Ex-presidente não teve plantão de repórter na porta de casa,
entrou e saiu da PF sem ser percebido e conteúdo de seu depoimento segue
mantido em sigilo. Prerrogativas negadas a Lula
Não teve circo, jornalistas correndo atrás do carro,
cobertura para TVs, não teve helicópteros e quase passou despercebido o
depoimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) na Polícia
Federal (PF), na sexta-feira (29)
A assessoria da PF explicou que FHC usou a prerrogativa
conferida a ele por sua condição de ex-presidente para sair de forma discreta
do prédio. A primeira pergunta inevitável. Por que não foi aplicada ao
ex-presidente Lula a mesma prerrogativa? Quando os policiais chegaram à casa de
Lula às 6h, repórteres já esperavam. Quando chegaram com Lula ao aeroporto,
repórteres os antecederam.
"Houve vazamento?" E nada vazou no caso de FHC?
O público só ficou sabendo – e mesmo assim por notinhas em
poucos sites de jornais – que o tucano prestou depoimento na sede da PF em São
Paulo, muito tempo depois de ele ter deixado o local. E se o conteúdo do
depoimento de Lula foi liberado para o bel prazer da "grande"
imprensa minutos depois – que fez dele mais um espetáculo, apesar de nada haver
contra Lula –, o depoimento de FHC está mantido em sigilo.
Em fevereiro, o Ministério da Justiça determinou à PF a
abertura de dois inquéritos para investigar as suspeitas de crimes cometidos
pelo ex-presidente envolvendo o envio de dinheiro ao exterior para a jornalista
Mirian Dutra, com quem ele teve um filho fora do casamento, por meio de um
contrato da empresa Brasif Exportação e Importação S.A
Mirian já afirmou para diversos veículos que o ex-presidente
assinou um contrato fictício com a empresa Brasif Exportação e Importação,
concessionária à época das lojas duty free nos aeroportos brasileiros para
enviar dinheiro para ela entre 2002 e 2006. Segundo a Brasif, a jornalista, que
vive na Espanha desde 1991, teria sido contratada para fazer análises de
mercado em lojas convencionais e de duty free. Miriam afirma que jamais pisou
em uma loja para trabalhar. Mesmo assim, recebia regularmente US$ 3 mil mensais
da empresa.
No começo de abril, em depoimento de mais de cinco horas à
PF, Miriam Dutra contou que, nos anos 1990, quando FHC presidia o Brasil, o
dinheiro era levado por um cunhado a Portugal, onde Mirian morava. Ainda de
acordo com esse relato, a jornalista passou a receber o dinheiro na forma de
crédito em conta quando foi viver na Espanha.
A outra "investigação" sobre a qual FHC foi
chamado a esclarecer trata da propriedade de imóveis no exterior, um
apartamento em Paris e outro em Nova York, que não teriam sido declarados por
Fernando Henrique à Receita Federal.
É lamentável a omissão da mídia brasileira em relação ao
episódio. A imprensa descumpriu seu papel básico de informar à população e
volta a desrespeitar o cidadão ao insistir em dar tratamento diferenciado ao
ex-presidente tucano. A omissão da imprensa, nos leva a pensar que a cobertura
da política brasileira não é equilibrada, como se espera de uma mídia
independente, como eles dizem ser.
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