Quando se lê, ao acordar, que em Goiânia, pertinho de nós,
um pai matou seu filho único, estudante de matemática na UFG, porque
participara do movimento de ocupação de escolas e, depois do crime,
suicidou-se, há algo de muito errado acontecendo conosco.
Por Eugênio Aragão*
Há quem dirá que a
culpa é dos "comunistas" que incitaram à ocupação de escolas.
Argumento fácil para adoçar neurônios intoxicados de ódio disseminado por todos
os meios de comunicação. Não percebem, porém, esses dedos apontados, que são
eles tão vítimas quanto o infeliz pai.
Fatos como este não acontecem por acaso. Não podem mais ser
qualificados de marginais. Eles fazem cada vez mais parte de nosso doentio
cotidiano. Estamos assistindo entorpecidos ao alastramento dessa psicose
coletiva, adredemente inoculada na sociedade, para tornar-nos incapazes de
reagir ao desmonte de nosso estado, nossa economia, nossa cultura e nosso modo
de ser e viver. Só não vê quem não quer ou quem já se deixou acometer por essa
epidemia.
Há quem possa e deva ser responsabilizado por isso. O
inimigo comum não é o outro que pensa diferente e faz escolhas outras que as
minhas. O inimigo comum é quem alastra o ódio para tornar nossa terra um
inferno em que se fica encapetando o próximo, longe da lição de homem de Nazaré
que nos ensinou a amá-lo.
Quem dissemina bronca, raiva, indignação seletiva pode se
considerar co-autor, participe dessa tragédia de Goiânia. Quem semeia o ódio na
população civil, orientado por objetivos políticos indisfarçáveis, com a
sistematicidade de uma campanha massiva de desinformação calculada, está
praticando crime contra a humanidade.
É só ler o Art. 7° do Estatuto de Roma que disciplina o
funcionamento do Tribunal Penal Internacional e lembrar-se do precedente do
Tribunal de Ruanda sobre a Rádio Mille Collines.
Será que diante da recusa do ministério público e do
judiciário, muitas vezes cúmplices, de por termo a essa onda de ódio, vamos ter
que recorrer a instâncias internacionais? Reflitamos.
*Eugênio Aragão é ex-Ministro da Justiça
Via Jornal GGN
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