Eleitores estadunidenses responderam sobre uso recreativo e
medicinal na cédula de votação; pesquisa aponta 60% de apoio à liberação da
erva.
Nesta terça-feira (8), quando os estadunidenses foram às
urnas escolher o sucessor de Barack Obama na Presidência e novos representantes
no Congresso, eleitores de nove Estados decidiram, também, se o consumo de
maconha deve ou não ser legalizado.
Arizona, Califórnia, Maine, Massachussets e Nevada votaram a
legalização da erva para uso recreativo por adultos, algo que já é realidade no
Distrito de Columbia e nos Estados do Colorado, Alasca, Oregon e Washington. Em
Arkansas, Dakota do Norte, Flórida e Montana, por sua vez, o que está em jogo é
a liberação do uso medicinal da cannabis, já permitido em 25 dos 50 Estados dos
EUA.
Pesquisa de opinião divulgada em outubro pelo instituto
Gallup revela que 60% dos americanos apoiam a legalização do consumo de
maconha, maior índice já registrado em 47 anos. Em 1969, quando essa pergunta
foi feita pela primeira vez, apenas 12% defendiam a mudança na legislação. Em
levantamento de 2013, após Washington e Colorado se tornarem os primeiros
Estados a permitir o uso recreativo da cannabis, a legalização passou a ter o
apoio da maioria da população (58%), segundo o instituto Gallup.
De acordo com o advogado Cristiano Maronna,
secretário-executivo da Plataforma Brasileira de Política de Drogas, o contato
da população estadunidense com experiências inovadoras ajuda a explicar essa
maior aceitação.
“Temos observado que os benefícios são maiores do que
eventuais aspectos negativos, e isso transformou a opinião do público. Da mesma
forma, a falta de contato com novas experiências contribui com a manutenção do
pensamento tradicional, de repulsa a qualquer mudança”, afirma.
“Em ambientes onde a maconha está mais disponível, como no
Colorado, as pesquisas revelam que o consumo entre adolescentes não aumentou,
até diminuiu. Isso mostra que regular [o comércio] é a via para reduzir o
acesso de crianças e adolescentes a uma substância que não é destinada a
crianças e adolescentes, como a maconha”, continua Maronna.
Relatório publicado em outubro pela organização Drug Policy
Alliance aponta que o consumo de maconha entre adolescentes não aumentou nos
Estados que autorizaram o uso recreativo. O estudo cita, por exemplo, pesquisa
realizada pelo Departamento de Saúde Pública do Colorado – onde existem
atualmente mais de 450 “dispensários“ – com 17 mil alunos dos ensinos
fundamental e médio (middle e high school) que indica ligeira queda no consumo
em 2015.
Questionados sobre o uso de maconha nos 30 dias anteriores à
pesquisa, 21,2% dos alunos afirmaram ter consumido a erva. Em 2009, três anos
antes da legalização no Colorado, esse índice era de 25%. O mesmo levantamento
apontou, ainda, que 43% dos alunos admitiram ter usado cannabis pelo menos uma
vez na vida em 2009, índice que baixou para 38% em 2015.
O relatório da Drug Policy Alliance aponta, ainda, que as
prisões por posse, cultivo e distribuição irregular da erva foram reduzidas
pela metade nos Estados que modificaram a legislação de drogas. Apesar disso, o
estudo afirma que negros e latinos continuam “mais suscetíveis” às prisões do
que os brancos.
Por fim, o relatório aborda os impactos positivos trazidos
pela legalização nas economias locais. No Colorado, por exemplo, o mercado
formal de cannabis rendeu 129 milhões de dólares em impostos no último ano
fiscal. O Estado de Washington, por sua vez, arrecadou 220 milhões de dólares
com a cannabis. Oregon iniciou recentemente a tributação, e no Alasca ainda não
há venda de maconha em dispensários.
No Brasil, estudo elaborado por um grupo técnico da Câmara a
pedido do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) apontou que a legalização da
maconha movimentaria um total de R$ 5,69 bilhões por ano no país.
Uma vitória do “sim” nos locais que levarão o tema a
votação, especialmente na Califórnia – primeiro Estado a autorizar o uso
medicinal, em 1996 –, pode mudar o rumo do debate sobre política de drogas não
só nos Estados Unidos, mas no mundo. Pelo menos foi essa a análise feita pelo
vice-governador do Estado, Gavin Newsom, em entrevista ao The New York Times.
"Se formos bem sucedidos, é o começo do fim da guerra
contra a maconha", disse Newsom ao jornal. "Se a Califórnia se mover,
vai colocar mais pressão sobre o debate da legalização no México e na América
Latina."
Além da legalização da cannabis, eleitores de ao menos 35
Estados dos EUA votaram sobre temas diversos como alteração na pena de morte,
porte de armas e uso de sacolas plásticas.
Fonte: Carta Capital
Via Portal Vermelho
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