Ademais de todos os erros políticos de Dilma Rousseff, cada
dia fica mais evidente que o golpe parlamentar foi dado por Michel Temer, PMDB
e Cia para estancar a sangria da Lava Jato e manter todo tipo de impunidade no
Brasil. O impeachment serviu não apenas para dar sobrevida a corruptos.
Ele
está sendo usado para continuar corrompendo impunemente. É disso que se pode
exprimir da revelação do ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, que gravou
conversas com Geddel Viera e Michel Temer sobre as pressões para liberar o
espigão da Bahia.
A revelação de Calero à Polícia Federal de que gravou Geddel
e Temer o pressionando para liberar empreendimentos pessoais demonstra que o
atual governo federal é ocupado por uma camarilha de corruptos. Políticos que
estão no poder em busca de vantagens pessoais enquanto querem impor ao povo
brasileiro duro ajuste fiscal com a PEC da Maldade. Com isso, a classe política
afirma que a nação pagará tanto pela crise econômica como pela corrupção. E a
principal referência desse comportamento é Michel Temer. Ele representa o que
há de pior na vida pública no país.
Roubarás impunemente
Se Dilma tinha o bordão “Não roubo e não deixo roubar”,
Temer tem como lema “furtarás impunemente, meu amigo”. Não obstante, o próprio
presidente é alvo de mão na botija por ser acusado de ter recebido R$ 10
milhões da Odebrecht e tem cheque nominal de 1 milhão de Caixa 2 da campanha
presidencial, além de ser ficha suja por doação eleitoral acima de seu
“patrimônio declarado”. Portanto, não surpreende vir de sua boca a sentença
“esse é o jogo político”.
Se a situação de Geddel já ultrapassou todos os limites ao
pressionar seu colega para agir em favor da especulação imobiliária, a vida de
Temer não é mais fácil. É inevitável se perguntar quantos casos de pedido de
propina, negociata, suborno e afins chegaram aos ouvidos de Temer nesses seis
meses efetivos de presidência e ele acobertou por se tratar de aliados e
amigos?
Debaixo das asas
Aliás, em seis meses, o único projeto que Temer parece ter é
o PAC 171 — Proteção a Amigos Corruptos (por hora, investigados). São inúmeros
os casos em que ele agiu explicitamente ou nos bastidores para proteger
suspeitos de corrupção. Os casos mais emblemáticos são de Eduardo Cunha e
Romero Jucá. Para o primeiro, Temer tentou evitar a cassação, substituindo a
punição por uma pena mais leve, temendo que o ex-presidente da Câmara dos
Deputados abrisse a boca. Não evitou a cassação, mas, curiosamente, Cunha ainda
não disse o que sabe. Já Romero Jucá, famoso pela frase “Temer é Cunha”, deixou
o cargo de ministro após a revelação de que ele trabalhava para derrubar Dilma
Rousseff e frear a Lava Jato: “A solução mais fácil era botar o Michel num
grande acordo nacional”, teria dito Sérgio Machado em maio para escapar da
operação. Atualmente, ele é líder do governo no Senado Federal e trabalha,
entre outros para liberar a repatriação de dinheiro não declarado por políticos
e seus familiares.
Na outra casa, a Câmara dos Deputados, o líder de Michel
Temer, André Moura (PSC), é réu da Lava Jato e investigado por tentativa de
homicídio. Na semana que passou, ele foi um dos responsáveis por carta em apoio
a Geddel Viera Lima: “Estão fazendo tempestade em um assunto tão pequeno
enquanto temos assuntos muito maiores no Brasil. É um assunto para nós
superado”, disse o líder de Temer na Câmara.
“Inclua-se onde der”. Essa é a frase sugestiva da emenda sem
dono — ou com centena de pais e mães — que busca anistiar o Caixa 2. É uma elegia
a impunidade. Uma frase que deve entrar para os anais políticos tal qual
“podemos tirar se achar melhor”, que foi usada em reportagem citando corrupção
do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O “gol de mão” sem braço foi
criticado até pelo juiz Sérgio Moro. “Anistiar condutas de corrupção e de
lavagem impactaria não só nas e nos processos já julgados, mas na credibilidade
da democracia brasileira”, alegou o juiz.
Mas convenhamos, se a anistia passar na próxima terça-feira,
depois deve ser aprovada no Senado e ser sancionada por Temer com alguma
desculpa esfarrapada. O passo seguinte é algum deputado no listão da Odebrecht
confessar: “Fiz Caixa 2, estou arrependido, mas meu colega aqui do lado, que
também é citado, me perdoou”.
Via - Jornalistas Livres
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