“Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os
direitos das mulheres sejam questionados”.
Essa frase de Simone de Beavouir nunca fez tanto sentido. O
governo golpista enviou ao Congresso Nacional uma proposta de mudança nas leis
previdenciárias que determina que mulheres grávidas deverão ter, no mínimo, dez
meses de contribuição à Previdência para terem direito à licença-maternidade.
Atualmente, o benefício é concedido às mulheres com ao menos um mês de
contribuição previdenciária.
A proposta visa, ainda, limitar ainda as concessões de
auxílios-reclusão e aumentar a carência de um para 12 meses para o trabalhador
requerer afastamento por incapacidade.
Que a “crise” vem sendo empurrada nas costas dos
trabalhadores e dos mais pobres nós já sabemos – a PEC do fim do mundo não dos
deixa esquecer – mas é, no mínimo, de um cinismo inacreditável que a licença-maternidade
– uma das poucas políticas efetivas para mulheres no Brasil – seja questionada
em um governo que volta suas atenções para o “desenvolvimento da primeira
infância.”
Marcela Temer – com quem se trouxe de volta o
primeiro-damismo ao Brasil – em sua fala de lançamento do programa “Criança
Feliz”, defendeu a importância do cuidado materno e disse, no tom de bela,
recatada e do lar que lhe cabe, que “a cada dia que conversamos com nossos
filhos pequenos, carregamos nos braços e cantamos uma canção de ninar, estamos
ajudando em seu desenvolvimento.”
Agora, poucos meses depois, o governo de seu marido anuncia
que mulheres pobres não terão direito à licença maternidade remunerada. Aquelas
trabalhadoras autônomas que, a duras penas, conseguiam contribuir para o INSS
para cuidarem de seus filhos nos primeiros meses de suas vidas, terão que
trabalhar com os peitos escorrendo leite, deixando seus filhos sob os cuidados
de quem quer que seja – porque nem mesmo creches públicas de qualidade se tem
no Brasil – ou contarem com a ajuda material dos respectivos progenitores (que,
sabemos, muitas vezes sequer fazem jus a serem chamados de pais).
Sob qualquer ângulo, o governo golpista é uma farsa
mal-armada: na teoria, uma primeira-dama doce ressaltando a importância dos
cuidados maternos e, na prática, os direitos das mães brasileiras sendo
decepados por um governo completamente descomprometido e insensível às
minorias.
E é em um país como este que as mães são cobradas e
julgadas. É em um país como este – que oferece cada vez menos apoio às mães e
às mulheres de um modo geral – que a maternidade é romantizada e a paternidade
permanece sendo opcional.
As mulheres pobres e os trabalhadores – as mulheres pobres e
trabalhadoras, sobretudo – são os primeiros sacrificados em um país golpeado, e
isso não é surpresa: O que esperar de um governo que nasceu de um golpe
notadamente machista?
Somos um país órfão: da democracia, da justiça e dos
direitos sociais. E, agora, literalmente. Teremos uma legião de órfãos para que
nossas mães sejam cada vez mais exploradas e paguem a conta dos privilégios dos
mais ricos.
“Criança Feliz”, no Brasil, só se for Michelzinho.
Via - DCM
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