País comemorou restauração da independência com eleição de
novo presidente, um ex-guerrilheiro.
Mulher timorense exibe marca no dedo após votar para
presidente no último sábado / U.S. Embassy - Dili, Timor-Leste.
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Júlia Dolce
Brasil de Fato
Um dos países mais novos do mundo, a República Democrática
do Timor Leste comemorou, no último sábado (20), os 15 anos da restauração de
sua independência. No mesmo dia, foi eleito, com 70% dos votos, o novo
presidente do país, o ex-guerrilheiro Francisco "Lú-Olo" Guterres.
Localizado no sudeste asiático, o país tem 1,2 milhão de habitantes.
O novo presidente é uma aposta popular para o futuro do
país. Em seu discurso de posse, ele, que é membro da Frente de Libertação de
Timor-Leste Independente, ressaltou que ainda há muito a ser feito no país:
"Nós deveríamos ter orgulho do tanto que foi feito nos últimos 15 anos,
mas devemos estar atentos ao fato de que ainda há muito a ser feito".
Antero Benedito, professor da única universidade pública do
país, a Universidade Nacional Timor Lorosa'e (UNTL), concorda, em entrevista
para o Brasil de Fato. Para ele, embora a restauração da independência tenha
sido muito importante para o país, ainda há muitos desafios sociais e
econômicos a serem enfrentados pelo novo governo:
“A 50 minutos de viagem fora da cidade [de Díli, capital do
país] há um município totalmente diferente, uma estrada muito ruim, onde
algumas pessoas não têm luz. [Elas têm] uma vida ainda de subsistência
economicamente”, relata. Ele pontua ainda outras dificuldades enfrentadas: “as
pessoas não podem frequentar a escola da universidade por conta da distância e
não têm meios econômicos para continuar os estudos. A sociedade ainda não
conseguiu chegar a um lugar ideal".
Benedito conta que organizou um encontro entre estudantes
universitários e camponeses que vivem próximos de Díli para celebrar o
aniversário da independência. "Eu, como professor da universidade, também
trabalho com os camponeses em zonas de café onde existem latifundiários e
celebramos de uma forma diferente: Nós levamos por volta de 100 pessoas, entre
grupos de estudantes universitários e camponeses e celebramos os 15 anos da
restauração da independência".
Independência
Além da eleição, neste sábado também ocorreu a inauguração
da estátua do primeiro presidente do país e fundador da Frente de Libertação de
Timor-Leste Independente, Francisco Xavier do Amaral, que governou o país entre
1975 e 1977.
“A combinação entre os dois eventos: a eleição do novo
presidente e a inauguração da estátua do lendário Francisco Xavier do Amaral,
fez a data ainda mais especial. A sua capacidade de fazer discursos públicos e
influenciar as comunidades indígenas para apoiarem a luta de independência foi
lendária. Ele foi uma pessoa muito importante.", explicou.
Ele pontua que a memória e importância da revolução ainda
segue forte para os timorenses. O país foi uma colônia portuguesa por pouco
mais de 400 anos, tendo conquistado sua independência com a Revolução dos
Cravos, em Portugal, em 1974.
No entanto, o país foi invadido pela Indonésia no ano
seguinte, o que levou ao processo de resistência armada que conquistou a
restauração da independência em 2002. "O movimento lançou uma resistência
armada, política diplomática e uma resistência civil na clandestinidade dentro
das cidades da Indonésia. Essa resistência foi de natureza popular, um
movimento do povo de todas as frentes", conclui.
Edição: Vanessa Martina Silva
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