Apesar do desgaste com a Greve Geral, governo evita novo
adiamento, mas sofre com resistência de aliados.
O relatório do deputado federal Arthur Maia (PPS-BA) sobre a
reforma da Previdência deverá ser votado na comissão que debate a matéria nesta
quarta-feira (3) pela manhã. A informação foi dada na tarde desta terça (2)
pelo presidente do colegiado, o deputado governista Carlos Marun (PMDB-MS),
durante a última sessão de discussão da proposta.
A informação vai de encontro à expectativa de que a comissão
poderia postergar a votação, que já sofreu outros adiamentos, como resultado do
acirramento da polêmica em torno da matéria, estampada na Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 287.
Rejeição
O trâmite da reforma é diretamente impactado pelo aumento da
rejeição popular à medida. Segundo pesquisa Datafolha divulgada nessa
segunda-feira (1º), 71% dos brasileiros se opõem à PEC. Entre os funcionários
públicos, por exemplo, o índice é ainda maior, chegando a 83%. Os números
ajudam a explicar a adesão à greve geral, realizada na última sexta-feira (28),
que paralisou o país, chamando a atenção para a oposição popular às medidas de
austeridade. É o que consideram membros da oposição no Congresso.
“O governo sabe que foi uma greve vitoriosa, que teve não só
uma adesão muito grande como não foi só nos grandes centros, tendo chegado a
municípios de médio e pequeno porte, nestes fundamentalmente por conta da
adesão de agricultores familiares, prefeitos e vereadores, inclusive de
partidos da base que são contra a proposta”, destacou o deputado Pepe Vargas
(PT-RS), um dos titulares da comissão que avalia a PEC 281.
Matemática
Para o parlamentar, a oposição tende a angariar cerca de 12
ou 13 votos contrários à reforma no colegiado. “Isso porque tem deputado que é
da base de apoio do Temer, mas é contrário à proposta e por isso foi
substituído na comissão, então, não acredito que a gente deva fazer mais que
isso. Onde ele não tem voto suficiente para aprovar é no plenário, porque hoje
o governo deve ter em torno de 250 ou 260 votos”, calcula o petista.
Segundo Marun, o governo conta com pelo menos 22 dos 37
votos do colegiado, onde é necessária apenas maioria simples para a aprovação.
No plenário, o desafio é potencialmente maior porque é preciso somar 308 votos,
o que corresponde a cerca de 60% do total de 513 deputados.
“Eu sei que vamos vencer”, bradou o peemedebista,
despistando os temores que teriam tomado conta dos bastidores do Planalto na
última semana, após a intensificação das mobilizações populares. Em coletiva
concedida à imprensa, Marun disse ainda que não considera a possibilidade de
tornar os prazos mais elásticos, reforçando a defesa da votação do relatório
nesta quarta.
Desgaste
Nos bastidores, alguns parlamentares apostam que, pelo fato
de ainda não ter o apoio necessário para colocar a matéria em plenário, a base
governista, ao votar o relatório esta semana, pode ampliar consideravelmente a
distância entre uma votação e outra, trazendo maior desgaste para o Planalto. O
hiato entre as duas votações tende a se caracterizar pela intensificação de
barganhas que resultem em liberação de emendas e oferta de cargos.
“É a corrupção do processo de conscientização de votação
aqui na Câmara”, criticou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), membro do
colegiado que discute a PEC. Para o psolista, o aumento da pressão popular
obriga os parlamentares a calcularem com precisão e cautela o voto que darão em
plenário.
“Os deputados não gostam de se suicidar politicamente,
então, eles estão avaliando o que significa o desgaste de votar uma proposta
que vai fazer com que eles não voltem ano que vem. Isso é o grande mediador.
Eles sabem que, quanto mais aumentar a pressão e mais esclarecida estiver a
população, mais eles perdem condição”, analisa o parlamentar.
Estratégia
Enquanto o governo corre contra o tempo para vitaminar o
apoio à PEC, a oposição tenta aprofundar o debate sobre a reforma com a
população, apostando no potencial aumento da rejeição à medida, que é
considerada a pauta mais impopular do momento.
Valente destacou que o movimento de oposição vem crescendo
exponencialmente. “Nós sabemos que essa retirada de direitos é um retrocesso
civilizacional de 100 anos no nosso país, e o povo já sentiu isso”, completa o
parlamentar.
Para o psolista, cabe à oposição neste momento explorar as
fragilidades governistas no atual cenário. “Eles querem votar rapidamente, mas
têm medo de perder, têm insegurança para votar, e essa é a grande contradição
do momento, por isso vamos continuar insistindo também para que eles retirem a
reforma da Previdência [de tramitação] na comissão e no plenário”, finalizou o
deputado.
Edição: José Eduardo Bernardes
Via – Brasil de Fato
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