Vestibulandos excluem WhatsApp e Facebook para intensificar
preparação.
Jovens querem ganhar tempo de estudo sem a distração dos
amigos.
Amanda, em auditório do cursinho Objetivo, em SP; ela tenta
pela terceira vez passar em medicina na Fuvest
(Foto: Will Soares/G1)
|
Will Soares
Do G1, em São Paulo
Estudantes não estão poupando esforços para conseguir êxito
na difícil missão de passar em uma universidade pública. Para intensificar os
estudos, jovens estão se desconectando das redes sociais na reta final de
preparação para o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e para os vestibulares
das instituições de ensino mais concorridas do país.
A jovem Amanda Jéssica Pereira, de 18 anos, é uma das que
adotou a tática. Estudante de escola pública, ela nasceu e cresceu no Maranhão.
Em 2013, veio a São Paulo morar na casa da avó para cursar o último ano do
ensino médio e prestar medicina na Fuvest. Nas duas primeiras tentativas, não
conseguiu. Agora, espera melhor sorte sem a distração das conversas pelo
WhatsApp.
Jovem é do Maranhão e foi a SP para tentar USP
(Foto: Will Soares/G1)
Soares/G1) |
“No primeiro vestibular fui muito mal. Primeira Fuvest da
vida. Não tinha ideia do que era. Em 2014, fiz cursinho e tava confiante de que
passaria. Saí chorando quando conferi meu resultado”, relatou.
Em seu terceiro vestibular, Amanda garante estar mais
preparada muito por conta da exclusão do aplicativo de seu celular.
“Não que ter ou não rede social vá definir quem passa. São
casos e casos. Tem gente que usa normalmente e passa, mas pra mim tava
atrapalhando muito. Eu ia dormir tarde porque à noite ficava no WhatsApp.
Depois que exclui, achei mais tempo pra ler e estudar o que faltou durante o
dia no cursinho”, afirmou.
Quem não gostou muito da ideia foram os pais da estudante.
Separados da filha por mais de 2 mil km, eles tinham no aplicativo uma forma
prática e econômica de manter contato e amenizar a saudade.
“Meus pais reclamam que não têm crédito e que fica difícil
conversar, mas falo pra eles que infelizmente não dá”. Segundo ela, os amigos
do Maranhão também compartilham da reclamação. “Eles falam que eu sou louca e
que não gosto deles”, lamentou.
O estudante Mauro César Oliveira, de 17 anos, é outro que
resolveu se desconectar do mundo virtual para aumentar os estudos. O
adolescente divide seu tempo entre as aulas do ensino médio regular e do
cursinho pré-vestibular. Com foco no curso de engenharia ambiental da Univerisidade
Federal do ABC (UFABC), ele decidiu apagar as contas do Twitter e do Facebook
para ganhar horas de preparação para seu primeiro vestibular.
“Resolvi excluir porque sei que não conseguiria conciliar.
Eu deixaria de estudar pra ficar no Facebook. Hoje, em vez de chegar em casa e
pegar o celular, eu vou ler alguma coisa”.
Perguntado se sente falta de acessar as redes, ele não
titubeou: “Falta nenhuma. No começo, sentia um pouco, mas agora fico o tempo
inteiro ocupado estudando”.
O jovem conta que, nas poucas vezes em que vê a namorada ou
amigos durante a semana, os encontros são marcados pela boa e velha ligação
telefônica. Além do maior tempo de estudo, Mauro também comemora outro
“benefício” de ter saído das redes: “Meu pai enche o saco no Facebook. Ele
vivia mandando coisas. Tinha até bloqueado”, confessou aos risos.
Exemplo de sucesso
Rúbia passou no vestibular após deixar as redes (Foto: Arquivo pessoal) |
A mineira Rúbia Resende, de 18 anos, é um exemplo de que a
"abstinência digital" pode render frutos. Em seu primeiro vestibular,
ela passou em 7º lugar no curso de letras da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais (PUC-MG) e garante: abandonar as redes sociais foi
imprescindível para alcançar o resultado.
A jovem excluiu Facebook, Twitter e Instagram. Em seu
smartphone, restou apenas o Whatsapp. O vício no aplicativo era tão grande que,
para não cair na tentação de verificar as notificações, ela conta que adotou
uma tática inusitada. "Em casa, eu sabia que iria ficar olhando, então
pedia pra minha mãe esconder a bateria do celular. Quando a rede social está do
lado, fica muito fácil cair na distração", contou.
Rúbia tomou a decisão ao fim do primeiro trimestre do 3º ano
do ensino médio. De acordo com ela, os três meses foram mais do que necessários
para perceber que não se concentraria nos estudos caso seguisse tão conectada à
internet.
"Meus amigos falavam que era besteira, que eu sou boba,
que estava perdendo um monte de festa, que tinha de viver... mas eu fazia as
coisas. Só não perdia tempo nas redes sociais. A gente não percebe quanto tempo
gasta nisso. Muitas vezes deixamos de viver os acontecimentos para poder ler
sobre eles no Facebook", acrescentou.
Depois de ser aprovada no vestibular, a estudante resolveu
voltar às redes. Ela, no entanto, afirma que sofreu menos do que esperava com a
"abstinência" e que a decisão de retornar ao mundo digital só
aconteceu porque queria divulgar seu trabalho em um site de crônicas.
"O primeiro dia [desconectada] é terrível, mas vai
ficando mais fácil com o tempo. Hoje, eu tento evitar ao máximo utilizar. Só
pra divulgação, mesmo. As pessoas ficam tão viciadas que deixam de interagir na
vida real. Parece papo de velho, mas é verdade", completou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário