A partir do século XV, Nigéria, uma nação da África
Ocidental, foi vítima de um intenso tráfico de escravos para a América que
fragilizou sua população para enfrentar com êxito séculos mais tarde a
penetração colonial da Grã-Bretanha.
Por Roberto Correa Wilson
No século XIX, Grã-Bretanha disputava com a França como os
dois poderes coloniais mais importantes pela amplitude de suas posses que
abarcavam todas as regiões do continente.
A invejável posição geográfica da Nigéria, cuja costa sul se
abre para o Oceano Atlântico, e com um subsolo repleto de recursos naturais por
explorar, era um país cobiçado pela Coroa Britânica.
NAS ORIGENS
O território da Nigéria tal e como se conhece hoje, foi
povoado na antiguidade por povos entre os quais os mais importantes e que ainda
mantêm seu preponderância foram os iorubás, os hausas e os ibos.
Os hausas ocuparam o noroeste e estenderam-se pelo vale do
Níger, formando no fim do século X uma confederação de Estados que se
islamizaram no século XIV. Os iorubás assentaram-se na costa e exerceram uma
grande influência sobre outros povos, incluídos os ibos.
Na ordem cultural são de significação particular as
magníficas talhas de madeiras, máscaras de grande elaboração, usadas nas
sociedades secretas. No sul do país, a importante cultura de Ife é de
relevância universal.
Os iorubás caracterizaram-se pela constituição das
comunidades camponesas urbanizadas e sobretudo por uma organização política que
se traduziu em uma espécie de monarquia semi-democrática.
O chefe ou Obá sempre se revestiu de um caráter sagrado,
exercendo a autoridade com a ajuda de sociedades secretas. Suas decisões eram
acatadas por todos os membros do conglomerado. Os hausas dedicaram-se à
agricultura e foram dinâmicos comerciantes que estabeleceram um amplo sistema
de intercâmbio em toda a região do Saara. Para o século XI criaram-se ao norte
das cidades estados hausas, centros fortificados nos quais se realizavam
trabalhos em ferro, couro e lã.
Segundo os historiadores, as mulheres tiveram um importante
papel na sociedade partindo de Dayrana, a legendária fundadora da cidade de
Daira. Em outro momento histórico, a atuação das mulheres seria muito
destacada.
Um povo, os fulba, invadiram pacificamente o território dos
hausas e instalando-se entre eles, ainda que não participassem na vida
política.
EUROPEUS
Os primeiros europeus que chagaram à costa africana foram os
portugueses em 1472. Por ordem do rei Manuel, os lusos interessavam-se na
abertura de uma rota comercial mais curta para chegar à Índia.
Os portugueses começaram uma prática mercantil baseada no
comércio de espécies. Os iorubás assentados nas zonas costeiras estabeleceram
relações comerciais com os lusos.
O tráfico de escravos foi iniciado por traficantes dessa
nação no século XV. Milhares de nigerianos - homens e mulheres - viram
despedaçados seus hábitos e costumes ao serem enviados para trabalhar como
escravos em plantações agrícolas no Brasil.
No século XVIII, o fulba Othman Dan Fodio levou a cabo uma
guerra santa contra o Islã e os animistas, atacando em 1804 os hausas e
iorubás. Estes últimos detiveram em 1808 a ofensiva de Othman.
OS BRITÂNICOS
O acontecimento bélico e a sangria humana que significou o
tráfico de escravos debilitaram enormemente a população iorubá e foram fatores
que facilitaram a penetração colonial da Grã-Bretanha.
No entanto, o objetivo dessa nação na Nigéria não era o
tráfico de escravos, mas a exploração de suas enormes riquezas naturais. Os
britânicos ocuparam Biafra em 1849 e estabeleceram uma base militar em Lagos,
capital do país.
A Conferência de Berlim de 1884-1885 reconheceu a Nigéria
como zona de influência britânica, se constituindo o protetorado de Lagos e o
de Oil Rivers, que estendendo para o interior se converteu em outro
protetorado, o da Costa da Nigéria em 1893.
Posteriormente, os britânicos criaram em 1914 o protetorado
da Nigéria mediante a unificação dos três anteriores, dando origem à entidade
colonial que constitui a atual Nigéria.
A população da costa foi a que mais resistência opôs à
penetração colonial britânica, sendo significativa a insurreição das mulheres
da tribo Aba em 1929. Grã-Bretanha respondia com sangrentas repressões ante as
reivindicações de independência ou manifestações de protesto.
A década de 1940 foi testemunha de levantes nacionalistas
que comoveram o oeste da África, tais como a greve dos ferroviários e a dos
estudantes. Em 1942, os britânicos proibiram as greves durante a Segunda Guerra
Mundial (1839-1945).
A presença britânica provocou enormes sofrimentos ao povo
nigeriano, que era mergulhado na miséria e na pobreza enquanto suas riquezas
partiam para a metrópole europeia.
O ódio acumulado contra o domínio e exploração da
Grã-Bretanha determinou que finalizado o conflito mundial cobrasse mais força a
luta pela independência nacional.
Os britânicos elaboraram várias constituições com o objetivo
de neutralizar os impulsos independentistas, mas não conseguiram seu fim. Em
1960 proclamou-se a independência, e em 1963 a República da Nigéria. A Coroa
britânica perdia uma de suas mais preciosas joias.
Via - Prensa Latina
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