos iludidos com um resultado
que é meramente um efeito estatístico.
Crédito da foto da página inicial: Agência Brasil/Portal
Brasil.
*Esther Dweck: Professora da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) e assessora econômica do Senado Federal.
Via Brasil Debate
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