Parlamentares argumentaram que saída de Geddel não acaba com
a crise instalada no governo, motivo pelo qual não veem como o Congresso pode
votar medidas de ajuste que afetarão país por 20 anos.
Devido à turbulência política em torno da saída do ministro
Geddel Vieira Lima do governo, ontem (25), parlamentares da oposição se prepararam
para pedir o adiamento, na próxima semana, da votação em primeiro turno, no
plenário do Senado, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que congela
os gastos públicos por 20 anos. A matéria está na pauta para terça-feira (29),
mas a maior parte dos discursos desta tarde foi no sentido de convencer as
bancadas de que não há clima no país para a votação.
Geddel pediu exoneração do cargo durante a manhã desta sexta-feira depois de
toda a repercussão sobre o caso envolvendo uso do cargo por ele, para proveitos
pessoais referentes a um investimento imobiliário em Salvador.
O empreendimento
consistia na construção de um edifício no centro histórico da cidade que tinha
sido negada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan). Na semana passada, Marcelo Calero pediu demissão do cargo de ministro
da Cultura acusando o então secretário de Governo de pressioná-lo para o
Iphan liberar a construção.
Ontem, foi divulgado que Calero afirmou, em depoimento à
Polícia Federal que teria recebido também um pedido do próprio presidente
Michel Temer para que encontrasse uma saída no sentido de liberar a obra, na
qual Geddel tinha comprado um apartamento
Em meio à confusão, que levou à queda do ministro, um dos
principais defensores dessa possibilidade de adiamento da PEC, o líder da
minoria na Casa, Lindbergh Farias (PT-RJ), argumentou que a saída de Geddel do
governo não reduziu a crise pela qual passa o atual Executivo. E, diante da
expectativa de pedidos de impeachment do presidente Michel Temer a serem
protocolados a partir de segunda-feira (28), não considera possível a votação
de uma matéria que vai interferir na vida dos brasileiros por duas décadas.
“O episódio pode comprometer a votação da PEC. Temos
caravanas de trabalhadores viajando até Brasília para acompanhar essa votação
porque todos sabem da importância dessa matéria para a vida dos brasileiros.
Queremos colocar a crise no meio da discussão. Não é para fazer mera oposição,
mas porque achamos que se trata de um contrassenso discutir mudanças tão
radicais para a economia do país num momento como esse”, disse Lindbergh.
Desespero e culpa
Para o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), a saída
do ministro foi “uma demonstração desesperada de tirar o foco do presidente
Michel Temer, porque a crise já invadiu a sala da presidência”. “A queda de
Geddel foi uma tentativa de jogar carne aos leões para segurar o governo, além
do reconhecimento de culpa e gravidade do fato ocorrido”, acrescentou.
Na avaliação de Costa, o episódio caracteriza a existência
do que ele chamou de “articulação de uma estrutura organizada para defender
interesses privados”. “E isso caracteriza, sem dúvida, crime de
responsabilidade”, destacou.
Costa e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) também defenderam
o adiamento da votação da PEC. Segundo ambos, não há clima para a votação da
matéria. “O governo perdeu todas as suas condições políticas de continuar e não
permitiremos que seja votado um texto envolvendo tantas mudanças”, afirmou.
Na Câmara, os oposicionistas também se manifestaram de forma
firme e contrária à votação de qualquer medida de ajuste em meio à crise
política do atual governo. A deputada Margarida Salomão (PT-MG) afirmou que com
a saída de Geddel o Congresso precisa se dedicar, daqui por diante, a comprovar
e ouvir a suposta gravação feita pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de
conversas com o presidente Michel Temer – na qual ele teria sido pressionado
por Temer, conforme contou – para que sejam tomadas as devidas providências.
O deputado Bohn Gass (PT-RS) afirmou que a queda do ministro
“espelha com nitidez a verdadeira face imoral desse governo, que coloca o
interesse pessoal e privado acima do público”. Bohn Gass disse que “não
surpreende o fato de o governo Temer estar derretendo e que, em seis meses,
seis ministros tenham caído ou sido derrubados”.
Na visão do deputado, “quem dá sustentação a tudo isso são
os demotucanos, que ainda não caíram porque, sabendo com quem lidavam,
combinaram com seus amigos da grande mídia nativa uma blindagem prévia”.
O deputado Pedro Uczai (PT-SC) lembrou da rejeição, esta
semana, por integrantes da base aliada do governo, de dois requerimentos
apresentados nas comissões de Cultura e Comissão de Fiscalização Financeira e
Controle (CFFC) da Câmara, que pediam a ida de Geddel ao Congresso para se
explicar. “Por que a base do governo evitou esses requerimentos? Provavelmente
estavam querendo esconder alguma coisa”, ressaltou.
Para Henrique Fontana (PT-RS), somente a renúncia de Michel
Temer e novas eleições conseguiriam repactuar a democracia e “abrir caminho
para solução dos problemas do país”.
Apesar da mobilização dos parlamentares no sentido de
avaliar a conduta dos integrantes do governo e, ao mesmo tempo, trabalhar pelo
adiamento da votação das matérias previstas para a próxima semana, os
integrantes da base aliada reforçaram o discurso de que uma questão não deve
interferir em outra. “Temos votos suficientes para aprovar a PEC 55 e a
tramitação dessas matérias deve andar em paralelo ao trabalho legislativo,
porque nossa missão é ajudar o país e o andamento do nosso trabalho não deve
parar”, afirmou o senador Paulo Bauer (PSDB-SC).
Via - Portal Vermelho
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