"A direita brasileira sempre foi conservadora, elitista,
preconceituosa, antipopular. Chegou a defender o voto de qualidade, de tanto
ser derrotada por Getúlio Vargas, em que o voto do engenheiro valeria 10 e o do
operário (“marmiteiro”, como os chamavam), valeria 1. Defendiam o liberalismo
como sistema politico e o liberalismo econômico."
No Brasil 247
No golpe de 1964 se desmascararam e, em nome da defesa da
democracia, promoveram e apoiaram a pior ditadura que o pais já teve. A Globo
tornou-se o diário oficial da ditadura. A Folha emprestou carros para que a
Oban disfarçasse as ações de terror contra os opositores. Chegaram a um nível
de suma degradação.
Na redemocratização tentaram – e conseguiram – que ela fosse
apenas o restabelecimento das normas básicas do Estado de direito prévio a
1964, sem democratização econômica e social. Mais adiante apoiaram o Collor e o
FHC, com seus projetos neoliberais, uma vez, como na ditadura, como se fossem
os projetos de redenção do pais e não o que realmente foram, de retrocessos, de
estagnação e de exclusão social.
Mas conforme foram perdendo as eleições, 4 em seguida,
defendendo a restauração do seu modelo neoliberal, foram perdendo a compostura.
Agora querem o golpe, tirar o PT do governo do jeito que seja. Os fins
justificam os meios, como acusavam a esquerda de fazer.
Não importa que seja um processo comandado pelo Eduardo
Cunha e seus asseclas na comisso do impeachment. Em um certo momento se
sentiram constrangidos por ser Cunha renomadamente o politico mais corrupto do
Brasil. Houve um momento em que todos os lideres na Câmara pediam sua renuncia
à presidência, tal o nível de evidencia do seu envolvimento em processos de
corrupção e o seu nível de desprestigio.
Mas, de repente, não. Parecem não se constranger que um
politico assim, réu de vários processos de corrupção no STF, siga presidente na
Câmara e seja quem conduz o processo de impeachment da Dilma, uma presidenta
que não cometeu crimes de responsabilidade, não é réu me nenhum processo, Tem
sobre si acusações de praticas de todos os seus antecessores e da grande
maioria dos governadores, acusações feitas por um Tribunal Superior Eleitoral,
cujo presidente por sua vez, responde por crimes de corrupção.
Mas o próprio núcleo golpista tem em comum o fato de que
todos estão com reiteradas acusações de corrupção, o que os fazer acelerar o
golpe, para tentar, desde o comando do governo, reverter as deseseperadas situações
de políticos como Eduardo Cunha, Michel Temer, Renan Calheiros, Paulinho da
Força, entre outros réus de vários processos por corruptos.
Mas vale tudo, como dizia a telenovela com musica arrasadora
do Cazuza. Não importam os strip-tease morais nas manifestações, com os
cartazes mais imbecis e preconceituosos que o pais já conheceu. Não importa que
sejam os ricos contra os pobres. Não importa que ja não exista imprensa que não
seja partidária, porta voz militante do golpe, com o que esperam salvar da
falência irreversível suas empresas decadentes. Os jornais e revistas se
tornaram oficialmente órgãos dos partidos da oposição, panfletos sem nenhuma
credibilidade, sem nem sequer o disfarce de algum tipo de pluralismo.
Como expressões da degradação da direita brasileira, FHC
retoma suas teses dos “mal informados” nordestinos e volta a acusar o Lula de
“ignorante”. Cony e Gabeira compõem a reserva moral indecente da direita (da
qual até o Lobão quer cair fora.)
Não importa que a OAB, ao invés de proteger a democracia e o
Estado de direito, adira ao golpe. Não importa que a Fiesp de novo faça dupla com a OAB, como em 1964, para
promover o golpe a ditadura. Não importa que o Bolsonaro seja ídolo dos que se
manifestam pelo golpe e o Alckmin e o Aecio sejam enxotados da Avenida
Paulista.
Não importa que o impeachment sem crime de responsabilidade
seja golpe, nao importa que seja dirigido pelo Temer, pelo Eduardo Cunha, pelo
Renan. assessorados pelo Paulinho da Força e pelo Moreira Franco, contra o Lula
e a Dilma, que não são réus de nada. Não importa que o Aecio é campeão de
menções nas delações premiadas, que o Moro proteja escandalosamente aos
tucanos. Que a comunidade internacional ja denuncia do risco de golpe no
Brasil.
Agora a direita não tem nem o que propor que não seja a
restauração conservadora, a vingança contra os beneficiários das políticas do
governo e que sempre votaram contra ela.
E’ uma direita golpista, revanchista, sem pudor, que
representa o que de mais vulgar e corrupto que ja teve a política brasileira.
Que ja saliva como os ratos do Pavlov diante da possibilidade de repartirem
entre si o butim do Estado brasileiro.
Gerou-se a situação paradoxal em que Dilma, eleita pela
maioria do voto popular dos brasileiros, e Lula, o presidente de maior
prestigio da nossa historia e o maior líder popular ainda hoje, são atacados
pelo politico mais escandalosamente corrupto que o pais já conheceu, Eduardo
Cunha, em associação com o mais inexpressivo politico atual, Michel Temer, que
detém 1% de apoio nas pesquisas e não conta com a confiança de ninguém. Junto a
políticos todos processados, que parecem mais uma gangue disposta a assaltar o
Estado numa aventura típica de um pais bananeiro.
Mas as coisas não são tão simples para esse bando
inescrupuloso de políticos. Ainda tem vários passos que dar no plano
institucional, para acertar os tenebrosos interesses dos políticos e
economistas derrotados no caminho do golpe. E, principalmente, tem que se
enfrentar a um formidável movimento popular em ascensão, que voltara’ a ocupar
as ruas e praças do pais no dia 31, mas que não tem deixado passar um dia sem
grandes manifestações das distintas expressões da sociedade civil, de juristas
a artistas, de professores a intelectuais, de mulheres a jovens, que pacifica e
combativamente fazer ecoar o som mais popular e familiar para os brasileiros do
norte ao sul do pais: NÃO VAI TER GOLPE!
E tem ainda que se enfrentar ao único líder popular com
prestigio e confiança do povo, Lula. Uma combinação explosiva entre a liderança
do Lula, as mobilizações de rua e as manifestações da sociedade civil
organizada, compõe um mosaico de resistência com que tem que se enfrentar a
gangue de políticos, donos de empresas de comunicação, economistas, empresários
falidos, para conseguirem colocar em pratica o novo golpe contra a democracia.
Conseguirão, mesmo às custas de repetir as palavras do
politico da ditadura Jarbas Passarinho, “às favas os escrúpulos públicos”, para
assinar o AI-5, a aventura de voltar a destruir a democracia no Brasil? Como
reagirão às imensas e permanentes manifestações populares? Como reagirão diante
da impressionante liderança do Lula? No seu programa de restauração
conservadora não cabem as reivindicações populares que, ao contrario, eles
pretendem que sejam as principais vitimas do seu golpe e a conspícua e criminosa
presença do fracassado no governo FHC e derrotado nas ultimas eleições, Armínio
Fraga, revela os sinistros planos antipopulares e antidemocrático dos
golpistas. Políticos derrotados sucessivamente, corvos sedentos de ainda
desfrutar de algum cargo, mesmo através de um novo golpe, como Serra, Aécio.
FHC, Alckmin, entre outros, estão condenados ao mais fragoroso repudio popular.
Pensam incluir a Bolsonaro nos seus planos, para tentar um tinte popular, mesmo
que fascista?
Os golpistas compõem uma corja, uma gangue que reúne o que
de pior a política brasileira produziu nestes anos, com a mais degradada mídia
que o pais já teve, com banqueiros sedentos de mais sangue, que chamarão de
volta – como fez Mauricio Macri na Argentina – o FMI e suas cartas de mas intenções.
Tem, no entanto que combinar com o povo, que já demonstrou
não estar disposto a deixar lugar para que esse aventureiros e malfeitores
voltem a se apropriar do pais. Teriam que passar por cima do povo mobilizado e
combativo e da sua maior liderança, Lula. Não basta jogar pela janela os
escrúpulos. Isso bastava na ditadura. Agora tem que se enfrentar a um povo que
avançou nos seus direitos durante 12 anos, que conhece seus direitos e que sabe
contra quem conseguiu avançar e liderado por quem. As coisas não se apresentam
fáceis para essa nova direita golpista, por mais degradante que ela se
apresente. Provocaram o movimento popular brasileiro no que ele tem de mais
forte, na sua capacidade de defender a democracia, seus direitos e seus
lideres. Vão sentir todo o seu peso no dia 31 e todo o tempo em que seguirem
intentando seu golpe contra a democracia, contra o povo e contra o pais.
* Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais
sociólogos e cientistas políticos brasileiros
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