Ao tentar explicar a polêmica revisão dos indicadores
relativos ao desempenho do comércio e dos serviços em janeiro, o economista
Paulo Rabello de Castro, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), terminou se contrapondo ao discurso oficial do governo. De
acordo com ele – e ao contrário do que diz Michel Temer -, o cenário “é muito
ruim” e o ambiente econômico "não melhorou".
“O mercado já não aguenta mais as idas e vindas de um país
que, de fato, não consegue acordar do sono da grande recessão em que ainda está
metido”, disse Castro, em entrevista ao Valor Econômico. As declarações
desmontam a tese de que o Brasil já passa por uma recuperação econômica, algo
que a equipe de temer insiste em repetir.
De acordo com o economista, o quadro atual tende a agravar
“a síndrome de confiança” e justifica preocupação. “Tudo o que essa administração
tem tentado fazer desde o dia 1, que foi comemorado há dias o primeiro ano, foi
reinstituir a confiança. E, no momento em que politicamente essa confiança é
desmontada no seu aspecto mais visceral, que é a confiança na atitude do
governante, realmente é para ficarmos muito preocupados”, afirmou.
Questionado sobre como avaliava o futuro político com a
crise e a eleição em 2018 para a economia, ele defendeu que a reportagem
reformulasse a pergunta. “Porque diante de tamanha hecatombe não se pode mais
projetar 2018 como sendo ano eleitoral. Há uma hipótese de que eleição possa
vir a ser antecipada, inclusive por uma decisão unilateral do nosso presidente
atual, na medida em que se sinta desconfortável. A gente realmente não sabe
nesse momento o que tende a acontecer”, analisou.
Em abril, o IBGE revisou os indicadores relativos ao
desempenho do comércio e dos serviços em janeiro e terminou gerando
questionamentos e dúvidas. A princípio, o órgão havia anunciado que, no
primeiro mês do ano, as vendas do comércio caíram 0,7% em relação a dezembro, e
os serviços recuaram 2,2%. Com a revisão, houve uma mudança brusca nos
resultados. O comércio teria crescido 5,5% e o setor de serviços, 0,2%.
Ao ser indagado sobre o assunto, Castro buscou “explicações
técnicas e enumerou três razões para o que chama de "condição
excepcional": uma amostra menor que a usual, um resultado do mês de
dezembro muito ruim, e a não retropolação do índice”, publicou o Valor.
A respeito de uma possível interferência do governo, em um
momento em que se buscam números melhores na economia, ele defendeu o
instituto: "Que se dane o governo. Eu não 'tô' aqui nem para produzir
dados bons nem dados ruins para ninguém. Os dados são o que são."
Do Portal Vermelho, com Valor Econômico
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